Em troca do apoio ao atual presidente da Câmara, petistas querem organizar bloco parlamentar que garanta comando da comissão mais importante da Casa legislativa
A federação formada por PT, PC do B e PV vai se reunir na tarde desta terça-feira para formalizar o apoio à reeleição do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O PSB deve fazer o mesmo. Com isso, o deputado alagoano passa a ter em torno de si 14 partidos e se consolida como o favorito para comandar a Casa por mais dois anos, a partir de fevereiro de 2023, quando ocorrerá a eleição para a Mesa Diretora.
O movimento do PT cria um ambiente de diálogo e facilita a aproximação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva com Arthur Lira, um dos líderes do Centrão e fiel aliado do presidente Jair Bolsonaro ao longo dos últimos dois anos. Lula e Lira já se reuniram uma vez, em Brasília, duas semanas após o petista vencer a eleição.
Em troca da declaração de apoio, o PT quer de Lira o compromisso de que ele não vai atrapalhar os planos da legenda para presidir a Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante da Câmara, no ano que vem. Para isso, o PT precisa integrar o maior bloco partidário da Casa, a quem é garantida a preferência na escolha das comissões. No início de cada ano, as legendas se unem em blocos para ocupar espaços de destaque nos postos da casa legislativa.
Nos bastidores, Lira já sinalizou que não vai atrapalhar as articulações do PT. O compromisso de não se mover já é relevante, já que o partido do deputado, o PP, deve formar um outro bloco, que tende a contar com o PL, sigla de Bolsonaro, que também está trabalhando ativamente para conquistar o comando da CCJ.
— Já conversei com 16 líderes e nossa ideia é formar um "bloco de governo" — diz Reginaldo Lopes (MG), líder do PT na Câmara.
Embora não admitam publicamente para evitar turbulências com um aliado em potencial, integrantes da bancada do PT têm a expectativa de que, a depender do cenário político, Arthur Lira possa até ajudar o partido nas negociações para formar o bloco mais numeroso, de modo que fique com a CCJ.
O PT compõe uma federação com PV e PCdoB. O modelo de coligação obriga as legendas a atuarem no Congresso como se fossem uma só, na prática, durante pelo menos quatro anos. No plano de formar o maior bloco da Câmara, além dos 80 deputados do PT, PV e PC do B, a ideia é agregar os partidos dispostos a integrar a base do governo Lula, como MDB e PSD.
O líder do PT, Reginaldo Lopes, articula esse grupo com representantes de outras legendas. Fontes da cúpula do PT ouvidas pelo GLOBO afirmam que é preciso formar um "bloco do governo" para garantir governabilidade na Casa e ter, de fato, uma base de sustentação para Lula. Se o PSD ou o MDB forem indicar ministérios, por exemplo, o ideal é que também façam parte do bloco do PT na Câmara. Essa condição está sendo colocada nas conversas com dirigentes.
Outro posto cobiçado no Congresso que pode entrar na mesa de negociação é a relatoria do Orçamento. O deputado indicado para o posto vai controlar as chamadas "emendas de relator". Na prática, é a ferramenta de execução do orçamento secreto, por meio do qual parlamentares indicam verbas da União a seus redutos eleitorais, em boa parte dos casos sem serem identificados. O União Brasil e os próprios petistas já manifestaram interesse pelo posto.
A oficialização do apoio dos petistas a Lira deve acontecer na tarde desta terça-feira após a reunião de parlamentares da federação.
PSB no mesmo caminho
Outro partido de esquerda que deve ingressar na órbita de Arthur Lira é o PSB, ao qual é filiado o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin. O GLOBO apurou que a legenda deve anunciar o apoio em conjunto com a federação do PT, nesta terça-feira.
O deputado federal José Guimarães (PT-CE) afirmou à colunista do GLOBO Bela Megale que o apoio dos petistas a Lira já está “explícito”.
Lira já recebeu o apoio formal do União Brasil (59 deputados), PP (47), Republicanos (41), PDT (17), Podemos (12), PSC (6), Patriota (4), Solidariedade (4), PROS (3) e PTB (1). Com PT, PV, PC do B e PSB, serão 14 apoios formais. O PL (99) e o PSD (42) ainda não anunciaram adesão formalmente.
O PSOL deve ser uma das exceções entre as legendas que caminham com Lula no movimento em direção ao deputado alagoano. A líder do PSOL, Sâmia Bomfim, disse que o Arthur Lira é responsável pelo avanço do bolsonarismo.
— Lira foi responsável pelo avanço do Bolsonaro e do bolsonarismo e segue sendo conivente. Parte dessa política, fundamental, de fato, é o orçamento secreto, que comprou uma base de apoio — diz a deputada. — Inclusive é por isso que o Lira praticamente corre sozinho como candidato do Centrão e da extrema-direita. Está tudo no mesmo pacote, a reeleição do Lira, o orçamento secreto e um pacto com os bolsonaristas.
Fonte: O GLOBO
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