Banco divulgou relatório que mostra ainda percentual da geração de caixa gasta com remuneração de conselheiros e o valor médio dos salários, por setor, e cita também algumas empresas

Um dos pilares quando se fala em ESG (sigla em inglês para questões ambientais, sociais e de governança) é a transparência sobre as práticas. No quesito governança corporativa, em especial. Para entender melhor como andam as práticas de remuneração das empresas do IBrX 100, índice da bolsa de valores brasileira, B3, composto pelas 100 ações com maior negociabilidade e representatividade na bolsa, especialmente ligadas a metas ESG, o Santander fez um amplo estudo chamado “ESG Thematic Report: Brazilian Companies' Compensation Practices” (“Relatório Temático ESG: Empresas Brasileiras Práticas de Remuneração”, na tradução livre).

'No caso do índice brasileiro IBrX 100, encontramos evidências de que 69% das companhias já estão incorporando métricas ambientais, sociais e de governança (ESG) em suas práticas de remuneração, o que é positivo na nossa visão'', comenta a Maria Paula Cantusio, analista de ESG do time de análise (research) do Santander no documento, acrescentando:

“Em setores como agricultura, siderurgia e mineração, e papel e celulose o percentual chega a 100%, enquanto setores como imobiliário (33%), não-financeiro (33%), educação e saúde (50%) ficam abaixo da média”.

Ainda que os dados do IBrX 100 sejam positivos, ressalva a executiva, que chegou ao Santander em 2020 para cuidar de temas ESG, ela menciona que somente sete companhias abrem dados sobre o percentual da remuneração de seus executivos que está atrelada a métricas ESG (em média 21%): Banco do Brasil, Braskem, Suzano, Vale, Telefônica, TOTVS e YDUQS.

O estudo traz ainda duas outras pesquisas correlatas com o tema da consultoria e auditoria PwC para corroborar os achados. Uma delas, global, mostra que 94% dos conselheiros das companhias e 68% dos investidores apoiam a adoção de métricas não financeiras nas práticas de remuneração das empresas.

Além disso, lembra de um terceiro levantamento, da Sustainalytics, que identificou que somente 3% das empresas de capital aberto na América Latina estão incorporando métricas ESG nas práticas de remuneração, enquanto na Europa o percentual chega a 17% e nos Estados Unidos e Canadá chega a 13%.

“Entretanto, quando consideradas empresas large cap, o percentual salta para 51% no caso do índice europeu FTSE 100 e para 57% no caso do índice americano S&P 500, de acordo com dados da consultoria Aon”, diz Maria Paula.

Valores de remuneração

O segundo ponto que o relatório do Santander analisa é o quanto do resultado operacional recorrente (EBITDA ou EBT) das companhias do IBrX 100 foi gasto em remuneração de conselheiros e diretores estatutários em 2021. Em média, esse percentual é de 2,1% do resultado operacional recorrente. Vale ressaltar que o percentual exclui empresas que tiveram resultado operacional negativo.

Os três setores que mais gastaram foram consumo discricionário (7,0%), educação e saúde (3,1%) e imobiliário (2,7%), enquanto os setores de siderurgia e mineração (0,1%), não-financeiras (1,0%) e papel e celulose (1,1%) apresentaram uma despesa abaixo da média do grupo avaliado.

- Falando de empresas especificamente, entre aquelas que tiveram resultado operacional negativo, destacamos que 98% do resultado negativo do Banco Inter veio de despesas relacionadas à remuneração de conselheiros e diretores, enquanto na CVC esse percentual foi de 13% e na Méliuz, 9% - comenta a analista.

No caso das empresas que tiveram resultado operacional positivo, Lojas Marisa (36,5%), Locaweb (14,5%) e Petz (8,3%) foram as que gastaram a maior fatia do seu Ebitda pagando conselheiros e diretores estatutários. Na outra ponta, Banco do Brasil, BB Seguridade, Bradespar, CSN Mineração, Eletrobras, Energisa, Gerdau, Vale, Petrobras, Sabesp e Telefônica gastaram apenas 0,1%.

Remuneração média

Um terceiro ponto analisado foi a remuneração média de conselheiros e diretores estatutários nas companhias do IBrX 100 e também quais setores e empresas pagam as maiores e as menores médias.

Em relação aos conselheiros, a média de remuneração foi de R$1,7 milhão em 2021, com os setores de agricultura (R$8,38 milhões), educação e saúde (R$ 6,61 milhões) e bancos (R$ 2,33 milhões) apresentando as maiores médias e os setores de utilities (R$0.27 milhão), real estate (R$ 0,57 milhão), óleo a gás (R$ 0,78 milhão) e tecnologia e telecomunicação (R$ 0,78 milhão) apresentando as menores médias.

Falando de empresas especificamente, Rede D’or, Raízen, Natura, Bradesco e Itaú Unibanco foram as que pagaram a maior remuneração média para membros do colegiado no ano passado, entre R$ 5 milhões e R$ 47 milhões. Na outra ponta, Banco do Brasil, BB Seguridade, Eletrobras, Iguatemi e Sabesp tiverem os menores valores, de R$ 70 mil a R$ 15 mil.

Por fim, fazendo recorte apenas pelos diretores estatutários, a média de remuneração foi de R$ 5,8 milhões ano passado, com os setores de consumo não-discricionário (R$ 8,79 milhões), papel e celulose (R$ 8,63 milhões) e educação e saúde (R$ 8,26 milhões) apresentando as maiores médias de remuneração. Por outro lado, setor imobiliário (R$ 3,38 milhões), indústria e transporte (R$ 3,82 milhões), e energia e saneamento (R$ 3,99 milhões) apresentaram as menores médias de remuneração.

- Falando de empresas especificamente, JBS, Eneva, Vale, Cosan e Rede D’or foram as que pagaram a maior remuneração média para seus diretores estatutários em 2021 (entre R$ 19 milhões a R$ 23 milhões), enquanto 3R Petroleum, WEG, SulAmérica, Sabesp e Eztec pagaram a menor remuneração média (entre R$ 200 mil a R$ 1 milhão) - finaliza Maria Paula.


Fonte: O GLOBO