Fabiano Silva é declaradamente contra a privatização da estatal. Já atuar em apps de transporte, diz, não está no radar
Nomeado no último dia 4 para comandar os Correios, o advogado Fabiano Silva promete “desmilitarizar” a estatal e lutar para que o projeto de lei de privatização, hoje parado no Senado, seja descartado. Ele quer priorizar a competitividade e a modernização da empresa, que, com o avanço do e-commerce, passou a conviver com novos competidores.
Segundo o presidente, haverá “inovações significativas” no portfólio dos Correios. Mas não está no radar atuar em aplicativos de transporte, ainda que o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, tenha sugerido que os Correios substituíssem a Uber se esta saísse do país.
Advogado e professor universitário, Silva trabalhou com Marinho, na primeira passagem deste pela pasta do Trabalho, e com Marta Suplicy, quando ela foi prefeita de São Paulo. Em 2015 ele se tornou um dos coordenadores do Prerrogativas, grupo de advogados que se notabilizou durante a Lava-Jato.
Ele estava no grupo que buscou Lula no aeroporto quando este deixou a prisão, em novembro de 2019. Na campanha eleitoral, o advogado ajudou a promover o primeiro jantar em que Lula e Geraldo Alckmin apareceram juntos. Depois atuou no governo de transição, no grupo de trabalho sobre previdência.
Lula mandou retirar os Correios do Programa Nacional de Desestatização. Está descartada a privatização?
Com a retirada da empresa do Programa Nacional de Desestatização, os Correios serão fortalecidos em seu papel de integrador nacional. Somos uma empresa pública, a única estatal a estar presente em todo o território brasileiro, que continuará dispondo a sua estrutura na universalização dos serviços postais.
Os Correios são fundamentais para o desenvolvimento do país e para a agenda governamental de inclusão e cidadania. Farei o possível para fomentar a missão da estatal como braço logístico do Estado.
E o que será feito com o projeto de lei que está no Senado?
Esse assunto será tratado pelo órgão supervisor, o Ministério das Comunicações, em conjunto com o Parlamento. Envidaremos todos os esforços para que o PL seja encerrado.
Bolsonaro nomeou muitos militares para os Correios, sobretudo para a cúpula. O senhor vai demiti-los?
Naturalmente, como todo processo de transição, a nova gestão fará alterações nas equipes, o que pode envolver substituições das funções de confiança. Houve uma saída de militares em dezembro e, ao assumirmos a gestão, substituímos os que ainda estavam atuando. Vamos desmilitarizar os Correios e fazer a empresa ser mais competitiva.
Que novidades o senhor quer implementar nos Correios?
Em 2023, continuaremos apoiando o comércio nacional e exterior com soluções práticas e acessíveis, além de inovações significativas no portfólio dos Correios, como entregas no mesmo dia; soluções logísticas completas para toda a cadeia de valor das empresas; ampliação da coleta e da rede de atendimento, com lockers e pontos de coleta; evolução dos canais digitais; simplificação do processo de exportação; mais rapidez, tecnologia e informação nas importações; e modernização dos sistemas.
Qual será sua prioridade à frente dos Correios?
Aumento da competitividade, modernização, ampliação de parcerias, melhorias na governança corporativa, valorização dos empregados e da educação corporativa, avanço na interlocução com os órgãos de controle externos e fortalecimento do papel dos Correios como integrador nacional e braço do governo federal.
O GLOBO revelou a existência de uma cartilha dos Correios, segundo a qual “conduta inconveniente” e “olhar sedutor” não configuram assédio sexual. A cartilha foi suspensa. Haverá alguma investigação sobre o caso?
A cartilha está em dissonância com a sensibilidade que o tema exige. Vou constituir um grupo de trabalho multidisciplinar para elaborar uma política pautada pelo enfrentamento de desigualdades dentro e fora da empresa, bem como no combate de todo tipo de assédio moral e sexual.
Não haverá mais espaço para naturalizar condutas que reproduzem uma sistemática de opressão de gênero ou raça. Nosso compromisso será em manter um ambiente plural, salubre e respeitoso.
O ministro do Trabalho sugeriu que os Correios substituíssem a Uber caso ela deixasse o país. É possível?
No momento, não temos nenhum projeto em andamento da estatal para atuar em plataformas de mobilidade de pessoas. Entretanto, sendo a maior empresa de logística do país, estamos atentos às mudanças do mercado e sempre a postos para operar com novas soluções logísticas.
Segundo estudos do governo anterior, os Correios investem até R$ 300 milhões por ano, enquanto o setor privado poderia investir R$ 2 bilhões. Como promover modernização com menos recursos?
Vamos continuar investindo em revisões de malhas logísticas, parcerias e otimização das atuais estruturas, com o desenvolvimento de novos modais de captação e entrega, como vem sendo feito nas novas propostas de canais lançadas recentemente.
Há algum novo mercado para os Correios explorarem?
Certamente vamos modernizar o portfólio e ampliar o leque de produtos e serviços. Um exemplo de diversificação bem-sucedida é o Correios Celular, que em 2022 foi o serviço de telefonia móvel mais bem avaliado pelo Prêmio Reclame Aqui e pela Anatel.
Fonte: O GLOBO
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