Lívia Mendes usou as redes sociais do pai para prestar uma homenagem ao político, que morreu no domingo (12)
A filha Amazonino Mendes, Lívia Mendes, usou as redes sociais do pai para prestar uma homenagem ao político, que morreu no domingo (12). O corpo do ex-governador do Amazonas chegou a Manaus na manhã desta quinta-feira (16) e será velado em cerimônia pública.
Lívia, que foi diretora-presidente da Fundação Municipal de Cultura (Manauscult) durante a última gestão do pai à frente da Prefeitura de Manaus, disse que Amazonino "provou ser um grande estadista, um político de vocação, como já não existe mais".
"Ele não está morto! Não como todos insistiam que seria. Não se "morre" a obra de tantas vidas. Vidas que couberam no coração desse grande Amazonense. Ao nascer nós choramos e ao partir nós dormimos. Ele dormiu e eu vim, como prometi, pra [sic] dizer que tá tudo bem. Que ficaremos todos bem e que tá na hora de parar de se preocupar. E isso não se estende só a nossa família, mas a todos os amazonenses que ele conheceu e procurou servir".
A filha de Amazonino também exaltou as obras do pai e o chamou de "homem forte, digno, amado e respeitado".
"Trouxe estradas, construiu casas, escolas e uma universidade pública, conseguiu cartão pras famílias antes do bolsa família ser realidade no Brasil. Homem forte. Meu pai. Digno, amado e respeitado. Ele sabia de tudo ao redor e se preparou pra isso. Nós também. Foi no tempo de Deus e não dos homens. Foi com dignidade, como todos nós, seres humanos merecemos partir".
Amazonino Mendes, ex-governador do Amazonas. — Foto: Divulgação/Redes sociais
Para ela, o político, nascido em Eirunepé e governador do Amazonas por quatro vezes, teve uma vida extraordinária, e quando chegou a hora de partir "se deixou levar pelo rio da finitude do corpo, para depois voar livre desse mundo difícil que tanto lutou por melhorar".
"[Ele] não deixou nada por fazer e nada por viver. Foi uma vida extraordinária para aquele caboclo do interior. Ele se provou um grande estadista, um político de vocação, como já não existe mais. Meu pai Amazonino Armando Mendes é para sempre o sinônimo do Estado do Amazonas. Da cor morena, do sorriso lindo, da esperteza das calhas, do peixe, da farinha, do "cozidão", das frutas que só a gente tem", afirmou a artista, que continuou:
" Papai, como as barrancas, se deixou levar pelo rio da finitude do corpo, para depois voar livre desse mundo difícil que tanto lutou por melhorar. Meu pai. A de Ama. A de Alma e M de muitos, pois nele habitavam engenheiros, médicos, juristas, contadores, arquitetos, poetas e ribeirinhos. Ele amava o Amazonas, como um pai ama seu filho.
Às vezes com a dureza que precisava ter para que vivêssemos o melhor de nós mesmos. A boa notícia é que a morte é passagem para um outro lugar. E portanto eu repito. Não se "morre" o que é eterno! Porque o amor fica, enquanto a alma se liberta".
Um político ímpar, diz especialista
Conhecido carinhosamente pela população amazonense como 'Negão, 'Abelinha', 'Mazoca' ou 'Nino', o político marcou gerações e entrou para a história do estado como uma figura querida por muitos, respeitada por outros tantos e criticada por quem achava que ele poderia fazer muito mais, afinal, como diria Maquiavel "tornamo-nos odiados tanto fazendo o bem quanto o mal".
Foram quatro vezes à frente do governo do estado, três vezes prefeito de Manaus e uma vez senador da república. A biografia, para o cientista político Carlos Santiago, é suficiente para tornar Amazonino Mendes um político que tão cedo não terá um sucessor pelo seu jeito singular de governar o Amazonas e o seu povo.
"Como aconteceu com Leonel Brizola, Miguel Arraes, Íris Rezende, Franco Montoro, Antônio Carlos Magalhães e outros tantos que não deixaram substitutos, Amazonino Mendes não deixa substituto. Ele deixa um legado de realizações, ousadia, muita simpatia, mas não deixa um substituto político, porque ele tinha um jeito singular de governar o povo do Amazonas", definiu.
O político deixa um legado de obras e de execução de políticas públicas nunca vistas antes no estado. Ele transformou o Amazonas em um canteiro de empreendimentos e entregou hospitais, escolas, rodovias, a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), o bolsa universidade e outros tantos programas sociais, de renda e habitação que beneficiaram grande parte da população.
Amazonino Mendes comemora durante uma de suas últimas posses como governador do Amazonas. — Foto: Reprodução/Rede Amazônica
"Ele era um político habilidoso, por isso foi tão longe em sua carreira. No momento em que o país enveredava para as privatizações, ele promoveu privatizações. Quando o país buscava o fortalecimento de políticas públicas, ele assim o fez, como a UEA, o bolsa universidade", diz o cientista, que continua.
"Ele foi o maior político do Amazonas depois da redemocratização do país. Não só porque criou uma geração de novos políticos, mas também porque criou um estilo próprio de governar, de pensar e de executar políticas públicas. Ele fez obras marcantes no estado, como o Bumbódromo, dentre outros. Ele qualificou milhares de professores ao curso superior e investiu fortemente na revitalização do Centro Histórico de Manaus, inclusive do Teatro Amazonas".
Além de governar com pulso firme o estado, Amazonino conquistou lugar cativo no coração de muitos amazonenses. Para o cientista político, a empatia com a população lhe permitiu ser um "político de casa".
"Ele tinha um carisma próprio, uma relação muito forte com a população, que fez com o que ele tivesse eleitores cativos ao longo de toda a sua trajetória eleitoral. E não é à toa que ele ganhou quatro eleições para o governo e duas eleições diretas para a Prefeitura de Manaus", finalizou.
Um legado para o futuro
Ao lado do vice Bosco Saraiva e aliados de campanha, Amazonino disse que irá se empenhar para ganhar a eleição — Foto: Adneison Severiano/G1 AM
Para o último vice-governador de Amazonino, o ex-deputado federal Bosco Saraiva, que esteve no cargo entre 2017 e 2019, o político tinha uma visão voltada para o futuro do estado, que se materializou no cuidado com o ribeirinho e com a criação da UEA:
"O Amazonino, ao lado de Plínio Coelho e Gilberto Mestrinho, configura a trinca dos grandes homens públicos das últimas décadas do estado do Amazonas. Ele sempre olhou para frente, olhou para o Amazonas no presente e no futuro. A preocupação com o homem do interior do estado e a busca da solução que ele materializou através da UEA, mostram isso".
Uma relação de pai e filho
Para muitos amazonenses, o ex-governador também foi um segundo pai. Como é o caso do assessor parlamentar Cristiano Loureiro, de 46 anos. Ele conheceu Amazonino em 2003, quando o político criou uma Organização Não Governamental para a formação de jovens políticos.
"Conheci o Amazonino em 2003 quando ele criou a Purangaw, uma ONG que, na época, era voltada para formação de jovens políticos nos bairros. Era um projeto idealizado por ele e realizado pelo professor Smorigo. Então, ele foi muito importante na minha trajetória.
Assessor político considerava Amazonino Mendes um segundo pai. — Foto: Divulgação
Esses anos todos realizei meus sonhos pessoais por causa dele, conheci lugares, coordenei grupos... Quando ele era prefeito, em 2012, eu era chefe do setor de informática da Secretaria de Assistência Social do Município e fui do Sistema do Bolsa Família Municipal para implantar em Manaus na época", contou.
Cristiano conheceu Amazonino logo após perder o pai. Desde o primeiro contato, viu na figura do político uma segunda referência paterna, assim como muitos amazonenses.
"Todos esses anos ele foi indiretamente o meu pai. O Amazonino, para nós amazonenses, foi e sempre será o maior político da história do nosso estado", finalizou.
O adeus
O corpo do ex-governador Amazonio Mendes chegou no fim da manhã desta quinta-feira (16) a Manaus, onde o político será velado. O avião que transportou o caixão saiu de São Paulo, onde ele faleceu, no início da manhã e pousou no Aeroporto Internacional Eduardo Gomes por volta das 11h30.
O cortejo seguiu do aeroporto para o Teatro Amazonas, onde acontecerá a cerimônia até o sábado (18). O caixão será posicionado no hall do teatro, para que familiares, políticos e a população em geral possam se despedir do ex-governador.
A previsão é que as primeiras homenagens no local comecem às 14h, e à princípio, seja restrita apenas para a família do político e autoridades.
A visitação do público vai ter início às 17h, desta quinta-feira, seguindo até as 5h da manhã do sábado, em regime de 24 horas.
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