Militar afirmou que não houve nenhuma decisão judicial para retirar golpistas anterior aos ataques
O general Gustavo Henrique Dutra de Menezes afirmou, em depoimento à Polícia Federal nesta quarta-feira, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva concordou com uma proposta sua para desmobilizar o acampamento montado na frente do quartel do Exército, em Brasília, apenas no dia 9 de janeiro. Segundo pessoas que acompanharam a oitiva, Dutra relatou ter falado com Lula por telefone na noite de 8 de janeiro, horas depois do ataques golpistas às sedes dos Três Poderes.
Dutra era o então chefe do Comando Militar do Planalto, posto do qual ele foi exonerado em fevereiro, sendo remanejado para um cargo de subchefia no Estado Maior do Exército (EME). Na ocasião, o general ligou para o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Gonçalves Dias, que passou o telefone a Lula.
Dutra, então, sugeriu que a operação de desmonte fosse adiada para a manhã seguinte — o que teria sido aceito pelo presidente. Naquela ocasião, integrantes do governo Lula, como o então interventor federal na segurança do DF, Ricardo Cappelli, defendiam que o acampamento fosse desmobilizado o quanto antes, o que acabou não acontecendo.
Uma tropa da Polícia Militar do Distrito Federal chegou a se posicionar na frente do QG, mas três blindados foram colocados na entrada da área militar. Em depoimentos anteriores à PF, ex-comandantes da PM-DF, como os coroneis Fábio Augusto e Jorge Naime, relataram que tentativas de desmobilização do acampamento foram frustadas por ação do Exército.
Dutra foi um dos 81 militares que prestaram depoimento nesta quarta-feira na Academia Nacional da Polícia Federal, em Brasília. Além dele, outros dois generais foram ouvidos pela PF — Carlos Feitosa Rodrigues, secretário de segurança e coordenação presidencial do GSI, e Carlos José Assumpção, ex-secretário-executivo do GSI. O Gabinete de Segurança Institucional era responsável pela segurança do Palácio do Planalto, que foi invadido pelos manifestantes golpistas em 8 de janeiro.
A PF montou um esquema especial para realizar as oitivas hoje, simultaneamente — 50 delegados foram escalados. Pela programação definida pela corporação, 43 militares foram ouvidos pela manhã, a partir das 8h, e os outros 38 a partir das 14h.
A maioria deles se dirigiu à PF sem advogado, e alguns foram prestar depoimento usando a farda militar. O Exército também forneceu dois ônibus e um caminhão para levar parte dos inquiridos.
General de divisão, Dutra de Menezes chegou à chefia do Comando Militar do Planalto em abril de 2022. Inicialmente, a mudança de área não estava prevista, mas a saída foi costurada para contornar crise política envolvendo o Palácio do Planalto e a caserna, segundo apurou O GLOBO. Na época da exoneração, integrantes da Força minimizaram o fato, dizendo se tratar de uma mudança comum e esperada.
Fonte: O GLOBO
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