Autoridade monetária não sinaliza queda da Selic na próxima reunião e volta a enfatizar preocupação com a piora das expectativas
O Banco Central ainda não indicou queda de juros na ata do Copom divulgada nesta terça-feira, mas reforçou como "menos provável" o cenário que poderia requerer a retomada do ciclo de aperto. Por três vezes, o texto pede “paciência” na condução da política monetária.
Na semana passada - primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) após a divulgação da proposta do governo de um novo arcabouço fiscal - o Banco Central manteve a taxa Selic em 13,75%, conforme o esperado.
Foi a sexta manutenção seguida neste patamar. A taxa básica de juros atualmente é o maior patamar desde novembro de 2016, quando a Selic estava em 14% ao ano.
No texto digulgado neste terça-feira, o Banco Central ressalta que segue "vigilante", observando ser a estratégia de manutenção juros altos por período prolongado "será capaz de assegurar a convergência da inflação".
"O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária. O Copom enfatiza que, apesar de ser um cenário menos provável, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado", diz a ata.
A autarquia, em linha com pronunciamentos públicos do presidente Roberto Campos Neto, diz que as expectativas de inflação seguem desancoradas, em parte, pelos questionamento sobre uma possível alteração das metas de inflação futuras.
Arcabouço fiscal
O Banco Central também voltou a dizer que a aprovação de um arcabouço fiscal sólido pode levar a uma melhora das expectativas, mas ressaltou, novamente, que não há uma "relação mecânica" entre a convergência da inflação e a aprovação do texto.
"O Copom novamente enfatizou que não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal, uma vez que a trajetória de inflação segue condicional à reação das expectativas de inflação e das condições financeiras", diz a ata.
" A materialização de um cenário com um arcabouço fiscal sólido e crível pode levar a um processo desinflacionário mais benigno através de seu efeito no canal de expectativas, ao reduzir as expectativas de inflação, a incerteza na economia, o prêmio de risco associado aos ativos domésticos e, consequentemente, as projeções do Comitê."
Inflação de demanda
Também por meio da ata divulgada nesta terça-feira, o Banco Central contestou a tese reiteradamente defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e integrantes do governo sobre a “inexistência” da inflação de demanda no Brasil.
A ala política do governo argumenta que os juros de 13,75% é "inexplicável" porque não haveria excesso de consumo da população brasileira. O BC tem se mostrado especialmente preocupado com o que chama de núcleo de inflação, e com a inflação de serviços.
Dividiu a queda do IPCA em dois momentos. O primeiro, mais rápido, já aconteceu. O segundo, mais lento, é que depende da melhora dos núcleos e da inflação de serviços, que são mais resilientes.
“Os dados inflacionários mais recentes corroboram a visão de um processo de desinflação mais lento, em linha com a visão de uma inflação movida por excessos de demanda, em particular no segmento de serviços”.
Inflação no segundo semestre
O Banco Central projeta continuidade na queda “relevante” no nível de inflação ao longo deste trimestre. Porém o BC espera uma subida no nível de preços no segundo semestre. A taxa que considera os últimos 12 meses ainda está com os efeitos de medidas de curto prazo adotadas no governo Bolsonaro, especialmente a desoneração de combustíveis.
Com a volta integral dos impostos federais sobre esses itens de consumo, a gasolina e o etanol ficarão mais caros, pressionando a inflação. Até o momento, o governo Lula adotou um retorno parcial à oneração. É esse cenário de médio prazo que o BC está incorporando nas perspectiva de inflação e, portanto, na decisão sobre juros:
“No segundo semestre de 2023, como os efeitos das medidas tributárias que reduziram o nível de preços no terceiro trimestre de 2022 não estão mais incluídos na inflação acumulada em doze meses e ainda se terá a inclusão dos efeitos das medidas tributárias deste ano, se observará elevação do mesmo indicador. O Copom, portanto, enfatiza que tal comportamento não reflete a dinâmica inflacionária subjacente e nem altera a visão sobre as perspectivas futuras”.
Fonte: O GLOBO
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