Reunião está marcada para próxima terça. Ministro de Portos e Aeroportos diz que, se controladora da concessionária do terminal ficar, deve pagar outorga no fim do mês
A concessionária RIOgaleão, controlada pela Changi, havia pedido um prazo de dez dias para decidir se permanece ou não com o terminal. Segundo fontes envolvidas nas discussões, a empresa quer mais tempo, até 30 de maio, para apresentar uma resposta definitiva.
O assunto foi discutido em reunião recente entre França, o CEO da RIOgaleão, Alexandre Monteiro, e representantes da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).
O ministro de Portos e Aeroportos afirmou ontem que o governo ainda aguarda documento da Changi com sua decisão. França explicou que, se a empresa decidir permanecer, terá que voltar a pagar a outorga que vence no fim do mês. Se a decisão for de devolver mesmo o aeroporto, o único procedimento existente é a relicitação, considerada uma opção muito demorada pelo ministro.
— Na verdade, não sabemos o que eles querem, se vão sair, ficar ou vender a participação para outra empresa. Nosso diálogo tem sido só com o CEO brasileiro — disse França, citando Alexandre Monteiro. — Tenho a impressão que a Changi não está disposta a continuar investindo, liberando novos recursos, apesar do nosso interesse que eles fiquem.
O ministro disse que uma das dificuldades é a falta de interlocução direta com executivos da Changi. Segundo França, está mantida para a próxima semana a reunião com o governador do Rio, Cláudio Castro, e o prefeito do Rio, Eduardo Paes, para apresentar medidas que possam aumentar o volume de passageiros, como as restrições a voos no Santos Dumont.
Impacto na economia
França afirmou à CBN que o governo tenta encontrar algum mecanismo para antecipar esse processo. E lembrou que outros casos de devolução de aeroportos levaram até dois anos. Ele já havia citado anteriormente a hipótese de a Infraero assumir o terminal até que ele possa ser relicitado. Indagado sobre o diálogo com os governos estadual e municipal, afirmou que, assim como a União, eles “estão torcendo para dar certo”.
Na última reunião, autoridades fluminenses apresentaram a proposta de restringir os destinos no Santos Dumont a São Paulo e Brasília e transferir os demais voos ao Galeão. Esta seria uma forma de aumentar o volume de passageiros no aeroporto internacional, que opera muito abaixo da capacidade. França afirmou na ocasião que analisaria a proposta. Até então, o governo federal havia sinalizado apenas uma possível redução no volume de passageiros.
O secretário de Desenvolvimento Econômico do Rio, Chicão Bulhões, disse que aguarda uma resposta do governo federal na reunião marcada para a próxima terça-feira e reforça o caráter de urgência para que esse entrave envolvendo o Galeão seja encaminhado:
— A gente espera o dia 16 para entender qual é a linha que o governo vai seguir, se vai ser a que resolve o problema ou se vai continuar com a política dos governos anteriores, destruindo o Galeão e outros aeroportos brasileiros.
Bulhões lembra que diferentes países desenvolveram políticas públicas de suporte aos seus sistemas de transportes no pós-pandemia, ajudando na recuperação de companhias aéreas em um momento delicado:
— Mas o governo brasileiro até o momento não tomou nenhuma medida nesse tema de política pública para o sistema aeroportuário brasileiro. Estão empurrando com a barriga, e todos nós vamos pagar o preço.
Expectativa para reunião do dia 16
Segundo Nicola Miccione, secretário de Estado da Casa Civil do Rio, o governo espera que a União anuncie medidas na reunião marcada para o dia 16 a partir das sugestões que foram entregues no último encontro com o ministro.
— O Estado defende a redistribuição de rotas, levando mais voos domésticos para o Galeão como medida de incentivo à retomada do fluxo e para atrair mais voos internacionais — diz.
Para Delmo Pinho, ex-secretário de Transporte do governo do Estado do Rio e assessor da presidência da Fecomércio, a solução para o Galeão passa por etapas. A primeira seria retirar passageiros do Santos Dumont e levá-los para o Galeão. A segunda seria adotar medidas de apoio. Ele afirma que a cidade do Rio perdeu 13 milhões de passageiros de 2014 a 2022.
— Trazer passageiros de conexões para o Rio de Janeiro ajuda, mas tem que haver estímulos econômicos — diz ele. — As companhias aéreas no Brasil estão num momento muito difícil, ainda estão começando a se recuperar. Você está mexendo com um ramo de negócio que tem que ter calma para poder organizar. Agora é um bom momento para começar a fazer isso, mas estamos num processo muito complexo.
Luis Strauss, presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagem do Rio (Abav-RJ), vê com pesar o esvaziamento do Galeão.
— Quando o Galeão ganhou a concessão, tinha um movimento de 15 milhões de passageiros, podendo dobrar para 30 milhões. Hoje, depois da pandemia, opera entre 7 milhões e 8 milhões. Enquanto isso, o Santos Dumont está cheio. Isso enfraquece a economia do Estado do Rio.
Fonte: O GLOBO
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