Em sua campanha para ter a indicação ao Supremo Tribunal Federal (STF) aprovada no Senado, o advogado de Luiz Inácio Lula da Silva, Cristiano Zanin, esteve com quase todos os senadores e grupos de deputados de vários partidos, mas deu especial atenção aos bolsonaristas.

Até com a bancada evangélica, majoritariamente refratária a Lula e a pautas da esquerda, ele se encontrou. Nessas conversas, disse diversas vezes considerar questões como a descriminalização do aborto ou do porte de drogas assuntos "do Legislativo" e procurou demonstrar ser um "homem de família".

O objetivo declarado dos encontros era tentar angariar um quórum favorável de no mínimo 50 votos entre os 81 senadores (são necessários 41 para a aprovação), mas havia também uma finalidade implícita nesses encontros: garantir que não haveria ataques "abaixo da linha da cintura" na sabatina que ocorre na manhã desta quarta-feira.

O advogado de Lula estava especialmente preocupado com perguntas a respeito de sua briga judicial com o sogro e ex-sócio, Roberto Teixeira, que foi quem o apresentou ao petista, além de menções aos processos trabalhistas movidos contra ele e a mulher por ex-funcionários – uma doméstica, uma babá e um gerente administrativo.

A briga judicial com Roberto Teixeira tem desde componentes pessoais como profissionais. Começou com uma briga familiar e hoje gira em torno de honorários advocatícios no valor de R$ 9,1 milhões em uma ação que o escritório de Teixeira e Zanin moveu em nome da Rede 21 contra a Igreja Universal do Reino de Deus.

No caso da ex-babá da família, as acusações são não registrá-la em carteira, não pagar horas extras e não permitir folgas nos fins de semana. No caso da empregada doméstica, Zanin chegou a ser obrigado pela Justiça a assinar a carteira de trabalho, em 2016.

Os casos chamaram a atenção dos senadores, mas tudo indica que a campanha do advogado entre os bolsonaristas surtiu o efeito desejado. Mesmo os que disseram que não votariam a favor de sua indicação prometeram "não partir para a baixaria" e ser "moderados", como Magno Malta (PL-ES).

A um interlocutor que procurou Malta a pedido de Zanin, o senador afirmou que o advogado poderia ficar tranquilo. "Os filhos dele poderão assistir à sabatina sem sentir que o pai foi agredido".

Na busca por uma sabatina suave, Zanin almoçou até com Damares Alves (PL-DF), que o elogiou. “ Gostei dele. Me despertou muita empatia. Mas ainda mantenho meu voto (contra a indicação)”, disse ela.

O advogado só não esteve com o ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro. Mas, por ora, também não há sinais de que Moro esteja preocupado com direitos de babás ou com a briga societária do candidato de Lula.


Fonte: O GLOBO