Maioria em comissão que apura ataques se mostra frágil, e votação de requerimentos pode desgastar governo

Ainda que tenha indicado a maioria dos integrantes da CPI dos Atos Golpistas, o governo tem pela frente o risco de aprovação nesta semana de requerimentos que podem causar desgastes políticos ao Palácio do Planalto. 

Nesse cenário, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vê sua tropa de choque no colegiado cada vez mais dispersa, com parlamentares da base privilegiando abertamente outros temas. Um deles, Omar Aziz (União-AM), diz que sequer está “interessado” no trabalho da comissão.

Um exemplo da desarticulação é a pauta de votações da sessão de amanhã, quando 285 requerimentos serão analisados, inclusive pedidos de informações de relatórios da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Trata-se de uma estratégia da oposição para tentar manter viva a tese de que o Planalto estava munido de dados sobre a possibilidade de ataques antes de terem acontecido, ao contrário do que dizem auxiliares de Lula.

Há na lista também a convocação do diretor da Abin, Luiz Fernando Corrêa, e do ex-diretor adjunto Saulo Moura da Cunha, que estava no comando da agência no dia 8 de janeiro. O ministro Flávio Dino (Justiça) também está na mira da oposição, que pretende ter acesso a imagens das câmeras de ministérios e do Planalto, assim como aos detalhes da viagem que Lula da Silva fez para Araraquara (SP) no dia dos ataques. Ele retornou a Brasília após os atos.

Em meio à artilharia na comissão, a indicação do advogado Cristiano Zanin ao Supremo Tribunal Federal (STF) e a tramitação do arcabouço fiscal dividem a atenção de governistas. Dois senadores da base são protagonistas nesses temas: Davi Alcolumbre (União-AP) é presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde Zanin será sabatinado, e Omar Aziz (PSD-AM) é o relator do marco fiscal.

Os dois parlamentares têm se ausentado das discussões do colegiado e não participaram da sessão que votou o plano de trabalho. Vice-presidente da CPI e também da base, o senador Cid Gomes (PDT-CE) tampouco esteve presente.

Alcolumbre é aliado do governo, mas não tem escondido contrariedade em relação ao veto do Ibama para explorar petróleo na Foz do Amazonas. Ele agiu em consonância com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e contribuiu para evitar que um senador governista presidisse a CPI. Alçado ao posto, o deputado Arthur Maia (União-BA) é visto como uma incógnita pelo Planalto.

As ausências de Alcolumbre e Cid resultaram em um reforço da oposição na semana passada, já que deram lugar para os senadores Sergio Moro (União-PR) e Izalci Lucas (PSDB-DF) participarem. O plano de trabalho foi aprovado por 18 a 12, uma margem menos confortável que a prevista.

Por meio da assessoria, Alcolumbre disse que não foi à sessão porque se tratava apenas da apresentação dos trabalhos, mas que pretende ir nas próximas. Aziz, por sua vez, não nega que tem deixado a CPI de lado:

— Sobre CPI, não me pergunte, porque não estou nem interessado. Estamos atrasados seis meses. A Polícia Federal já está investigando. Não tem nada de novo.

MDB dá de ombros

Da mesma forma, a bancada do MDB no Senado não considera a CPI um assunto prioritário e já reclamou da falta de estratégia do governo. Os senadores Renan Calheiros (AL) e Eduardo Braga (AM) desistiram de participar.

O partido escolheu de última hora os senadores Marcelo Castro (PI) e Veneziano Vital do Rego (PB). Castro é presidente da Comissão de Desenvolvimento Regional, que tem um volume grande de audiências públicas e projetos a serem analisados. Veneziano, por sua vez, sequer participou da reunião que instalou a CPI.

— Estou começando a desconfiar que não vai dar para conciliar — declarou Castro, também à frente da comissão da medida provisória de aumento do servidor público.


Fonte: O GLOBO