Brasileiro indicou que pode não ir ao encontro de Bruxelas, o que pode esvaziar evento entre Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) e União Europeia (EU)

Lideranças europeias, em paralelo à segunda visita do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao continente, que começa hoje no Vaticano, atuam para convencer o brasileiro a participar de uma cúpula entre Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) e União Europeia (UE) prevista para o mês que vem, em Bruxelas. Além disso, pretendem acelerar o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul.

No encontro em Brasília com a presidente da Comissão Europeia , Ursula von der Leyen, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou que não pretende comparecer à cúpula. Respondendo à pergunta de Ursula se iria estar presente na reunião dos líderes da América Latina e da Europa, Lula respondeu que, se ele não for, seu vice-presidente, Geraldo Alckmin, irá no seu lugar.

Os europeus entenderam que Lula pretende não ir e trabalham agora para convencer o presidente a participar, já que sua ausência diminuiria o prestígio da cúpula, por o Brasil ser o principal país latino-americano. A decisão poderia inclusive incentivar outros líderes regionais a não viajar para Bruxelas.

O encontro de Lula com von der Leyen foi agradável e transcorreu em tom amigável e cordial, mas a visita não foi simples, dizem funcionários que participaram dos preparativos. A ideia inicial era que Lula e a presidente da Comissão Europeia tivessem um almoço e ele a recebesse na rampa do Palácio do Planalto, mas Lula mudou de ideia, e os planos foram alterados.

Funcionários que acompanham a agenda de viagens afirmam que a razão pela qual Lula não viajará é a alta frequência de compromissos internacionais, o que estaria sobrecarregando o presidente. Lula também delegou a Alckmin que o represente na Cúpula dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que acontece no mês que vem em São Tomé e Príncipe.

Negociação dificultada

A ausência de Lula na cúpula dificultaria, no entanto, a negociação do acordo de comércio do Mercosul com a União Europeia, que os europeus pretendiam fechar agora e já estenderam o prazo para o fim do ano.

Há desentendimentos entre os países. Enquanto o Brasil gostaria de rever o trecho do acordo cujo texto foi finalizado em 2019 para restringir a possibilidade de abertura do país para compras governamentais, os europeus querem rediscutir a cláusula ambiental. A União Europeia aprovou recentemente duas leis ambientais que dificultariam a execução das cotas previstas no acordo para o Brasil exportar produtos agrícolas, o que diminui o entusiasmo do setor do agronegócio.

Outro empecilho é que as eleições na Espanha, previstas para julho, podem tirar da mesa de negociação um dos atores europeus mais favoráveis ao fechamento do acordo, caso haja mudança de governo. O país ocupará a presidência do Conselho Europeu a partir de julho, e o pleito que pode trocar o comando espanhol acontece logo depois da Cúpula em Bruxelas.

Dentro do governo o ambiente para finalizar o acordo ainda neste ano também não está bom. O Ministério da Gestão, o do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, o da Saúde e a Secretaria-executiva da Casa Civil tendem a se posicionar de maneira contrária ao acordo nos termos em que ele foi fechado há quatro anos. Já os ministérios da Agricultura e Pecuária, do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e do Ministério do Planejamento e Orçamento são favoráveis.


Fonte: O GLOBO