Capitã do Vakifbank e da seleção brasileira, ela mantém cardápio até na Tailândia, onde o Brasil enfrenta a Turquia: jogadora faz a própria tapioca no quarto, com frigideira e cooktop portátil

Gabi, capitã da seleção brasileira de vôlei e considerada a melhor ponteira do mundo, tem a missão de liderar suas companheiras de volta às vitórias. Após uma derrota inédita para o Canadá, ontem, por 3 a 2, o Brasil enfrenta a Turquia hoje, às 10h30 (horário de Brasília; com Sportv2), em Bangkok, na Tailândia, pela terceira etapa da Liga das Nações. 

Se vencer por qualquer placar se garante entre as oito equipes que disputam a fase final da competição, nos Estados Unidos. Gabi é uma das estrelas do Campeonato Turco e após temporada perfeita em 2022, quando ganhou todas as competições disputadas, voltou a brilhar no Vakifbank, com destaque para mais um título da Champions Legue e da Copa Turca.

— Meu grande objetivo é, quem sabe, conseguir vencer tudo, da Liga das Nações à Olimpíada. E temos condições. — diz Gabi, que explica o porquê dispensou férias entre a temporada do clube e a da seleção. — Preferi me apresentar logo à seleção para dar continuidade a um tratamento no joelho esquerdo com a comissão técnica brasileira. Deu tudo certo e pude estrear nesta semana na VNL.

Gabi convive com um desconforto no joelho esquerdo e logo após a Champions League, quando a capitã do Vakif foi a estrela do time, com 71% de aproveitamento no passe e 15 pontos na decisão, viajou para a Espanha para o tratamento de EPI (Electrólise Percutânea Intratecidular), o mesmo usado na recuperação de inflamações dos atletas da Inter de Milão, Manchester United, Atlético de Madrid, Barcelona e outros. 

O tratamento não é evasivo: consiste na aplicação de uma combinação de correntes, unicamente no local da lesão, através da punção de uma agulha, sendo o procedimento guiado por ecógrafo.

Ela contou ao GLOBO, por videoconferência, que sentiu uma fisgada no joelho na semifinal do Mundial de Clubes, em dezembro, e precisou parar durante o mês de janeiro. Voltou a sentir dores e, com o final da temporada de clubes, repleta de jogos, estava com uma inflamação importante no local.

— Foi bem desgastante. Mesmo assim, falei para o Zé Roberto que queria estar perto do grupo, continuar minha recuperação com a seleção. Tive uns nove dias de férias e tudo ótimo — contou a jogadora. — Eu realmente gosto de estar aqui, gosto do grupo. Claro que as competições com o clube são importantes e eu adoro, mas a ansiedade é por vestir essa camisa da seleção brasileira.

No topo

Quando se encerrou a temporada de clubes de 2022, Gabi comemorava um ano perfeito, com a conquista de todos os títulos disputados com o Vakifbank, incluindo o Mundial de Clubes e a Champions League (este último foi MVP). E Gabi conseguiu repetir temporada de destaque, mesmo sem gabaritar nas competições.

Segundo o técnico José Roberto Guimarães, ela é a melhor do mundo na posição e se mantém nesta condição não apenas pelo que faz em quadra. Mas também, pelo exemplo. Ele diz que Gabi "atingiu um patamar que poucas conseguem" e por isso é admirada no mundo inteiro. Algo que destacou como "não ser é tão simples assim".

Perguntada sobre esta condição, Gabi diz que prefere focar no dia a dia:

— Deixo para outras pessoas comentarem isso, porque meu objetivo não é esse. O que sempre digo e é a maior verdade é que a minha disputa é comigo mesma, quero melhorar a cada dia, a cada temporada. Quero me desenvolver, ter um papel melhor no clube e na seleção. 

É isso que me importa — comenta a ponteira que completa o raciocínio: — Tenho muito a melhorar, apesar de perceber evoluções nos pequenos detalhes. Quando se melhora 1% nas pequenas coisas, a grande evolução aparece. 

Estou sempre na busca de evolução em todos os fundamentos. Mais do que pontuar muito ou ser efetiva em algo específico, busco repetir jogadoras que conseguiram manter essa consistência de jogo como a Larson, Jaqueline, Fernanda Garay, Sassá, Natália. Todas foram importantes não apenas em uma função.

A ponteira explica que no ano passado tinha como meta pessoal ver uma transformação rápida de recuperação física. 

Ela atribuiu grande parte do sucesso à mudança de rotinas do dia a dia, entre elas, passou a ter mais e melhor tempo de sono, dieta com restrição total de açúcar e farinha brancos e diminuição de carne vermelha. Gabi também aumentou trabalho de mobilidade e alongamento, e incluiu cuidado com a parte mental e da respiração. A ioga e a meditação entraram na rotina.

Ela conta que usa o “Oura Ring”, um anel que monitora o sono, temperatura corporal, batimentos cardíacos e outros indicativos. Diz que tenta dormir sempre no mesmo horário e ter sono de pelo menos oito ou nove horas.

O anel é velho conhecido de atletas da NBA e do futebol. É que Gabi passou a acompanhar grandes jogadores, de diferentes modalidades, para entender como turbinavam suas performances. Esmiuçou os hábitos de Cristiano Ronaldo, Neymar, Roger Federer, Rafael Nadal, LeBron James e ainda atletas do triatlo e do Ironman.

— Percebi que meu corpo reagiu muito rápido. Tenho 1,80m e meu esforço físico é grande, preciso de explosão. E quando algo dá certo, não se mexe. Mantive a rotina e cortei alimentos que causam inflamação, como derivados do leite.

Para ser fiel ao cardápio que lhe ajuda na recuperação muscular, passou a viajar com uma frigideira, um cooktop portátil e cinco quilos de goma de tapioca na mala. Ela despacha tudo. Explica que assim evita o consumo de pães e queijo principalmente no café da manhã.

— Agora sempre viajo com a minha frigideira. Trago tapioca, vou no mercado e compro ovo. Faço no quarto mesmo. Desta vez faço para mim e para a Thaísa, que divide o quarto comigo. Mas posso fazer para quem quiser. Custa R$ 15 — brinca a atleta que não cede a pedidos de recheios diferentes: — Mas não dá para pedir muito, é natureba. Só com ovo, sem queijo e sem Nutella.


Fonte: O GLOBO