Carreira do ex-juiz foi marcada por jogos polêmicos entre Palmeiras e Corinthians na década de 1990

Aos 71 anos, o ex-árbitro José Aparecido de Oliveira morreu nesta terça-feira em São Paulo. A notícia foi confirmada pela funerária responsável pelo enterro e sepultamento, marcados para esta tarde, 20, em Santo André, região metropolitana de São Paulo. Zé Aparecido fez parte do quadro de árbitros da Fifa e foi integrante do TJD de São Paulo. A causa da morte ainda não é conhecida.

Com atuação mais frequente no estado de São Paulo, o ex-juiz ficou marcado pelas polêmicas dentro de campo. Em especial, nos clássicos entre Palmeiras e Corinthians, que em 1991 terminou com a expulsão do ex-jogador e hoje comentarista esportivo Neto. Ao sair de campo, ele cuspiu no árbitro e recebeu quatro meses de suspensão, e, recentemente, lamentou o ato no podcast Mano a Mano, apresentado pelo rapper Mano Brown.

— Foi a maior covardia que eu já fiz. Fui covarde, sujo e racista. Se fosse branco eu cuspiria? Não. Quando eu cuspi, no Zé Aparecido, eu cuspi em um árbitro, negro e ele se f..., perdeu mais do que eu. O Neto ganhou para as pessoas. Não, eu fui o covarde, eu que tinha que pedir o perdão, para ele e para deus. Eu pedi e ele me perdoou — contou o ex-jogador.

Em uma entrevista ao Uol em 2016, Zé Aparecido contou que acha Neto "hoje um excelente comentarista, ele fala o que o torcedor, o que o povo quer ouvir, é muito corajoso para dizer o que pensa, coisas que poucos têm. Ele teve a grandeza e a humildade de reconhecer que errou... Pediu desculpas e a vida segue."

Ainda sobre outras episódios questionados por torcedores, José Aparecido foi o árbitro da final do Campeonato Paulista de 1993, que terminou com a goleada de 4 a 0 do Palmeiras sobre o Corinthians e seis expulsões, três para cada lado. Ele recebeu ameaças de morte e precisou andar com seguranças depois do caso.

— Eu sofri várias ameaças. A minha família teve que sair de São Paulo pelo menos por uns dez dias, teve que viajar, porque causava medo, sabe? Tem louco aí para tudo, então deixou a gente um pouco assustado. Eu tive respaldo não só da FPF como também do banco Banespa... Eles ameaçavam via telefone, falavam: "A gente vai te matar, a gente vai explodir o banco, você vai ver a hora que você sair daí, na hora que você for almoçar". Eu precisei andar vários dias com segurança, ligavam à noite.. — contou na entrevista ao Uol.

Em 1995, Zé Aparecido foi diagnosticado com um câncer de estômago. Ele passou por uma cirurgia, na qual levou 23 pontos na barriga e também fez tratamento com quimioterapia, e depois de cerca de um ano, estava curado da doença. Em entrevista ao site Apito Nacional, o ex-árbitro falou sobre o ressentimento pela FPF não ter prestado apoio durante a doença.

— Eu fiquei internado e quem é que foi me ver? Ninguém. Quem me ajudou foi a minha mãe, a minha família. Eu fiquei muito triste com isso ai. Eu me afastei do futebol e você nunca mais me viu em lugar nenhum. Para muita gente o Zé Aparecido morreu. Para muita gente o jogo do Corinthians com o Palmeiras enterrou o Zé Aparecido. Pelo contrário, eu fiquei doente.

Em 2022, uma reportagem da TV Record denunciou um caso de importunação sexual cometido por um idoso contra uma mulher no centro de São Paulo. A emissora não identificou o ex-árbitro, mas o site Blog do Paulinho afirmou que o suspeito se tratava de Zé Aparecido. 

A matéria contou com imagens de câmeras de segurança do momento, e revelam a reação da vítima após ser abordada pelo homem. Ela procurou ajuda policial e o suspeito foi levado para uma delegacia, onde prestou depoimento e foi liberado.

— Ele estava andando, como se estivesse olhando para trás, distraído. Ele veio para cima de mim e passou a mão no meu órgão genital. No momento que ele fez isso, eu já virei e fui confrontar ele, e ele agiu como se tivesse apenas esbarrado, como se não tivesse feito nada. Eu não sei se é encostando ou se é falando alguma coisa, mas ele é conhecido por fazer isso — afirmou a mulher.


Fonte: O GLOBO