Startup levantou um segundo aporte com o grupo de investidoras-anjo Sororitê

Cartas deixadas de lado, ligações constantes de número desconhecido frequentemente ignoradas. Para um país que vive um superendividamento, com 70 milhões de pessoas com nome sujo na praça, a forma de atuação dos escritórios de cobrança não poderia ser menos eficiente.

— Ninguém gosta de dever, as pessoas sofrem com isso. E falar sobre a sua dívida por telefone com um estranho é constrangedor — diz Tatiana Pomar, CEO e co-fundadora da Sofi, uma plataforma de cobrança que usa inteligência artificial e muita empatia para cobrar dívidas.

A Sofi trabalha com grandes clientes como Avon e Natura, Porto Seguro, Yduqs e Cogna Educação, e inverte a lógica da abordagem negativa da cobrança para oferecer uma solução para limpar o nome, com um discurso mais empático de inclusão financeira. 

A startup também evita o constrangimento levando o cliente para uma plataforma que funciona 24/7, onde é possível simular o parcelamento e os descontos de forma simples, sem interação humana. A abordagem usa inteligência artificial para identificar o canal ideal de comunicação para cada perfil de cliente: WhatsApp, SMS, email e até por meio de anúncios nas redes sociais.

Os clientes costumam acessar a plataforma para fazer acordo a qualquer hora do dia ou da noite — 49% faz isso fora do horário comercial, muitas vezes de madrugada e aos finais de semana.

Na abordagem tradicional, o escritório de cobrança está proibido, pelo código do consumidor, a ligar para o cliente no horário de descanso. — Os escritórios insistem em ligar para tentar recuperar crédito, mas 94% das ligações não identificadas não são atendidas — diz Tatiana, que é filha de uma advogada que já teve um escritório de cobrança e também trabalhou em grandes empresas do setor.

— A gente não força ninguém a pagar. Mas partimos do princípio de que, no fundo, todos querem pagar e se ver livre de uma dívida. O segredo é conseguir atrair a atenção com uma oferta certa que cabe no bolso —.

A startup acaba de receber um segundo aporte, de R$ 470 mil, da Sororitê, grupo de investidoras-anjo que já investiu R$ 5 milhões em 14 empresas fundadas e lideradas por mulheres. Desde a sua fundação, em 2020, a startup levantou US$ 950 mil, sendo US$ 800 mil com investidores anjo e US$ 150 mil na forma de doação pelo trabalho de inclusão financeira. A abordagem positiva e as taxas de sucesso na recuperação do crédito rendeu a Sofi alguns prêmios, como o Inclusive Fintech 50.

A empresa vem quintuplicando de tamanho a cada ano e está próxima tornar seu fluxo de caixa positivo.

Tatiana teve a ideia de criar a Sofi durante um MBA na área de crédito e escolheu o Uruguai para lançar a operação. Lá, contou com incentivos de um laboratório de inovação e conheceu o sócio e co-fundador, Leonardo Paladino . — No Uruguai é mais fácil testar e as startups já nascem com essa cabeça de internacionalização. O mercado brasileiro é tão grande que a gente acaba não saindo do país. Mas queríamos construir um negócio escalável e com potencial de internacionalização — diz.

E o teste se deu com o Peru, onde a Sofi chegou para atender a Natura e a Avon. — Em um ano, com uma operação 100% digital, mais do que dobramos a taxa histórica de recuperação de crédito e conseguimos validar a tese de que é possível escalar sem uma presença física — diz ela.

A Sofi trabalha com uma taxa de sucesso sobre o valor recuperado de grandes empresas. Para o ano que vem, a empresa vai lançar um modelo de assinatura para pequenas empresas, num processo de contratação totalmente digital.


Fonte: O GLOBO