Buscas por viagens para Paris já superam as para Miami. Para analistas, turista busca experiência imersiva e vivenciar cultura de outros países

A temporada de férias em 2023 está impulsionando o setor de turismo, na medida em que os brasileiros transformam em realidade o sonho de conhecer destinos internacionais. Dados de empresas de viagem, como a CVC, revelam aumentos de até 71% na procura por outros países, com destaque para a Europa.

O continente caminha para ser o destino favorito dos brasileiros, que estão deixando de lado o turismo voltado ao entretenimento e consumo para visitar lugares com vasta oferta cultural e bons restaurantes.

Segundo dados da CVC, Lisboa, Paris, Londres, Barcelona e Roma estão entre os destinos mais procurados. E Paris já ultrapassou Miami no ranking de cidades mais buscadas. Na Decolar, Lisboa, Paris, Madri e Porto constam nos locais mais procurados para compra de passagens aéreas.

Para especialistas, depois da pandemia, os turistas passaram a dar prioridade a experiências imersivas: não querem apenas fazer compras, mas conhecer a cultura local.

‘A cultura me encantou’

Para Marina Figueiredo, presidente executiva da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), os viajantes não querem mais apenas carimbar o passaporte, mas viver a experiência de conhecer de fato outros países:

— Quem vai para a Europa busca cultura, gastronomia. É um público viajante mais maduro ou formado por jovens que querem descobrir o mundo, conhecer coisas novas.

A Associação Brasileira de Agências de Intercâmbio (Belta) disse que está havendo um aumento no número de estudantes indo para Europa, principalmente porque muitos países do bloco não exigem vistos para estadias de curta duração, facilitando o acesso a cursos rápidos de idioma. Em 39,4% dos casos, os brasileiros buscam experiências que duram até um mês.

Destinos como Reino Unido, Malta e Espanha subiram no ranking dos mais buscados, segundo levantamento da associação, considerando dados de 2019 e 2022. Aluno de Arquitetura da UFRJ, João Lopes, de 21 anos, retornou ao país , após dez meses de intercâmbio na Espanha.

A vontade de aprender uma nova língua e o interesse pela cultura foram decisivos para a escolha do destino. Por isso, não perdeu tempo: matriculou-se em um curso de espanhol e começou a juntar dinheiro. Mas não bastava determinação. Brasileiros não precisam do documento para visitas de curta duração (três meses). Só que João ficaria mais tempo, então era necessário um visto de estudante.

A etapa foi definida pelo jovem como a mais complicada, por conta do volume de documentação, da rigidez do consulado e dos gastos inesperados, como a autenticação da papelada. Foram quase dois meses até ter o documento em mãos.

— O meu visto saiu com poucos dias de antecedência da viagem. Mas valeu a pena. Aprendi espanhol e inglês, porque há muitos estrangeiros, e a cultura me encantou — lembra.

A família de Dimitre Vieira, de 36 anos, desembarca em Londres em dezembro. Ele quer comemorar o aniversário de casamento. Agente de turismo, ele diz que costuma pegar o avião com frequência. Todos os passeios são planejados minuciosamente:

— Não iríamos viajar, porque vamos fazer a festa de 15 anos da minha filha no ano que vem. Fiquei mais de um mês procurando datas e promoções. E consegui.

Compensar o isolamento


Dono de uma agência de viagem há mais de dez anos, Vieira observa que a demanda reprimida por viagens durante a pandemia foi responsável pelo aumento das buscas por pacotes, seja para destinos nacionais, seja para o exterior.

— Fevereiro, que é a época em que começa o inverno europeu e costuma ser vazia, por exemplo, parecia alta temporada. Era gente para tudo que é lado, nunca vi algo dessa forma — lembra.

Antes do Reino Unido, ele vai fazer um tour em outubro que começa na Polônia e passa por Lituânia, Letônia, Estônia e Finlândia.

— A pandemia prendeu a gente por muito tempo — diz.

Esse movimento é chamado de “turismo de vingança” por especialistas, com as pessoas buscando compensar o tempo perdido em dois anos de isolamento social. Fora a Europa, a procura tem crescido como um todo para viagens ao exterior. No balanço mais recente da CVC, do primeiro trimestre, consta aumento de 71% na demanda de viagens internacionais em relação a 2022.

As reservas para destinos internacionais, de janeiro a março, representavam 58% das reservas confirmadas. No mesmo período em 2022, a taxa era de 49%.

Já um levantamento da Associação Brasileira de Agências de Viagens (ABAV) mostra que 48,2% das agências aumentaram o seu faturamento em 50% entre janeiro e março, na comparação com o mesmo período de 2022.

— Quando as pessoas carimbam seus passaportes com os selos dos principais destinos, elas passam a buscar lugares diferentes — explica Figueiredo, da Braztoa. — É o amadurecimento do viajante. Vemos um aumento na procura também por lugares alternativos, como o Egito, por exemplo.

Mesmo assim, de acordo com os dados mais recentes da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o número de turistas brasileiros ainda não atingiu os níveis pré-pandemia. Em maio de 2023, houve redução de 250 mil pessoas frente ao mesmo mês de 2019.

*Estagiária sob supervisão de Danielle Nogueira


Fonte: O GLOBO