Número de pessoas ocupadas volta a crescer, mas ainda há 8,5 milhões em busca de uma vaga

A taxa de desemprego ficou em 7,9% no trimestre encerrado em julho, o menor patamar para o período desde 2014, quando estava em 7%. A queda se deu pelo aumento do número de ocupados, o que não ocorria há dois trimestres. Mas o país ainda tem cerca de 8,5 milhões de pessoas em busca de uma oportunidade. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE.
  • A mediana das projeções dos analistas apontava para uma taxa em 8,2% no período.
  • No trimestre encerrado em abril de 2023, que serve de base de comparação, o desemprego ficara em 8,5%.
  • O número de pessoas ocupadas voltou a crescer após dois trimestres em queda, chegando a 99,3 milhões.
Outro destaque no levantamento ficou por conta do rendimento real habitual, ou seja, o quanto os trabalhadores ocupados receberam em média. Em julho, esse patamar estava em R$ 2.935, representando estabilidade frente ao trimestre anterior e crescimento de 5,1% ao ano.

Já a soma dos rendimentos de todas as pessoas ocupadas bateu o recorde da série histórica. Entre maio e julho, esse montante ficou em R$ 286,9 bilhões, um aumento foi de 2% frente ao trimestre anterior e de 6,2% na comparação anual.

O que dizem especialistas

Economista da Tendências Consultoria, Lucas Assis explica que a pesquisa do trimestre encerrado em julho dá continuidade a levantamentos anteriores, no sentido de apontar um dinamismo positivo no mercado de trabalho.

Para o especialista, o PIB mais alto que o esperado no primeiro trimestre de 2023 acabou favorecendo os meses seguintes, influenciando até mesmo outras atividades da economia.

— Esse comportamento gera efeitos positivos no mercado de trabalho. O desemprego deve cair também nos próximos meses, por conta da contratação para festas de fim de ano — afirma Assis.

Já Bruno Imaizumi, economista da LCA Consultores, afirma que a Pnad também indica que os efeitos da pandemia no mercado de trabalho estão se dissipando, com o retorno dos movimentos sazonais: normalmente, já se espera uma queda na taxa de desemprego nos trimestres encerrados em julho.

Quanto à alta na massa de renda, Imaizumi explica que o indicador foi puxado pelo aumento no número de ocupados.

Mesmo que boa parcela do crescimento na ocupação tenha se dado através da informalidade, o rendimento médio não caiu porque a taxa foi puxada pelos empregados sem carteira, e não pelos trabalhadores por conta própria, que recebem menos.

— Não necessariamente toda posição informal tem um rendimento baixo. Trabalhar como conta própria é menos rentável que um trabalho sem carteira assinada no setor privado — afirma.

Assis, da Tendências, acredita que o reajuste do salário mínimo para R$ 1.320 em maio também ajudou a segurar a queda do rendimento médio, porque ampliou o poder de barganha dos trabalhadores nas negociações salariais.

Menor número de desempregados desde 2015

Segundo Adriana Beringuy, coordenadora de pesquisas domiciliares do IBGE, houve uma melhora significativa no mercado de trabalho entre maio e julho de 2023.

Existe 1,3 milhão de pessoas a mais no contingente de ocupados, na comparação com o trimestre anterior. Embora menor, também houve crescimento em relação ao mês de julho do ano passado, com mais 669 mil brasileiros trabalhando.

Assim, o número de pessoas sem emprego — os 8,5 milhões que procuram uma vaga — recuou para o menor nível desde fevereiro de 2015.

É diferente do que aconteceu nos dois últimos trimestres móveis, quando essa redução esteve atrelada a um movimento das pessoas deixando de procurar emprego.

O IBGE considera desempregada a pessoa que não está trabalhando e que está efetivamente buscando uma oportunidade na semana de referência da pesquisa.

Esse aumento na ocupação acontece mesmo diante de uma base de comparação elevada, explica Beringuy, considerando a recuperação da economia ao longo do ano 2022, depois da pandemia.

— Esse crescimento é verificado de forma mais intensa em algumas atividades, como em Tecnologia da Informação e Comunicação, Administração e Serviços Financeiros — diz.

Setor público e informais puxam contratações

O crescimento no número de ocupados foi puxado pela abertura de vagas no setor público e pelos trabalhadores informais, sem carteira assinada.

Na administração pública, o número de ocupados subiu a 12,3 milhões em julho, alta de 2,6% frente ao trimestre anterior. Já o contingente de trabalhadores sem carteira assinada cresceu 4% e alcançou 13,2 milhões.

Isso contribuiu para o aumento da taxa de informalidade (39,1%). Em abril, o índice estava em 38,9%. O número de trabalhadores com carteira ficou estável.

Beringuy afirma que houve uma mudança importante na composição do trabalho informal: enquanto o crescimento na informalidade em trimestres anteriores veio do aumento do trabalho por conta própria, agora esse crescimento é puxado pelo aumento do emprego informal.

— É outro segmento da informalidade crescendo. Ainda não sabemos o motivo.

Menor nível de subutilizados dede 2016

Com o avanço na ocupação, o percentual de trabalhadores subutilizados, que trabalham menos horas do que poderiam ou gostariam, também caiu: 17,8% da população se encontra nessa situação, ante 18,4% no trimestre anterior.

São 20,3 milhões de pessoas subutilizadas, o menor número desde o trimestre encerrado em fevereiro de 2016.

Taxa de participação em patamares baixos

Chama atenção dos especialistas o fato de que a taxa de participação ainda não retornou ao patamar anterior à pandemia. O indicador compara a soma de ocupados e desocupados com a população em idade de trabalhar.

— Idosos, principalmente, não voltaram a trabalhar. O problema é que uma parcela de pessoas mais jovens também não. Com um comportamento mais benigno da renda e os pais voltando a se ocupar, eles repensaram o retorno ao mercado — diz Imaizumi.

De acordo com o economista, o aumento no número de famílias unipessoais cadastradas irregularmente no Auxílio Brasil em 2022 (agora Bolsa Família) também contribuiu para o não retorno das pessoas ao mercado de trabalho.

Perspectivas

Apesar da queda recente na taxa de desemprego, a tendência do segundo semestre é de perda de ritmo na geração de postos de trabalho, segundo especialistas.

Isso porque a perspectiva de desaceleração da atividade econômica faz com que o mercado de trabalho fique menos aquecido. A expectativa é que a taxa de desemprego encerre o ano entre 8,3% e 8,5%.


Fonte: O GLOBO