Clube saudita tem forte ligação com a monarquia que comanda o país islâmico

Está sacramentada a transferência de Neymar ao Al-Hilal, da Arábia Saudita. O anúncio oficial deve acontecer nesta terça-feira, com uma festa preparada pela equipe de Riad para apresentar o craque na quarta. 

O Al-Hilal vai pagar cerca de R$ 100 milhões de euros (541 milhões de reais) ao PSG para contar com o craque, a maior transferência da história do futebol do país. No clube árabe, Neymar vai receber 320 milhões de euros (R$ 1,7 bilhão), somando salário, luvas e acordos comerciais.

Finalista do Mundial de Clubes da Fifa pela primeira vez em fevereiro deste ano, quando foi derrotado pelo Real Madrid, o Al-Hilal não é apelidado de "Clube dos Príncipes" à toa, o que automaticamente explica toda a riqueza do time mais vitorioso da Ásia. 

Segundo um relatório divulgado este ano por ordem do governo saudita, o faturamento no ano fiscal do Al-Hilal fica quase em R$ 1 bilhão (987 milhões), bem à frente do segundo time mais rico, o Al-Nassr (667 milhões). A maioria dos clubes arrecada menos que R$ 170 milhões por ano.

Fundado em 1967, pelo funcionário público Abdul Rahman bin Saeed, considerado o xeque do esporte no país, o clube poliesportivo nasceu sob o batismo do Rei Saud bin Abdul Aziz Al Saud, a quem foi enviada uma carta para escolher entre três opções de nome.

Dinheiro privado se confunde com público

O financiamento governamental, por meio do Ministério do Esporte, é das principais fontes de renda do esporte. Potência econômica dentre os países árabes, a Arábia Saudita tem grande parte de suas finanças baseada no petróleo. O país tem a maior reserva do mundo e é o maior produtor e exportador mundial — responsável por 75% a 80% das receitas do Reino.

Como praticamente tudo na Arábia Saudita, o privado se confunde com a monarquia absolutista que governa o país islâmico. Boa parte dos negócios é gerido por fundos de investimentos e empresas ligadas ao governo. 

A existência do Fundo de Investimentos Públicos da Arábia Saudita, coloca bilhões de dólares nas maiores empresas do mundo e faz investimento massivo em esportes. Virou notícia, por exemplo, por comprar o Newcastle por 305 milhões de libras (cerca de R$ 1,9 bilhão). Também comprou os quatro principais clubes do país: Al-Nassr, Al-Ittihad, Al-Hilal e Al-Ahly.

Ao longo das últimas décadas, o Al-Hilal foi presidido por príncipes sauditas e conta com alguns deles como membros nos conselhos, honorários e torcedores. O futuro clube de Neymar é propriedade do governo local e tem como principal colaborador o príncipe Alwaleed Bin Talal, dono da holding de investimentos Kingdom. 

O bilionário saudita afirmou que presentearia cada jogador do time com um milhão de riais (quase R$ 1,4 milhão na cotação da época) pela vitória por 3 a 2 sobre o Flamengo, o que garantiu a classificação da equipe à final do Mundial de Clubes, este ano.

Quem deu o pontapé no desenvolvimento do Al-Hilal foi o príncipe Abdullah bin Nasser, que investiu tempo e muito dinheiro no clube de Riad. Foi ele, por exemplo, o responsável por uma das maiores contratações da história do clube: Rivellino, em 1979.

Nos anos 2000, outro membro da família real deu sequência ao crescimento do clube e foi responsável por grandes investimentos no Al Hilal: Abdullah bin Musaed, que presidiu a instituição por alguns meses e depois foi vice-presidente na gestão do irmão Abdul Rahman, sendo responsável por atrair investidores.

Amante de esportes, ele esteve à frente de vários órgãos públicos e esportivos e enveredou em negócios privados no futebol. Hoje é um dos maiores investidores do esporte, com a criação do United World Group, dona de clubes como o Sheffield, da segunda divisão inglesa, e do Al Hilal United, dos Emirados Árabes, espécie de filial do original saudita. O último príncipe na gestão do clube foi Mohamed Bin Faisal, que presidiu o Al Hilal de 2018 a 2019.

Durante todo esse período, dinheiro não tem sido problema para levar nomes de algum destaque no cenário mundial. Mas só recentemente o futebol saudita passou a ser destino de jogadores de primeiro escalão. O Al-Hilal, inclusive, sondou o português Cristiano Ronaldo, mas não podia negociar por causa de uma proibição de transferência da Fifa referente às negociações de renovação com Mohamed Kanno, em 2022. A punição valeu para as duas últimas janelas até o início deste ano.

Atualmente, o Al Hilal não é apenas um clube poliesportivo, com centros de treinamento, ginásios e o estádio King Fahd, com capacidade para 67 mil pessoas. Há subsidiárias, com a forte marca saudita, que investem em diversos setores, como oportunidades no mercado imobiliário, para diversificar as fontes de receitas do clube.

Os dois clubes de Riad — Al-Hilal e Al-Nassr — também fecharam uma parceira com a Qiddiya Investment Company (QIC) para a construção de um novo estádio na cidade para 40 mil lugares. A parceria estratégica de 20 anos está avaliada em US$ 26,7 milhões (mais de R$ 132 milhões) por clube por ano.


Fonte: O GLOBO