Encomendas de novas aeronaves e manutenção das atuais sofrem efeitos permanentes da quebra da cadeia de suprimentos provocada pela crise de produção
A pandemia ficou para trás, mas a quebra na cadeia de suprimentos ainda permanece no setor aéreo e continua atrasando não só o cronograma de entrega de aeronaves novas, mas também o de manutenção de aviões. O gargalo é global e tinha estimativa de ser resolvido no primeiro semestre, mas ainda afeta as principais fabricantes.
A previsão é de normalização nos próximos 12 meses, mas técnicos dizem que tudo vai depender da velocidade de retomada da demanda. Hoje, as empresas enfrentam problemas no fornecimento de motores a equipamentos como escorregador de saídas de emergência, assentos ou sistemas de ar condicionado.
A falta de peças ocorre porque os pedidos novos, ainda que em menor ritmo que o pré-pandemia, têm se somado à demanda reprimida por manutenções. Como se sabe, o setor de aviação civil foi um dos mais prejudicados com as restrições de mobilidade da pandemia e ainda não recuperou totalmente a demanda. Especialmente em 2020 e 2021, companhias aéreas e empresas de leasing precisaram colocar e manter aviões no chão.
O processo queimou caixa e, em sua maioria, as companhias aéreas deixaram de fazer nos aviões parados as trocas periódicas de equipamentos previstas nos manuais. Quando quiseram voltar a operar, precisaram colocar em dia a troca de peças e foram surpreendidos com a escassez de componentes.
Brasileiras afetadas
O atraso nas entregas ocorre mundialmente e também atinge companhias aéreas brasileiras. Em julho, o presidente da Azul, John Rodgerson, afirmou durante conferência sobre a conclusão do plano de reestruturação do passivo da empresa, que a aérea esperava receber seis aeronaves da família E2 da Embraer, cuja entrega estaria atrasada. Ele não precisou o cronograma.
Na Latam, o diretor financeiro, Ramiro Alfonsín, afirmou recentemente que a Boeing vai realizar sua última entrega pendente em agosto.
— Recebemos um Boeing 787 em julho e o segundo está previsto para o final de agosto. Sofremos atrasos da Boeing, que estão se normalizando com essas duas entregas. Temos em princípio o compromisso de receber aviões wide body, de última tecnologia, que fazem parte do plano de crescimento da companhia para os próximos cinco anos — afirmou a jornalistas.
Para Lucas Laghi, analista da XP, a escassez de componentes ainda é um risco para o setor, mas em menor grau do que durante a pandemia:
— Os impactos têm sido percebidos mais na divisão de aviões comerciais do que na aviação executiva. Ainda existem os impactos neste ano, mas a performance de entregas no segundo trimestre é positiva.
Procurada, a Embraer afirmou em nota que "está trabalhando em iniciativas para aperfeiçoar a cadeia de suprimentos e conduz suas ações de maneira próxima a seus fornecedores", sem dar detalhes sobre os gargalos.
Já a Airbus disse em nota que "toda a indústria está sofrendo atrasos na cadeia de suprimentos" e confirma que isso "continua afetando nossas operações". E diz que tomou medidas para lidar com o quadro.
A Boeing, também por meio de nota, diz que "a cadeia de suprimentos está começando a se estabilizar" e que prioriza "a execução e a estabilidade na produção e em nossos fornecedores".
Fonte: O GLOBO
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