Chefe do Executivo estadual reage a eventual cessão de ministério para o Centrão

O governo já confirmou que PP e Republicanos assumirão ministérios. O PSB está disposto a perder espaço?

Encaro com naturalidade a ampliação da participação de outros partidos que não estiveram com Lula na campanha. O presidente não pode perder sua essência, mas precisa ter apoio no Congresso. O que não é natural é que retire dos espaços aliados que estiveram com ele desde o primeiro momento, como o PSB, que sustentou a candidatura de Lula desde o começo. Se isso acontecer, é um sinal ruim para a política.

É provável uma troca no ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio ou de Portos e Aeroportos para atender ao Centrão?

Não podemos perder qualidade. O ministro (Geraldo) Alckmin, além de ser vice-presidente da República, desempenha um papel importante no governo, estabeleceu uma conexão muito boa com o mundo empreendedor pela sua competência. Isso é ponte lançada para um setor que não esteve com o presidente Lula na campanha.

 E o Márcio (França) é um ministro eficiente. Nós não podemos trocar o que está dando certo, especialmente em um governo que tem outros espaços sem esse vínculo político que pode ser debatido.

A eventual saída de Alckmin do ministério pode gerar um atrito entre o vice e Lula?

Se conheço bem o Alckmin, ele jamais provocará um atrito com o presidente Lula. O presidente é que precisa fazer essa reflexão. Não pode tirar prestígio de um vice-presidente da República competente e eficiente.

As bancada do PSB e do PDT na Câmara já manifestaram incômodo com a demora do governo em liberar cargos de segundo e terceiro escalões. Essa tensão vai afetar votações caras ao governo?

O ritmo do Congresso é um e do Executivo é outro. O que é necessário é que o parlamentar da base do governo se sinta prestigiado. Isso dá, quando for preciso, o apoio necessário para as votações.

Que balanço faz do primeiro semestre do governo Lula?

Muito positivo. Em um primeiro momento, fez um enfrentamento aos ataques que as instituições sofreram e o ministro (Fernando) Haddad, da Fazenda, vem conduzindo bem a pauta econômica. O grande desafio do presidente é a relação com o Congresso. 

A eleição contra o ex-presidente Jair Bolsonaro foi muito disputada e o Congresso eleito é muito conservador, então a dificuldade dos próximos quatro anos vai ser estabelecer uma relação em que, além de seus interlocutores, vai ter que entrar pessoal e constantemente nessa articulação.

Declarações do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, sobre as regiões Norte e Nordeste foram alvo de críticas da classe política. Qual é a avaliação do senhor?

A posição dele é pessoal, não representa o consórcio (das regiões Sul e Sudeste). Não temos nenhum interesse em fazer qualquer comparação ou enfrentamento a qualquer outra região. O consórcio não pode e não deve ser um instrumento de luta eleitoral, senão está fadado ao fracasso.

Por que outros governadores do Sul e Sudeste silenciaram após a fala de Zema?

Talvez por algum constrangimento, para não criar um clima mais difícil, mas eu tenho plena convicção que não é a opinião majoritária no consórcio. Fiz um contato com o governador Zema dizendo que precisava me posicionar, porque houve cobranças de uma opinião minha. A gente precisa aproveitar esses momentos para reafirmar o que é correto em um país desigual como o nosso.

Em São Paulo, Tabata Amaral é pré-candidata pelo PSB, enquanto PT anunciou apoio a Guilherme Boulos. PT e PSB caminharão separados nas eleições de 2024?

Não temos o compromisso de estarmos juntos, não somos uma federação. Em eleições de dois turnos, como é o caso de São Paulo, não tem problema nenhum termos duas candidaturas. Uma eventual chegada da Tabata à prefeitura de São Paulo representa uma renovação da política. 

Não só ela quer ser candidata, mas o PSB quer que ela seja candidata, e ela está autorizada a buscar a aliança mais adequada para fazer as composições, e nós vamos ajudá-la. Quando não pode fazer mais à esquerda, faz mais ao centro. Ela pode ser uma alternativa de partidos de centro-esquerda e até de centro-direita.

Em eventual cenário em que Lula não tente a reeleição, Alckmin é um nome viável?

O Alckmin sempre será um quadro forte, porque foi governador de São Paulo, hoje vice-presidente da República.


Fonte: O GLOBO