Relação é conturbada publicamente desde setembro do ano passado, quando um grupo de atletas pediu dispensa das convocações

A classificação inédita da Espanha para a final da Copa do Mundo Feminina 2023, quando bateu a Suécia por 2 a 1 com brilho da jovem Salma Paralluelo, ficou marcada por uma imagem que já se repetiu no torneio. Na comemoração, as jogadoras vibraram muito entre si e deixaram o treinador, Jorge Vilda, de lado, ficando apenas com sua comissão técnica no momento da celebração. A atitude reflete a insatisfação das atletas com o comandante, e a relação está desgastada desde, pelo menos, setembro de 2022.

Na conquista da vaga para a semifinal, um vídeo de Vilda comemorando sozinho viralizou nas redes sociais. Desta vez, o roteiro foi parecido, e técnico e jogadoras só se cumprimentaram na tradicional roda após a partida — mas depois da fala, as atletas preferiram pular umas com as outras e deixar o técnico mais uma vez às margens. 

Ele foi abraçado por Jenni Hermoso, hoje no Pachuca-MEX, enquanto as jogadoras do Barcelona que disputam o torneio e são as principais atletas que tem atritos com o técnico escolheram mais uma vez ficar afastadas.

Jogadoras da Espanha comemoram vaga na final longe do técnico Jorge Vilda — Foto: Reprodução/CazéTV

Nas redes sociais, torcedores expressaram a revolta com o treinador. "Feliz pelas meninas, mas triste por Vilda", escreveu um usuário. "É sério que vou precisar torcer para a Austrália ou Inglaterra para não precisar ver Vilda ganhando?", questionou outra torcedora. Entenda o caso:

'As 15' da Espanha

A crise estourou em setembro de 2022, quando 15 jogadoras mandaram um e-mail à federação de futebol do país (RFEF) pedindo para não serem mais convocadas. Elas relatavam, em cartas individuais, que “os últimos acontecimentos” da seleção estavam “afetando significativamente o meu estado emocional e, portanto, a minha saúde”.

A situação foi atribuída a desavenças com o treinador da equipe, Jorge Vilda, que a partir da data passou a não convocar “as 15”, como ficaram conhecidas. As queixas passavam por toda a estrutura e o apoio dado à seleção feminina, e não se limitavam ao comando de Vilda. Após o treinador afirmar que iria continuar no cargo até o final do contrato, em 2024, “as 15” resolveram se afastar das atividades da seleção.

A crise também escancarou uma divisão no vestiário entre jogadoras dos dois principais clubes do país. Seis atletas do Barcelona (Patri Guijarro, Mapi León, Sandra Paños, Aitana Bonmatí, Mariona Caldentey e Claudia Pina) formaram a maior parte “das 15”, ainda com o apoio de Alexia Putellas, lesionada, e Irene Paredes, que apoiou publicamente o ato, apesar de não assinar a carta. Enquanto isso, nenhuma jogadora do Real Madrid se juntou ao protesto. Artilheira da Espanha, Jennifer Hermoso, hoje no Pachuca-MEX, também demonstrou apoio.

Meses de negociações internas trouxeram alternativas, mas não soluções, para o conflito. Em fevereiro, as convocações para os jogos preparatórios visando o Mundial trouxeram de volta Paredes e Hermoso à seleção. Em junho, oito das 15 jogadoras pediram à RFEF para serem consideradas para a Copa, mas apenas três fizeram parte da lista final das 23 convocadas: Aitana, Ona Battle e Mariona Caldentey. De acordo com Vilda, a decisão foi “meramente esportiva”.

Sem grandes nomes como León, Sandra Guijarro e Pina, atuais campeãs da Champions League pelo Barcelona, a Espanha estreou ontem contra a Costa Rica. A vitória por 3 a 0 e boas atuações de Aitana, González, Carmona e Battle, além da volta de Putellas, que entrou no final do segundo tempo, funcionaram para trazer de volta as esperanças.


Fonte: O GLOBO