Compras ou vendas, como as de imóveis ou veículos, poderão ser feitas de forma instantânea
Batizado pelo Banco Central de Drex, o real digital deve entrar em operação no país a partir de 2024, com a promessa de garantir um acesso mais democrático aos benefícios da digitalização da economia a empreendedores brasileiros, assim como a criação de um ambiente seguro para a geração de novos negócios.
Especialistas ouvidos pelo GLOBO avaliam que a moeda digital, em testes desde o início deste ano, tem potencial de causar profundas alterações nas operações de compra e venda no país e na prestação de serviços financeiros.
O que muda?
O Drex será a moeda brasileira (R$) em sua versão digital. O dinheiro físico já é reapresentado com saldos em conta-corrente, por exemplo. Todavia, um diferencial prático com a Drex será a redução de custos e etapas nas transações entre consumidor e empresa, por exemplo.
As compras ou vendas, como as de imóveis ou veículos, poderão ser feitas por meio do real digital. O Banco Central vai oferecer a infraestrutura necessária para que os registros dessas operações sejam feitos de forma automática, diminuindo a necessidade de intermediários.
Nesse exemplo, não haveria a discussão sobre a necessidade de o consumidor depositar o dinheiro antes de adquirir o bem ou de o vendedor transferir os documentos do bem antes de receber o dinheiro. Todo o processo passará a ser feito instantaneamente
— Quando você fala do pagamento com cartão ou outros meios ainda existe uma ação manual e gerencial para fazer a troca da titularidade do bem. Com o real digital, as coisas acontecem como na execução de um programa de computador. Há uma ação combinada e programada de transferência da titularidade. Você elimina processos acessórios — avalia o diretor de produtos da empresa de tecnologia Matera, Bruno Samora.
Já o especialista em fintechs e blockchain, Marcio Kogut, explica que o Real Digital vem com o objetivo de facilitar também compras digitais menos complexas, como assinatura de serviços de streaming e games.
— Hoje, essas assinaturas estão sendo feitas por cartão de crédito, há uma cadeia de intermediários que acaba onerando os custos para ambos os lados. Numa assinatura do Netflix, por exemplo, há um custo da bandeira do cartão, do banco emissor, do adquirente e subadquirente. Com o real digital não vai existir essa cadeia de intermediários — avalia Kogut.
Como está sendo feita?
A moeda digital do Banco Central brasileiro será a versão nacional do “Central Bank Digital Currency” ou CBDC. Ou seja, está entre as divisas digitais que estão sendo trabalhadas pelas autarquias monetárias de diferentes países.
Um dos principais ganhos com o Real Digital está na segurança das operações, dizem os especialistas. Isso porque a infraestrutura que o BC terá como base é a tecnologia DLT (Distributed Ledger Tecnology), ou tecnologia de registro distribuído, na tradução livre.
No geral, nessa rede, todos os participantes têm acesso ao histórico das transações, o que garante transparência e rastreabilidade.
— Como empreendedores e empresas, vamos poder falar "me envia um Drex" e poder, eventualmente, pagar um imposto. O Real Digital vai abrir imensas portas do ponto de vista de redução de burocracias, otimização de processos, e novas possibilidades de negócios — avalia Caio Barbosa, CO-CEO da Lumx Studios.
A rede de operação da moeda digital será restrita às instituições reguladas pelo Banco Central. Dessa forma, todos os participantes são conhecidos e sujeitos às normas e leis do setor. Em nota, a coalizão SFCoop (Sistema Financeiro Cooperativo), formada por Sicoob, Sicredi, Ailos, Cresol e Unicred - gruto que está testando o Real Digital - garante que o Drex resultará em uma "enorme digitalização de produtos analógicos" e estimular o surgimento de novos produtos.
“Quanto à segurança, a rede DLT estabelecida em blockchain garante que o registro das movimentações e transações sejam registradas de forma imutável e rastreável. Por ser uma rede permissionada, fica estabelecida mais uma camada extra de segurança, limitando o acesso apenas a instituições autorizadas”, diz o grupo de testes.
Testes
A fase atual do Piloto do Real Digital está buscando validar, em conjunto com o setor privado, onde a moeda digital irá circular no meio financeiro diariamente, explica Marcio Rosa, product manage da Efí.
Em março, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) anunciou um grupo de trabalho para contribuir com o Banco Central no desenvolvimento do projeto-piloto do Real Digital - com ao menos 15 bancos brasileiros participando da testagem de pontos como nível de segurança e escalabilidade da moeda digital.
— A agenda de modernização do Banco Central é bastante arrojada, acredito que o Drex é apenas uma evolução do sistema financeiro, assim como foi o Pix. O DREX irá ampliar as possibilidades do mercado no que se refere a 'tokenização' de ativos — avalia Marcio Rosa.
Fonte: O GLOBO
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