Bruno Heller desmatou 2.710 hectares em fazenda localizada num corredor ecológico perto de unidades de conservação e terras indígenas no Pará; para recuperar área são necessários R$ 116 milhões
Investigado pela Polícia Federal sob a suspeita de ser o maior devastador da Amazônia, o pecuarista Bruno Heller desmatou 28 hectares por dia, o equivalente a 28 campos de futebol, em um período de apenas três meses, de acordo com a investigação das atividades do produtor rural.
A devastação foi detectada em uma fazenda que se situa em um corredor ecológico próximo a unidades de conservação e terras indígenas no interior do Pará. O desflorestamento total de 2.710 hectares foi registrado pela PF entre 15 de março e 17 de junho de 2021.
Segundo a investigação, uma ação deste porte, num período tão curto de tempo, só seria possível com o uso de um grande número de trabalhadores (em torno de 60) para derrubar a mata. “Para atingir essa taxa de desmatamento, é necessário grande aporte e de capital financeiro, máquinas e recursos humanos”, detalhou o relatório da PF sobre as atividades de Heller, ao qual O GLOBO teve acesso.
Os investigadores calcularam que vão ser necessários R$ 116 milhões para recuperar a área devastada pelo pecuarista. A Justiça agora tenta obter o valor com o confisco de 16 fazendas e dez mil cabeças de gado.
Solto com fiança
Ouro encontrado com pecuarista durante ação da PF — Foto: Divulgação/PF
Alvo de mandado de busca e apreensão da PF, Heller foi preso no dia 3 deste mês, após uma espingarda sem registro e 350 gramas de ouro sem identificação de origem terem sido descobertos na fazenda do pecuarista. Ele foi libertado pela Justiça de Itaituba (PA) no dia seguinte, mediante pagamento de fiança e o compromisso de se apresentar à Justiça Federal a cada dois meses.
A Polícia Federal chegou a pedir a prisão temporária do pecuarista. Mas o juiz federal Maurício José de Mendonça Júnior indeferiu o pedido, com o argumento de que os mandados de busca que haviam sido expedidos eram suficientes e que não havia risco de o pecuarista destruir provas da investigação.
Procurada, a defesa de Heller disse que provará a inocência do produtor rural. “A defesa de Bruno Heller aguardará a conclusão da investigação, a qual ainda está em curso. No mais, se manifestará tão somente nos autos do processo, oportunidade em que os fatos serão esclarecidos e devidamente comprovada a inocência”, afirmou a nota do advogado Alexandre Curti.
Multas somam mais de R$12 milhões
Levantamento do GLOBO feito junto ao Ibama mostra que o pecuarista possui mais de R$ 12 milhões em multas aplicadas entre 2006 a 2021. A maioria diz respeito às suspeitas de “destruição ou danificação de florestas nativas ou plantadas”.
Segundo a PF, o pecuarista e seu grupo montaram um suposto esquema para driblar as autuações e continuar lucrando com a criação de gado e extração de madeira.
“O modus operandi do grupo consiste em realizar o cadastro de áreas contíguas às suas em nome de terceiros, notadamente, parentes próximos. A partir de então, a área acaba sendo desmatada para a implementação do rebanho bovino. Tal estratégia objetiva burlar a persecução penal e administrativa (multas ambientais), de modo a que qualquer imputação acabe recaindo sobre pessoas sem patrimônio”, diz o relatório da PF.
A fazenda Serra Verde, onde ocorreu o desmatamento, está no nome de um parente de Heller que a Polícia Federal acredita ser usado como um laranja. Aos investigadores, o suspeito contou que comprou a propriedade do pecuarista. Mas não apresentou comprovante de pagamento, não sabia o nome dos vizinhos e “entrou em contradição ao tentar quantificar quanto teria pago a 60 funcionários para desmatar a área”, segundo o relatório da PF.
Uma outra testemunha relatou à polícia que o proprietário de fato da área é Heller. Outras duas parentes donas de propriedades vizinhas às terras do pecuarista trabalham como nutricionista e fisioterapeuta, “sem qualquer relação com a administração de terras”, concluíram os investigadores.
Conforme um relatório do Incra, o fazendeiro se apossou de um total de 21 mil hectares de terras da União às margens da BR-163, que liga Santarém (PA) a Cuiabá (MT), ao longo dos últimos dez anos. O pecuarista começou na atividade de exploração de madeira, e depois migrou para a criação de gado, uma prática comum na região.
Os crimes atribuídos a Heller são os de associação criminosa; invasão de terras da União (grilagem); desmatamento, exploração ou degradação de floresta sem autorização das autoridades; e declaração falsa ou omissão em documentos públicos ou privados.
“Nesse contexto, os elementos apurados até o momento indicam a participação ativa e determinante do representado no comando da associação criminosa de invasão de terras da União, fraudes junto ao CAR (Cadastro Ambiental Rural) para fracionamento fictício de imóveis rurais, bem como por realizar a supressão de vegetação em extensas áreas sem autorização do órgão ambiental competente”, detalhou o juiz federal Maurício de Mendonça, que decretou os mandados de busca contra o pecuarista.
Fonte: O GLOBO
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