Antes de mortes no centro de Feira de Santana, caso da menina Hynara e matança em Camaçari e arredores descortinaram clima de guerra vivido por ciganos no estado
A comunidade cigana na Bahia voltou a chamar a atenção pela violência. Na segunda-feira, o centro de Feira de Santana foi palco de uma guerra sangrenta: quatro ciganos da mesma família morreram baleados num atentado que teria sido motivado por vingança.
Foram pelo menos 30 tiros disparados em plena luz do dia, que também deixaram duas pessoas feridas. Recentemente, outro caso chocante ganhou os holofotes: o da morte da cigana Hyara, de 14 anos e recém-casada, com um tiro que, segundo conclusão da polícia, foi acidental e disparado por uma criança de 9 anos.
A tragédia ocorreu no mês passado, em Guarantinga, mas foi na última semana que as investigações tiveram um desfecho. Em janeiro do ano passado, cinco ciganos, sendo quatro da mesma família, foram assassinados num período de menos de 24h em diferentes cidades baianas. Na época, o Instituto Cigano do Brasil chegou a fazer um apelo, pedindo a abertura de uma CPI para apurar as mortes.
Caso Hyara
Hyara Alves, de 14 anos, foi morta; caso é investigado como feminicídio — Foto: Reprodução
Hyara vivia na cidade baiana de Guarantinga e havia se casado há apenas X meses com um jovem da sua idade, inicialmente apontado como o responsável pela sua morte. Ele e os pais chegaram a ficar foragidos, buscando abrigo em comunidades ciganas do Espírito Santo.
O enredo inicial da tragédia parecia de novela: a jovem teria sido assassinada pelo próprio marido, por vingança. A família dela sustentava que a mãe do rapaz tinha um caso extraconjugal com um tio da adolescente, o que teria motivado ódio e o crime.
Os pais do marido acabaram se entregando a polícia, e o garoto foi apreendido. Antes, o sogro da vítima gravou um vídeo, defendendo o disparo acidental:
– A perícia vai mostrar a verdade para a polícia. O que aconteceu é que o (nome da criança de 9 anos), meu filho e cunhado de Hyara, estava brincando e fez um disparo acidental. Minha nora... eu amava... amava, não, eu amo a minha nora. A Hyara, para falar a verdade, é uma pessoa que eu tinha como uma filha – disse na gravação, onde revela ainda que estava fugindo com medo de represálias do pai da vítima, Hyago Alves.
A Polícia Civil baiana informou no último dia 11 que, através de perícia, análise de câmeras de segurança e depoimentos de várias testemunhas, os investigadores concluíram que a adolescente foi de fato vítima de um disparo acidental, feito por uma criança de 9 anos, cunhado dela, enquanto os dois brincavam em seu quarto.
Os pais do marido acabaram se entregando a polícia, e o garoto foi apreendido. Antes, o sogro da vítima gravou um vídeo, defendendo o disparo acidental:
– A perícia vai mostrar a verdade para a polícia. O que aconteceu é que o (nome da criança de 9 anos), meu filho e cunhado de Hyara, estava brincando e fez um disparo acidental. Minha nora... eu amava... amava, não, eu amo a minha nora. A Hyara, para falar a verdade, é uma pessoa que eu tinha como uma filha – disse na gravação, onde revela ainda que estava fugindo com medo de represálias do pai da vítima, Hyago Alves.
A Polícia Civil baiana informou no último dia 11 que, através de perícia, análise de câmeras de segurança e depoimentos de várias testemunhas, os investigadores concluíram que a adolescente foi de fato vítima de um disparo acidental, feito por uma criança de 9 anos, cunhado dela, enquanto os dois brincavam em seu quarto.
A arma pertenceria à sogra, que teria deixado a pistola com a menina enquanto realizava uma mudança. A mulher foi indiciada por homicídio culposo e porte ilegal de arma de fogo. O tio da vítima foi indiciado por ter atirado contra a casa onde Hyara morava com o marido.
O pai de Hynara ainda questiona o resultado das investigações:
– Eu e minha família estamos muito tristes e revoltados com isso. São 40 dias sofrendo e temos uma resposta dessa no inquérito policial... Mas confiamos muito na Justiça e no promotor de Justiça. Acima do senhor (referindo-se ao delegado) tem o Ministério Público e tem Deus – disse.
Matança em três cidades
Entre 11 e 12 de janeiro de 2022, o Instituto Cigano do Brasil denunciou a morte de cinco ciganos, assassinados na cidade de Camaçari e arredores, na Bahia. Os casos aconteceram em um intervalo de menos de 24 horas. Uma das mortes aconteceu em Santo Amaro: o comerciante de origem cigana Luciano Ramos de Souza foi assassinado a tiros enquanto confraternizava com parentes.
A entidade que denunciou a matança pediu na época a instalação de uma CPI para investigar a matança no estado:
— Mais uma tragédia se abateu sobre aquele estado. De imediato nós acionamos a nossa coordenação para acompanhar essas mortes que ocorreram em Camaçari e região. Há uma necessidade urgente no estado da Bahia de uma CPI, que o Instituto Cigano Brasil já protocolou, para apurar essas mortes que vêm acontecendo — disse na época em vídeo o então presidente do instituto, Rogério Ribeiro.
A Polícia Civil informou na ocasião que os assassinos estavam num carro cinza. Eles teriam se aproximado do grupo em que estava Luciano, que jogava dominó com parentes, anunciando que iriam matá-lo. A vítima chegou a ser socorrida e levada para uma unidade de saúde, mas não resistiu.
Antes de Luciano, um casal de uma família de ciganos foi morto em circunstâncias semelhantes. Também comerciante, Orlando Alves, de 59 anos, e a mulher, Luciene Alves de Oliveira, foram assassinados a tiros em casa, na cidade Dias d'Ávila, na Região Metropolitana de Salvador. O crime teria sido executado por um homem em uma moto, no começo da noite.
No dia seguinte, pela manhã, em Camaçari, há menos de meia hora de distância de Dias d'Ávila, outros dois parentes de Orlando, Alcides e Nilson Alves, foram mortos a tiros, no centro da cidade. Segundo o que a polícia divulgou na época, dois homens em um carro cinza teriam cometido o duplo homicídio. As vítimas eram pai e filho. Um terceiro homem teria sido atingido pelos tiros e levado a um hospital
Vingança dentro da mesma família
Em 2020, um cigano teve a morte encomendada por membros da própria família, também por vingança. Isso porque três anos antes ele e o irmão teriam sequestrado o primo e exigido milhões pelo resgate. De acordo com o jornal local Correio 24 horas, como o pai da vítima pagou apenas R$500 mil, os irmãos mataram o sobrinho esquartejado e mandaram a cabeça para o pai dele.
Antes de ser morto em 2020, o cigano ainda assassinou o genro em Eunápolis. Ele foi morto em Goiânia, quando estava num carro com a família e foi surpreendido por um outro cigano em uma moto.
Mortos pela PM
Em 2021, os assassinatos de dois policiais militares em Vitória da Conquista, supostamente cometidos por membros de uma comunidade cigana no interior baiano, também culminaram em derramamento de sangue: ao menos 8 irmãos da mesma família foram mortos em ações policiais, ainda segundo o jornal Correio 24 horas. Em todos os casos, de acordo com o portal, a Polícia Militar negou qualquer tipo de retaliação.
Fonte: O GLOBO
O pai de Hynara ainda questiona o resultado das investigações:
– Eu e minha família estamos muito tristes e revoltados com isso. São 40 dias sofrendo e temos uma resposta dessa no inquérito policial... Mas confiamos muito na Justiça e no promotor de Justiça. Acima do senhor (referindo-se ao delegado) tem o Ministério Público e tem Deus – disse.
Matança em três cidades
Entre 11 e 12 de janeiro de 2022, o Instituto Cigano do Brasil denunciou a morte de cinco ciganos, assassinados na cidade de Camaçari e arredores, na Bahia. Os casos aconteceram em um intervalo de menos de 24 horas. Uma das mortes aconteceu em Santo Amaro: o comerciante de origem cigana Luciano Ramos de Souza foi assassinado a tiros enquanto confraternizava com parentes.
A entidade que denunciou a matança pediu na época a instalação de uma CPI para investigar a matança no estado:
— Mais uma tragédia se abateu sobre aquele estado. De imediato nós acionamos a nossa coordenação para acompanhar essas mortes que ocorreram em Camaçari e região. Há uma necessidade urgente no estado da Bahia de uma CPI, que o Instituto Cigano Brasil já protocolou, para apurar essas mortes que vêm acontecendo — disse na época em vídeo o então presidente do instituto, Rogério Ribeiro.
A Polícia Civil informou na ocasião que os assassinos estavam num carro cinza. Eles teriam se aproximado do grupo em que estava Luciano, que jogava dominó com parentes, anunciando que iriam matá-lo. A vítima chegou a ser socorrida e levada para uma unidade de saúde, mas não resistiu.
Antes de Luciano, um casal de uma família de ciganos foi morto em circunstâncias semelhantes. Também comerciante, Orlando Alves, de 59 anos, e a mulher, Luciene Alves de Oliveira, foram assassinados a tiros em casa, na cidade Dias d'Ávila, na Região Metropolitana de Salvador. O crime teria sido executado por um homem em uma moto, no começo da noite.
No dia seguinte, pela manhã, em Camaçari, há menos de meia hora de distância de Dias d'Ávila, outros dois parentes de Orlando, Alcides e Nilson Alves, foram mortos a tiros, no centro da cidade. Segundo o que a polícia divulgou na época, dois homens em um carro cinza teriam cometido o duplo homicídio. As vítimas eram pai e filho. Um terceiro homem teria sido atingido pelos tiros e levado a um hospital
Vingança dentro da mesma família
Em 2020, um cigano teve a morte encomendada por membros da própria família, também por vingança. Isso porque três anos antes ele e o irmão teriam sequestrado o primo e exigido milhões pelo resgate. De acordo com o jornal local Correio 24 horas, como o pai da vítima pagou apenas R$500 mil, os irmãos mataram o sobrinho esquartejado e mandaram a cabeça para o pai dele.
Antes de ser morto em 2020, o cigano ainda assassinou o genro em Eunápolis. Ele foi morto em Goiânia, quando estava num carro com a família e foi surpreendido por um outro cigano em uma moto.
Mortos pela PM
Em 2021, os assassinatos de dois policiais militares em Vitória da Conquista, supostamente cometidos por membros de uma comunidade cigana no interior baiano, também culminaram em derramamento de sangue: ao menos 8 irmãos da mesma família foram mortos em ações policiais, ainda segundo o jornal Correio 24 horas. Em todos os casos, de acordo com o portal, a Polícia Militar negou qualquer tipo de retaliação.
Fonte: O GLOBO
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