Mohammad bin Salman é acusado internacionalmente por crimes contra a Humanidade, entre eles o esquartejamento de um jornalista

Lamentável o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que diz ser um defensor da democracia e da liberdade, aceitar se reunir não apenas com um ditador, mas um déspota acusado de crimes contra a Humanidade, incluindo o esquartejamento de um jornalista dissidente. Pior, o sanguinário saudita Mohammad bin Salman também está envolvido no escândalo das joias que ele presenteou ao ex-presidente Jair Bolsonaro, principal adversário político do líder brasileiro.

Sabemos que Lula possui uma ligação forte com algumas ditaduras latino-americanas, como as da Venezuela e de Cuba, para onde o presidente viaja nos próximos dias. Bin Salman, no entanto, está em um patamar inigualável ao ter sido responsável por ordenar pessoalmente que um dissidente fosse cortado em pedaços, segundo uma série de serviços de inteligência ocidentais.

Mais recentemente, seu regime condenou à morte um crítico por posts no Twitter. O Human Rights Watch acusa ainda a ditadura saudita de massacrar centenas e talvez milhares de imigrantes africanos, incluindo mulheres e crianças. 

Na Guerra do Iêmen, os sauditas bombardearam casamentos, hospitais, escolas e até funerais. Um líder que se posiciona como supostamente defensor da comunidade LGBTQ+ como Lula também deveria levar em consideração que a Arábia Saudita considera crime a homossexualidade.

O presidente brasileiro, ao se sentar com um assassino, dá legitimidade para o ditador. Pode-se dizer que estava defendendo os interesses do Brasil. Tudo bem, faz parte das funções de um presidente aumentar o comércio bilateral. Mas por que não o fazer por meio de ministros, evitando ficar ao lado de um esquartejador? Essas imagens possuem peso histórico. Qual o limite de tolerância para atrocidades? Houve críticas às ações sanguinárias do regime? O que conseguiu em troca?

Joe Biden é um caso ainda mais grave do que o brasileiro. Afinal, fez todo um teatro quando era candidato ao se referir, corretamente, a Bin Salman como assassino e amigo de Donald Trump. Em visita a Riad depois de assumir a Presidência, evitou apertar a mão do ditador, embora tenha ido se humilhar para pedir a Bin Salman para vender mais petróleo para compensar o embargo imposto à Rússia. 

Não deu certo, como sabemos, já que os sauditas passaram a comprar petróleo russo com desconto para consumo interno e a revender o excedente para os Estados Unidos e Europa, ganhando dinheiro em cima dos norte-americanos e europeus. Depois, fez um acordo com Moscou para reduzir a produção e aumentar o preço do barril no mercado internacional. Ainda assim, o presidente dos EUA esqueceu das acusações contra Bin Salman e o cumprimentou o ditador saudita.

Alguns podem questionar sobre os motivos de eu mencionar tanto a ditadura da Arábia Saudita aqui neste espaço. A resposta é simples – como o Ocidente pode condenar corretamente regimes como a Rússia e o Irã ao mesmo tempo que ignora as atrocidades sauditas. Conforme escrevi aqui, imaginem se Neymar, Cristiano Ronaldo e Benzema disputassem o campeonato da Síria em times pertencentes a Bashar al-Assad?


Fonte: O GLOBO