Chanceler Wang Yi também criticou a expansão da Otan em direção ao leste, afirmando que a atividade é parcialmente responsável pela guerra na Ucrânia
O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, afirmou, nesta terça-feira, que o país é contrário à "expansão desenfreada de alianças militares". A declaração do chanceler chinês ocorre em um momento de acirramento com os Estados Unidos, que tem aprofundado laços antigos e firmado novas alianças na região Ásia-Pacífico.
— China se oporá à expansão desenfreada das alianças militares e à redução do espaço de segurança de outros países — disse Wang em uma entrevista coletiva. — [Pequim tentará] solucionar as divergências e disputas entre países por meio do diálogo e das consultas.
A China alertou que qualquer tentativa de criar uma aliança similar à Otan na região Ásia-Pacífico provocaria conflitos. Há pouco mais de um mês, Washington, que já fazia parte de duas iniciativas de segurança na região, as alianças Quad e Aukus, anunciou uma parceria estratégica com Japão e Coreia do Sul, no que foi batizado por analistas de "mini-Otan" do Pacífico.
Na segunda-feira, em um novo esforço de expandir a influência geopolítica americana na região, o presidente Joe Biden recebeu líderes de 18 ilhas do Pacífico na Casa Branca. Trazendo à memória o esforço de guerra americano contra o Japão na Segunda Guerra Mundial, Biden afirmou que "a História do mundo" seria escrita "através do Pacífico" e reconheceu as soberanias das Ilhas Cook e Nieu, em um gesto diplomático.
O presidente dos EUA, Joe Biden, recebeu líderes de 18 ilhas do Pacífico na Casa Branca — Foto: Haiyun Jiang/The New York Times
Pequim também tem expandido suas áreas de influência no tabuleiro global. Em uma das mais recentes iniciativas de política externa, Xi Jinping anunciou uma "parceria estratégica" com o regime do ditador sírio Bashar al-Assad, levando os interesses chineses ao centro do Oriente Médio. Nesta terça, os chineses sinalizaram uma possível aproximação com Japão e Coreia do Sul, tradicionais aliados americanos.
Após uma reunião de subsecretários e altos-funcionários dos três governos, o porta-voz da chancelaria chinesa, Wang Wenbin, e um representante sul-coreano, afirmaram que uma reunião dos ministros das relações exteriores será realizada "nos próximos meses", em preparação a um encontro de cúpula trilateral. Se confirmado, será o primeiro encontro entre líderes dos três países desde 2019.
Em paralelo aos esforços diplomáticos, movimentações militares adicionam pressões às áreas de disputa. Enquanto o gigante asiático utiliza seu poderio naval para exercer pressão sobre países próximos em territórios marítimos disputados no Pacífico, como são os casos das frequentes manobras militares em Taiwan e a escalada de tensões com as Filipinas, a Coreia do Sul realizou nesta terça um raro desfile militar, em uma demonstração de sua tecnologia bélica de mísseis, tropas e tanques de combate.
Coreia do Sul realizou desfile militar nesta terça-feira — Foto: Anthony Wallace/AFP
O acirramento das relações com o bloco Ocidental foi acompanhado de uma ausência de Xi dos principais fóruns multilaterais integrados por China e Índia. O presidente chinês não compareceu aos encontros do G20, na Índia, e nem a Assembleia Geral da ONU. Na declaração desta terça, Wang se negou a confirmar se o líder comunista viajaria aos Estados Unidos para uma reunião com Joe Biden.
Existe a expectativa de uma reunião entre os dois presidentes durante o encontro de cúpula do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, que acontecerá entre 14 e 16 de novembro em São Francisco, mas Wang não confirmou a participação de de Xi no evento.
Guerra na Ucrânia
Wang fez suas críticas ao apresentar um amplo programa com metas de política externa da China para os próximos anos.
"Construir uma comunidade global de futuro compartilhado é o caminho a seguir para todos os povos do mundo", afirma o documento divulgado pela agência estatal Xinhua. "Porém, não é uma meta para ser alcançada da noite para o dia e não haverá navegação fácil", acrescenta o texto.
O documento também aborda a guerra da Rússia na Ucrânia, reiterando um texto divulgado há alguns meses pela China que foi considerado conciliatório em relação a Moscou. Segundo Wang, a expansão acelerada da Otan no leste da Europa é parcialmente responsável pela invasão da Rússia ao território da Ucrânia.
As potências ocidentais alertaram que as propostas chinesas poderiam permitir à Rússia manter grande parte do território que ocupou na Ucrânia.
"Os conflitos e guerras não produzem vencedores", afirma o documento divulgado nesta terça-feira, ao mesmo tempo que acrescenta: "Não há solução simples para uma questão complexa".
Fonte: O GLOBO
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