Ao lado do coreografo Rhony, a ginasta treinava sozinha, após todas as colegas, no CT do Time Brasil, no Rio e não usava a música; treino de pódio para o Mundial será a estreia para a comunidade da ginástica

Ao som das divas Beyoncé e Anitta, a ginasta Rebeca Andrade, medalhista de prata no individual geral e o ouro no salto em Tóquio-2020, apresentará sua nova coreografia do solo, nesta sexta-feira, no treino de pódio para o Mundial da Antuérpia. O evento é exclusivo para atletas e organização. O público conhecerá a apresentação no sábado, na estreia da competição.

Rebeca tem a missão de conduzir a seleção brasileira feminina na busca pela classificação aos Jogos de Paris-2024. O Mundial, entre sábado e 8 de outubro, distribuirá nove vagas de equipe para cada naipe.

O coreógrafo Rhony Ferreira contou com exclusividade ao Globo que a nova série se encerra com um trecho de Baile de Favela. Uma forma de homenagem à apresentação que consagrou Rebeca no ciclo olímpico de Tóquio. Após quatro anos, segundo regra da Federação Internacional da modalidade, Baile de Favela teve de ser aposentada.

— Juntei três divas nesta nova coreografia: Beyoncé, Anitta e Rebeca, a diva da ginástica artística mundial —diz Rhony, que abre mais detalhes: — Baile de Favela terá dois momentos nesta nova coreografia. O final, com a música em si, e no meio, com movimentos bem específicos como os "soquinhos no ar".

Rebeca Andrade, nos Jogos de Tóquio-2020: soquinhos no ar — Foto: Ricardo Bufolin/Divulgação CBGin

A brasileira que é a atual campeã mundial no individual geral começa sua nova série com "End of Time", de Beyoncé, com pose "de diva", imitando a cantora: braço esquerdo levantado, palma da mão para cima, e braço direito na cintura. A segunda música é Movimento da Sanfoninha, de Anitta (Rafael Castilho e DJ Pimpa), que toma grande parte do 1min29 de apresentação. O coreógrafo conta que este funk foi "abrasileirado" ganhando, por exemplo, apito de escola de samba.

Rebeca não quis comentar sobre a nova coreografia do solo. Disse apenas que para causar impacto nos fãs e juízes, o segredo é a surpresa.

— O que faz a diferença é na hora, ter aquela coisa: "Nossa ela mudou a música, está legal tanto quando a outra". Espero que essa nova música também traga o sentimento que Baile de Favela deixou. As brasileiras são muito elogiadas nas competições justamente pela variedade de coreografias e músicas. Apesar de termos várias meninas na mesma equipe, temos músicas diferentes. 

O Rhony sempre escolhe as músicas de acordo com as características de cada menina. Então fica muito diversificado, diferente uma da outra. E isso é bem legal. A surpresa de esperar e ver como vai ser será bom também.

Baile de Favela

Rhony explica ainda que "a forte referência ao Baile de Favela" nessa nova coreografia foi decidida por ele e por Rebeca porque ambos quiseram "imprimir uma marca registrada":

— O Baile de Favela foi tão icônico e marcante que nós resolvemos colocar referências na nova coreografia. Tipo uma marca registrada. A ideia é que as pessoas possam se lembrar do último Mundial e da Olimpíada de Tóquio. Tenho certeza que muita gente vai ter a sensação de "já vi esse movimento antes". Vão reconhecer na hora.
Segredo a sete chaves

Com o auxílio de Rhony, Rebeca ensaiou a nova coreografia em segredo desde o início do ano. Treinava no CT do Time Brasil, no Rio, quando todas as ginastas deixavam o local.

E quando isso não era possível, não usava a música. Ao final da preparação para o Mundial, nas duas últimas semanas no Brasil, o CT teve "casa cheia", incluindo os membros da seleção masculina. O pedido de sigilo, sem imagens de celular, foi atendido.

Rhony conta que algumas ginastas, como as que treinam no Rio, tinham visto partes antes. Sem a música e sem saber quais eram os encaixes da coreografia.

— Na véspera da viagem, conversamos com a equipe toda e pedimos que não filmassem o treino. Em um desses dias, ela treinou com a música e o CT inteiro parou para vê-la. Foi aplaudida pelos colegas e comissão técnica. Foi bem legal — contou Rhony, que também teve aval positivo de uma árbitra internacional que assistiu os treinos finais. — Conseguimos afinar bem a nova coreografia. Está super redondinha, bonita, vibrante, para cima e a cara da Rebeca. O público vai adorar.

Rebeca Andrade: Baile de Favela em Tóquio-2020 — Foto: Wander Roberto/COB

Segundo Rhony, Rebeca foi aperfeiçoando a coreografia no decorrer do ano. Isso porque é preciso coordenar os exercícios com a parte artística, tudo casado com a música. Desta vez, segundo ele, a ginasta quis participar de todo o processo. Escolheu as músicas que mais estava ouvindo e ambos fecharam os trechos das três músicas escolhidas.

— Das outras vezes, eu entreguei tudo prontinho mas achei muito legal essa construção em conjunto — conta Rhony. — E ela está executando tudo com bastante tranquilidade, bem confortável. As acrobacias da Rebeca são muito difíceis e foi preciso fazer ajustes no decorrer dos treinos para que ela se sentisse bem, com o nível de exigência, casado com a coreografia. Ou seja, ter a parte acrobática forte e a cara dela, sem perder o espetáculo da dança, a combinação com o ritmo.

Rebeca Andrade: com o ouro (individual geral) e o bronze (solo) do Mundial de Liverpool — Foto: Gilvan de Souza/Flamengo

Rhony comenta que a missão de substituir Baile de Favela foi difícil, mas que está muito satisfeito com a nova coreografia.

— Não queria que tivesse comparação de trabalhos. Então fiz algo bem diferente. O Baile de Favela, era na verdade Baile de Favela apenas nos últimos 28 segundos, o resto todo era Tocata e Fuga, de Johann Sebastian Bach, um clássico. Desta vez não tem nada a ver com clássico. Está bem moderno, atual, para cima e diferente.


Fonte: O GLOBO