Alberto Núñez Feijóo não consegue apoio no Parlamento em sua segunda investidura; partido de atual premier diz não às reivindicações dos separatistas espanhóis e afirma que não há espaço para referendo
— Não nos peça o que você recusa fazer — disse o líder conservador, que falou em apenas “saídas não honrosas. — O governo da mentira ou a repetição eleitoral.
A confirmação do fracasso de Feijóo, que teve 172 votos — os 137 deputados de seu partido mais 33 do Vox, de extrema direita, da Coalizão Canária e do UPN — abre caminho para que outro candidato tente formar governo em um período de dois meses. Caso também não consiga, novas eleições legislativas serão convocadas.
É provável que agora o rei Felipe VI encarregue Sanchéz de tentar formar governo. Para isso, o premier socialista terá uma tarefa um pouco mais complexa: negociar com os independentistas. Na quinta-feira, seu partido afirmou, em nota, que um referendo, como querem os líderes catalães, não estará sob a mesa de negociações.
Foi uma resposta da legenda à resolução acordada um dia antes no Parlamento catalão por Junts e a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), na qual propõem que não haverá investidura se Sánchez não se comprometer a “trabalhar para tornar efetivas as condições para a realização do referendo”.
Na quarta, Feijóo, de 62 anos, já havia sido derrotado em uma primeira votação e era esperado que dificilmente teria votos na segunda tentativa. Ciente da nova derrota, Feijóo passou grande parte da segunda sessão de investidura atacando Sánchez e os independentistas catalães.
— Ele vai emergir como líder da oposição — disse ironicamente o deputado socialista Óscar Puente.
Já a porta-voz da frente de esquerda Sumar, Marta Lois, disse ao presidente do PP que “os votos de que ele necessita são incompatíveis entre si”:
— Você não vai governar porque está de pés e mãos amarrados à extrema direita.
O PP tentou cooptar os votos do Partido Nacionalista Basco (PNV, na legenda em espanhol), sem sucesso. No Parlamento, o porta-voz da legenda, Aitor Esteban acusou Feijóo de ter feito um discurso “arrogante”, "contraditório" economicamente e "decepcionante" territorialmente.
— Entre o seu partido e o nosso existe um abismo muito profundo — disse Esteban , alertando que eles também têm princípios: — Um deles é não fazer política com a extrema direita.
Sánchez, por sua vez, tem apoio da Sumar, mas precisa dos partidos independentistas, dentre eles o catalão Junts, que tem sete cadeiras no Parlamento. O líder exilado da legenda independentista, Carles Puigdemont, impôs como condição central para o apoio que o governo promova a anistia aos condenados por participar da tentativa de independência da Catalunha, em 2017, executada à revelia do governo central. Puigdemont foi o líder do movimento e vive na Bélgica para evitar a prisão.
“Anistia” foi a primeira palavra que Feijóo falou ao abrir seu discurso nesta sexta-feira, enquanto o líder do PP no Parlamento se esquivou de falar sobre o tema. Por isso, o tema é visto como a peça-chave para que Sánchez permaneça no governo. De um lado estão o PSOE, de Sanchéz, o Sumar, além dois grupos nacionalistas catalães, bascos e o galego (178 deputados); do outro, PP, Vox e UPN (171). Para esse grupo, derrotado nesta sexta, as medidas de perdão constituiriam uma “humilhação” e uma “traição à Espanha”.
Otimista com a volta ao poder, o presidente do governo, que já perdoou em 2021 os condenados à prisão pela fracassada tentativa de independência, ainda não se pronunciou publicamente sobre uma possível anistia. Indicou, no entanto, que seria “coerente com a política de normalização e estabilização da situação política na Catalunha”, que tem seguido desde que chegou ao poder, em 2018.
Mas a história não termina aí, como alertaram nesta sexta-feira os líderes da ERC e do Junts durante o debate de investidura de Feijóo.
— Sem um referendo de autodeterminação, a anistia valerá pouco — proclamou o porta-voz da ERC, Gabriel Rufián.
Fonte: O GLOBO
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