Lucy Letby foi culpada e condenada à prisão perpétua pelo assassinato de sete bebês recém-nascidos e por tentar matar outros seis, mas ainda responderá por outras seis acusações

A enfermeira Lucy Letby, de 33 anos, vai ser submetida a um novo julgamento, decidiu a Justiça britânica nesta segunda-feira. No mês passado, ela foi condenada à prisão perpétua por ter matado sete crianças que estavam sob seus cuidados, no Hospital Countess of Chester, e tentado matar outras seis. No entanto, naquela ocasião, o júri não chegou a um veredicto sobre outras seis acusações de tentativa de homicídio.

A data do novo julgamento foi fixada em 10 de junho de 2024 após uma audiência, nesta segunda. Letby participou da sessão por meio de videoconferência, da cadeia onde está detida. A acusação afirmou, na audiência, que buscava um novo julgamento para o caso específico de uma bebê, identificada como Bebê K, que a enfermeira teria tentado matar no hospital. A advogada da ré afirmou que a cliente mantém a versão de que é inocente de todas as acusações.

O promotor-chefe Jonathan Storer disse que o pedido de um novo julgamento segue uma decisão "extremamente complexa e difícil".

— Antes de chegarmos às nossas conclusões, ouvimos atentamente as opiniões das famílias afetadas, da polícia e do Ministério Público — disse ele, em declarações reproduzidas pela BBC. — Muitos fatores concorrentes foram considerados, incluindo as provas ouvidas pelo tribunal durante o longo julgamento e o seu impacto no nosso teste legal para prosseguir com uma acusação.

'Eu sou má'

Notas manuscritas encontradas durante buscas policiais na casa de Letby estavam entre as evidências vistas pelo tribunal que a condenou, no mês passado. "Eu sou má, fiz isso", lia-se num dos escritos, em letras maiúsculas.

O post-it estava entre outros papéis que também registraram "protestos de inocência", conforme explicou o promotor Nick Johnson à Corte de Manchester Crown, durante o quarto dia do julgamento. Letby acabou sendo condenada por matar cinco meninos e duas meninas recém-nascidos, tornando-se a assassina em série infantil mais prolífica da história moderna do Reino Unido.

As mensagens escritas por Letby foram encontradas após a prisão dela. Outros escritos diziam: "Eu os matei de propósito" e "Nunca terei filhos ou me casarei". Durante o julgamento, a defesa da enfermeira alegou que as notas mostravam a "angústia, e não a culpa" de Letby. Seriam, na visão da defesa, "a manifestação de uma jovem quando soube que estava sendo acusada de matar crianças de que ela havia feito o possível para cuidar". A enfermeira negou ter machucado os bebês e afirmou que um grupo de quatro médicos seniores tentou culpá-la para cobrir as deficiências do hospital.

Ao proferir a sentença, o juiz responsável pelo caso afirmou que a mulher não demonstrou se arrepender de suas ações e que não havia fatores "atenuantes" para a imposição de pena menos grave.

— Havia uma malevolência que beirava o sadismo em suas ações. Durante o julgamento, você negou friamente qualquer responsabilidade por seu erro. Você não tem remorso. Não há atenuantes — destacou o juiz Goss, que citou "danos perpétuos" causados por ela às famílias dos recém-nascidos. — Você passará o resto de sua vida na prisão.

Lucy Letby foi presa após uma série de mortes de bebês na unidade neonatal do Hospital Countess of Chester, no noroeste da Inglaterra, entre junho de 2015 e junho de 2016.

A promotoria disse que Letby atacou suas vítimas jovens e muitas vezes nascidas prematuramente injetando ar, alimentando-as demais com leite ou as envenenando com insulina.

O júri inocentou Letby de duas acusações de tentativa de homicídio e não conseguiu chegar a decisões sobre outras seis acusações de tentativa de homicídio. Mas os múltiplos vereditos de culpa por assassinato já significavam que Letby enfrentava a perspectiva de nunca ser libertada da prisão.

A enfermeira lutou contra as lágrimas no banco dos réus, quando o júri retornou as primeiras decisões de culpa no início de agosto. Ela não estava no tribunal para as decisões finais e teria dito aos advogados que não compareceria à sentença.

'Resultado agridoce'

As famílias das vítimas de Letby disseram em um comunicado conjunto posteriormente que, embora "a justiça tenha sido feita", ela "não eliminará a extrema dor, raiva e angústia que todos nós tivemos que experimentar". Eles acrescentaram que foi um "resultado agridoce", pois algumas famílias não receberam os veredictos que esperavam.

Os primeiros bebês que Letby foi acusada de atacar eram gêmeos. Um menino, conhecido como criança A, tinha apenas um dia de vida quando morreu no início de junho de 2015, enquanto sua irmã mais velha sobreviveu a uma tentativa de assassinato. Após a morte de dois irmãos trigêmeos com 24 horas de diferença um do outro em junho de 2016, ela foi removida da unidade neonatal e colocada em funções clericais.

Dois anos depois, em julho de 2018, a britânica foi presa pela primeira vez. Em sua terceira prisão, em novembro de 2020, Letby foi formalmente acusada e colocada sob custódia. Os motivos que a levaram a cometer os crimes permanecem obscuros.

Durante o julgamento, a promotoria descreveu Letby como uma mulher "calculista", que "induziu" seus colegas a acreditarem que o aumento das mortes de bebês era "apenas uma maré de azar". O júri foi informado de que a enfermeira estava de plantão quando cada um dos bebês desmaiou. Alguns dos recém-nascidos foram atacados assim que seus pais deixaram seus berços.

O tribunal ouviu que Letby tinha um interesse incomum pelas famílias de suas vítimas, fazendo buscas por elas nas redes sociais. Ela também enviou um cartão de condolências aos pais enlutados de uma criança que, mais tarde, foi considerada culpada pela morte.

O governo do Reino Unido anunciou uma investigação independente sobre o caso e analisará como as preocupações dos médicos foram tratadas pela administração do hospital.


Fonte: O GLOBO