Criminoso foi condenado a 99 anos de prisão e estava foragido há anos

Policiais prenderam na tarde desta terça-feira (19), em Sumaré, no interior de São Paulo, um homem apontado como um dos líderes do assalto ao Banco Central de Fortaleza, em 2005 — considerado, até hoje, o maior da História do país. Na ocasião, a quadrilha de dezenas de criminosos levou cerca de R$ 165 milhões.

A prisão foi feita por agentes da Rota após um trabalho de inteligência da Polícia Militar, que descobriu o paradeiro do criminoso na cidade do interior do estado. Os agentes foram até um imóvel em Jardim Salermo, onde localizaram o integrante da quadrilha. O homem havia sido condenado a 99 anos de prisão e estava foragido há anos.

Na casa em que ele estava, foram encontrados celulares, drogas e dinheiro. Dois homens e uma mulher que estavam no local foram presos em flagrante por tráfico e associação para o tráfico, assim como o acusado de participar do assalto em Fortaleza.

Segundo a polícia, os presos foram levados para a Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), da Polícia Civil de São Paulo, e vão ficar à disposição da Justiça.

Relembre o caso

Na manhã do dia 8 de agosto de 2005, funcionários da sede do Banco Central na capital do Ceará abriram a sala da caixa-forte e encontraram um buraco de 1,1 metro de largura no chão. Estarrecidos, os empregados do banco acionaram a Polícia Federal. 

Não levou muito tempo até os investigadores descobrirem que o buraco no chão era o final de um túnel de 80 metros de extensão que começava na casinha de número 1071. E que a empresa que funcionava ali não passava de uma fachada para a atividade real de seus ocupantes.

Infográfico mostra detalhes do assalto ao Banco Central — Foto: Editoria de Arte

Estava sendo revelado, então, o maior assalto a banco da história do Brasil. As cerca de 3,5 toneladas de notas de R$ 50 roubadas da caixa-forte do Banco Central de Fortaleza totalizavam a fortuna de R$ 164 milhões. Ao longo dos anos seguintes, a Polícia Federal indiciaria nada menos que 134 pessoas, das quais mais de 90 receberam condenações pelo envolvimento com o roubo. Cerca de R$ 40 milhões foram recuperados.

O crime serviu de base para o filme "Assalto ao Banco Central", que em 2011 levou mais de 1,8 milhão de espectadores a salas de exibição do país. Ingredientes para um roteiro de cinema não faltaram. Revestido de lona e escorado por vigas, o túnel de 70cm de largura feito pelos ladrões chegava a quatro metros de profundidade, passando abaixo das galerias de esgoto, atravessando a movimentada Avenida Dom Manuel, no Centro de Fortaleza.

A passagem tinha luz elétrica, e um aparelho de ar-condicionado de 18 mil BTUs instalado na casa da Rua 25 de Março refrescava o túnel por meio de uma mangueira. Para perfurar o piso de concreto da caixa-forte, que tinha 1,1 metro de espessura, reforçado com aço, os bandidos usaram maquitas com disco de diamante e até uma britadeira.

Diversos indícios deram pistas de que o bando contou com informações de alguém que trabalhava no Banco Central: nenhum alarme foi disparado, uma das câmeras de segurança na sala do dinheiro estava obstruída por uma empilhadeira e os criminosos sabiam com exatidão o local onde perfurar o piso do cofre. 

O roubo começou na noite de sexta-feira, dia 5 de agosto, e terminou por volta das 12h do dia seguinte. Enquanto estiveram dentro da caixa-forte, os criminosos tomaram o cuidado de não levar cédulas novas, seriadas, para evitar o rastreamento. Eles pegaram apenas as notas que já haviam circulado no mercado e, danificadas, haviam sido recolhidas e estavam lá para passar por análise. Boa parte seria destinada à incineração.

Para transportar o dinheiro por dentro do túnel, os bandidos usaram um sistema de roldanas, em que bacias cheias de notas eram puxadas por cordas. Após concluído o crime, os ladrões tiveram mais de 40 horas de vantagem na fuga, já que o crime só foi percebido às 8h15 de segunda-feira, quando começou o expediente no Banco Central.

Procurados pela Polícia Federal, vizinhos da casa 1071 não haviam desconfiado de nada. Após alugar o imóvel, os criminosos reformaram e pintaram a fachada e divulgaram que estavam abrindo uma empresa de paisagismo. 

"Até o carro usado, uma van branca de placa HOY 0734, tinha a logomarca da empresa Grama", segundo informou a reportagem do GLOBO publicada no dia 9 de agosto de 2015. Algumas pessoas viram grandes quantidades de terra sendo movimentadas, mas concluíram que fazia parte da atividade da "empresa". Ainda de acordo com a matéria, no imóvel da Rua 25 de Março, policiais acharam parte do equipamento usado na escavação, como calças de moletom, joelheiras e luvas.

Os bandidos fugiram com o dinheiro de roubo para diferentes estados. Antes de deixar a casa, os assaltantes espalharam cal pelo imóvel, com objetivo de impedir a coleta de impressões digitais. Ao longo dos meses e anos seguintes, alguns dos principais envolvidos foram presos. Entre eles, Antonio Jussivan dos Santos, o Alemão. 

Acusado de ser o mentor do crime, ele foi condenado, em 2009, a 49 anos de prisão em regime fechado. Luis Fernando Ribeiro, também apontado como líder, foi sequestrado e morto em outubro de 2005, mesmo após sua família pagar R$ 2 milhões de resgate. Ex-vigia do BC, Deusimar Neves Queiroz foi preso ainda em 2005. Em 2007, ele foi condenado a 47 anos de prisão.


Fonte: O GLOBO