Empresa de telecomunicações prometeu para esta quinta-feira o reestabelecimento da internet e da telefonia na região, e especialistas afirmam que o boicote foi deliberado

Mais de 43.000 pessoas foram deslocadas pelas inundações provocadas pela tempestade Daniel, que devastaram o nordeste da Líbia há 10 dias, anunciou a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

A tempestade Daniel afetou a cidade líbia de Derna durante a noite de 10 de setembro e provocou o rompimento de duas barragens. A água dos reservatórios gerou um fluxo que destruiu bairros inteiros. Mais de 3.300 pessoas morreram na tragédia, segundo um balanço provisório das autoridades do leste da Líbia. 

O balanço real, no entanto, deve ser muito maior porque milhares de pessoas estão desaparecidas e há áreas em que o governo não atua no país. Algumas estimativas afirmam que mais de seis mil pessoas teriam falecido com os impactos da tempestade.

A OIM destacou que a falta de abastecimento de água obrigou vários desabrigados a abandonar Derna. As autoridades líbias pediram aos moradores da região que não consumam a água procedente das tubulações porque o abastecimento foi contaminado pelas inundações.

A Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (UNSMIL) anunciou esta semana que suas agências estavam trabalhando para "prevenir a propagação de doenças e evitar uma segunda crise devastadora na região".

A empresa nacional de telecomunicações informou que restabeleceu as redes de telefonia e de internet em Derna nesta quinta-feira, após um apagão durante a semana e dos protestos contra as autoridades locais pela gestão da catástrofe. As autoridades relataram uma "ruptura na fibra óptica", mas vários especialistas afirmaram que o apagão foi deliberado.

Patrimônio histórico

Além de todo o impacto humanitário, as imponentes ruinas da antiga cidade grega de Cirene, Patrimônio Histórico da Unesco, correm perigo de ruir por causa das inundações causadas com a tempestade Daniel. O local foi construído há 2.600 anos:

— Trata-se de um sítio gigantesco e da maior colônia grega, uma cidade construída entre o fim do século VII e começos do século VI antes de Cristo — explicou à AFP Vincent Michel, chefe da missão arqueológica francesa na Líbia.

Os primeiros habitantes de Cirene vinham de Tera, na atual ilha grega de Santorini. Eles criaram a cidade na região por suas terras férteis e abundância de água.

Segundo Claudia Gazzini, especialista em Libia do International Crisis Group — que visitou Cirene nos últimos dias — grande parte da área segue alagada e há alguns trechos de construções que já caíram.


Fonte: O GLOBO