Pedaço do Bennu pode revelar detalhes sobre primeiros dias do sistema solar e possíveis origens da água na Terra

Pedaços de asteroide que poderiam nos contar sobre os primeiros dias do sistema solar de 4,5 bilhões de anos e as possíveis origens da água em nosso planeta devem pousar no deserto de Utah no próximo domingo. Já se passou mais de uma década em preparação para uma missão da Nasa chamada OSIRIS-REx. Seu objetivo era coletar uma grande amostra de rochas e poeira de um asteroide próximo à Terra, chamado Bennu, e trazê-la ao nosso planeta para estudo.

A espaçonave conquistou com sucesso seu prêmio em 2020 e neste fim de semana finalmente passará pela Terra e lançará uma cápsula contendo a amostra e a enviará para Utah.

— Este é, claro, o momento que todos esperávamos — disse Lori Glaze, diretora da Divisão de Ciência Planetária da Diretoria de Missões Científicas da Nasa.

A amostra ajudará os cientistas a obter uma visão instantânea de quais materiais estavam presentes quando o nosso Sistema Solar se formou. Os investigadores acreditam que asteroides como Bennu não mudaram muito desde o nascimento da nossa vizinhança cósmica. Eles planejam estudar as rochas recuperadas e usar a missão para subsidiar futuras explorações.

— Acreditamos que os asteroides poderiam ter sido a fonte de material não apenas para construir as partes rochosas do nosso planeta, mas também para fornecer a água que constitui o nosso sistema hidrológico — disse Glaze.

Os cientistas não sabem exatamente quanta amostra há no recipiente, mas suspeitam que seja a maior quantidade já coletada de um asteroide, pesando cerca de 250 gramas – ou quase tanto quanto um hamster. Isso lhes dará mais rochas para analisar do que nunca.

A OSIRIS-REx capturou mais rochas e materiais do que o esperado – tanto que emperrou o coletor de amostras da espaçonave e parte dela foi expelida para o espaço. A NASA optou por não medir a amostra e, em vez disso, armazenou rapidamente as rochas para mantê-las seguras.

Riscos menores

A espaçonave deixou Bennu com a amostra em 2021 e está a caminho da Terra desde então. Na manhã de domingo, a OSIRIS-REx chegará a 63.000 milhas da Terra, que é quando começa a última etapa da viagem – e não totalmente isenta de riscos.

Primeiro, a sonda irá libertar o recipiente da amostra – aproximadamente do tamanho de um pneu – para o espaço. Se o item não for lançado conforme planeado e ficar preso dentro da nave espacial OSIRIS-REx, a equipe terá de esperar até setembro de 2025 para tentar novamente. A espaçonave terá que dar uma volta ao redor do Sol novamente antes de chegar perto da Terra.

Se tudo correr bem, de lá o recipiente descerá até o planeta, levando cerca de quatro horas para chegar à atmosfera da Terra. Durante esse tempo, não há como controlar a cápsula.

— Assim que o lançarmos, será apenas um objeto balístico — disse Sandy Freund, gerente do programa OSIRIS-REx da Lockheed Martin.

O contêiner entrará na atmosfera a cerca de 43 mil quilômetros por hora e aquecerá até cerca de 2,7 mil graus Celsius. Ele possui um escudo térmico, uma peça crítica de hardware destinada a evitar que a amostra queime – o que encerraria a missão.

— Esse é realmente o seu pior cenário — disse Freund. — Suas amostras desapareceriam completamente.

À medida que desce, a cápsula irá liberar um paraquedas para mantê-la estável, seguido por outro paraquedas para desacelerá-la. Se tudo correr conforme o planejado, a cápsula pousará suavemente em Utah a uma velocidade de 16 a 18 quilômetros por hora. No cenário improvável de os paraquedas não funcionarem e a cápsula não desacelerar o suficiente, as amostras ainda poderão chegar ao solo.

— Estamos preparados para o cenário de pouso forçado — disse Freund. — Não é o ideal, mas as amostras estão no terreno, certo? Eles não estariam tão imaculados quanto a equipe gostaria, mas ainda estariam aqui.

De lá, um helicóptero irá rebocá-lo por cabo até uma sala limpa, onde uma purga de nitrogênio irá livrá-lo de possíveis contaminantes. Em seguida, vai para o Centro Espacial Johnson da Nasa, em Houston, onde a amostra será revelada ao público em outubro.

Uma equipe confiante

Apesar dos possíveis obstáculos, Freund diz que ela e sua equipe estão confiantes na missão. Eles fizeram vários ensaios para se preparar para o que antecede o domingo. Durante o outono do Hemisfério Norte, inúmeras aeronaves rastrearão o contêiner, bem como radares na área. A equipe também melhorou a tecnologia usada em missões anteriores de devolução de amostras.

— Aproveitamos muito da herança e tivemos muita sorte de poder fazer isso — disse Freund.

OSIRIS-REx também poderia ajudar a informar futuras missões a asteroides – talvez até mesmo aquelas para extrair recursos dessas rochas.

— No futuro, as pessoas têm falado sobre talvez sermos capazes de usar asteroides como recursos dos quais poderíamos nos aproveitar — disse Glaze. — Acho que as operações da OSIRIS-REx nas proximidades de Bennu foram realmente informativas sobre como você realmente faria algo assim.


Fonte: O GLOBO