Treinador estreia pelo Brasil contra a Bolívia, em Belém, pelas Eliminatórias da Copa

Começa a terminar hoje a era Fernando Diniz à frente da seleção brasileira. Ao fim do jogo contra a Bolívia, à noite em Belém, faltarão apenas sete partidas para o treinador ter seu trabalho concluído. Cinco pelas Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 2026, ainda neste ano, e outros dois amistosos em março do ano que vem. 

A seleção, então, será entregue aos cuidados de Carlo Ancelotti, que segundo a CBF estará na beira do campo durante a Copa América em junho de 2024 nos EUA. Até mesmo Emerson Leão, demitido em 2001 num aeroporto do Japão após perder a Copa das Confederações, teve mais jogos à frente da seleção do que Diniz terá ao fim de seu ciclo.

A não ser que a CBF esteja mentindo sobre a vinda de Ancelotti para o Brasil ao fim de seu contrato com o Real Madrid em junho de 2024 — possibilidade que não se cogita aqui.

Além de ter confirmado a contratação do italiano em declarações para microfones e câmeras, o presidente a entidade, Ednaldo Rodrigues, ofereceu a Fernando Diniz (que aceitou) um contrato com data para terminar, o que deveria encerrar discussões sobre sua condição de interino, termo definido no dicionário como sinônimo de "passageiro, provisório". 

O fato de Diniz não largar seu emprego no Fluminense – seu trabalho fixo, enquanto a seleção é um temporário – torna ainda mais forte a sensação de um arranjo transitório.

É um desperdício. Fernando Diniz é o técnico brasileiro mais inventivo de sua geração. Sua chegada à seleção brasileira deveria ser uma linda aventura com destino final na Copa do Mundo, e não um mandato-tampão com prazo de validade determinado antes mesmo de ter início, permeado pelo flagrante conflito de interesses que significa conciliar compromissos com CBF e Fluminense.

As manifestações dos jogadores ao longo desta semana sugerem que houve um encantamento com o —sempre segundo a decisão tomada e anunciada pela CBF — futuro ex-técnico da seleção brasileira. Neymar, 13 anos de seleção, três Copas do Mundo, campeão da Copa Libertadores com Muricy Ramalho, no Santos, e da Champions League com Luis Enrique, no Barcelona, afirmou ter feito “um trabalho completamente diferente” de tudo que já presenciou antes. 

“É outro tipo de futebol. Ele gosta de reinventar o futebol, de te dar opções. É um cara muito interessante.” Os elogios foram engrossados pelo lateral Danilo — que já foi dirigido na Europa por gente como Pep Guardiola, Zinedine Zidane, Rafa Benitez, Massimiliano Allegri — e pelo volante Casemiro, multicampeão no Real Madrid com o próprio Ancelotti.

Não houve nenhum contato entre Fernando Diniz e Carlo Ancelotti, ou entre profissionais que integram suas comissões técnicas. Ou seja: não existe nenhum tipo de transição em curso. A seleção que vai enfrentar a Bolívia hoje à noite no Mangueirão terá as virtudes, os defeitos e as ideias de Fernando Diniz, tomadas como revolucionárias por aqueles que vão interpretá-las em campo. A CBF já marcou no calendário o fim da revolução: assim que Carlo Ancelotti desembarcar no Brasil para, faltando dois anos para a Copa do Mundo, começar tudo de novo.


Fonte: O GLOBO