Com modalidade competitiva, esporte tem campeonatos nacionais e mundiais e sonha com inclusão nas Olimpíadas

Os pompons, uniformes chamativos e pirâmides humanas das líderes de torcida são figurinhas carimbadas de qualquer filme americano de sucesso. Mas para além das telas de cinema, o cheerleading (como é chamada a prática de animação de torcida) é considerado um esporte, que cresce no Brasil e já almeja inclusive virar uma modalidade olímpica.

São duas modalidades no cheerleading: o sideline, que compreende as animações de torcida, e o competitivo, com coreografias em grupo com dança, saltos, pirâmides e acrobacias sincronizados com uma música, e apresentação diante de jurados.

No país, a Confederação Brasileira de Cheerleading e Dança (CBCD) estima quase 100 mil praticantes, presentes nas universidades e em ginásios especializados, com aparelhos específicos para o treinamento de acrobacias, flexibilidade e outras habilidades. Muitos atletas descobrem o esporte na faculdade e buscam os ginásios para se desenvolverem, como Patrícia Monteiro, de 22 anos, estudante de engenharia de bioprocessos na Universidade Federal do Rio de Janeiro e coordenadora da equipe de competição do Cheers da Cachorrada:

— Eu me apaixonei por esse esporte. Você movimenta todo o seu corpo e se conecta com várias pessoas.

A modalidade ainda é recente e pouco conhecida no Brasil, o que reflete em dificuldades para os participantes na busca por patrocínio para arcar os custos. Rifas e vaquinhas são comuns para arrecadar fundos, até mesmo para enviar os atletas da seleção brasileira para representar o país nas competições internacionais.

— Enquanto não for uma modalidade olímpica, temos que andar com as próprias pernas — diz William Santana, pesquisador em Gestão do Esporte, especializado em cheerleading, que participa da modalidade desde 2013, tendo atuado como atleta e treinador.

Em 2015, o Brasil participou pela primeira vez do Mundial de Cheerleading, disputado todos os anos desde 2004. No Pan-Americano da ICU (União Internacional de Cheerleading, maior autoridade do esporte no mundo e que batalha pela inclusão do esporte nas Olimpíadas) de 2022, a equipe subiu no pódio pela primeira vez, com a medalha de prata. Já no Campeonato Mundial deste ano, os brasileiros trouxeram duas medalhas para casa, uma prata e um bronze.

Equipe treina cheerleading em ginásio da Gávea — Foto: Leo Martins

No ano passado, o Campeonato Brasileiro de Cheerleading teve 40 equipes, de seis diferentes estados — um crescimento em relação à edição anterior, em 2019 (antes da pandemia), disputada por 30 equipes de quatro estados. No Cheerfest, um dos maiores e mais relevantes campeonatos de cheerleading do Brasil, o número de equipes inscritas saltou de 17, em 2017, para 69 em 2022.

— Durante a pandemia, o cheerleading cresceu muito. Aqui no Brasil, tem um ideal de ser uma modalidade inclusiva, então pessoas de qualquer peso e altura podem participar. Para formar um bom atleta, nesse primeiro momento basta força de vontade — diz William.

O cheerleading também tem crescido nas escolas, mesmo que ainda não esteja tão presente quanto nas universidades. William defende que investir nessa faixa etária é imprescindível para que o esporte se desenvolva no país:

— No esporte, o alto rendimento chega depois de dez a 15 anos de carreira. Então é muito importante que o atleta comece a treinar desde criança.

O Gran Casino All Stars, ginásio especializado em cheerleading na Gávea, no Rio de Janeiro, conta com cerca de 20 atletas em idade escolar, em sua maioria alunas de escolas bilíngues, onde o cheerleading também é praticado, incentivadas por pais que veem o esporte como um caminho para pleitear uma bolsa de estudos em uma universidade estrangeira no futuro.

Mas Maria Manuela Anunciação, de 16 anos e que pratica o esporte desde 2021, sonha em ser uma atleta profissional. Ela foi ao Mundial neste ano, onde conquistou a medalha de prata:

— Foi muito legal. Pretendo continuar competindo.


Fonte: O GLOBO