Tricolor passou por alguns apuros na competição, mas soube sair das adversidades
Após a classificação épica do Fluminense à final da Libertadores, uma declaração do experiente lateral-esquerdo Marcelo, ainda no gramado do Beira-Rio, chamou a atenção: “A culpa é toda do Diniz”. A frase do multicampeão pelo Real Madrid, que voltou ao seu clube formador em 2023, evidencia o quanto o time tricolor está abraçado ao treinador. No ano em que também acumulou o cargo de interino na seleção brasileira, Fernando Diniz segue mostrando um vasto leque tático.
Na vitória de quarta-feira passada sobre o Internacional por 2 a 1, após ceder a questionamentos e montar um meio com três homens — André, Alexsander e Ganso —, não hesitou em voltar ao que vem sendo o padrão da temporada.
No intervalo, apostou em John Kennedy e em uma formação com quatro homens de frente. Na verdade, até conseguir o empate, chegou a ter apenas Nino como zagueiro. A virada foi um xeque mate de proporções continentais.
A formação ultra ofensiva apareceu nas quartas de final, contra o Olimpia. Diante de uma equipe paraguaia que já tinha dado lições ao eliminar o Flamengo, na fase anterior, fechando-se no Maracanã, Diniz surpreendeu ao escalar o mesmo Kennedy como titular. A vitória por 2 a 0 passava a impressão de que um ajuste circunstancial proporcionara o triunfo, mas a estratégia se seguiu na volta e, até hoje, é um ponto central que explica a vaga na decisão.
Mesmo com os retornos de Alexsander e Ganso, o treinador não quis voltar a escalar o time titular que havia conseguido os dois resultados mais expressivos da temporada: as goleadas por 4 a 1 sobre o Flamengo, na final do Estadual, e por 5 a 1 sobre o River Plate, na fase de grupos da Libertadores.
O começo de ano foi impressionante, mas o desempenho havia caído, e Diniz entendeu que a nova solução já havia se apresentado.
Ajustes nas adversidades
No jogo de ida da semifinal, Samuel Xavier foi expulso. O erro individual condicionou o andamento natural da partida, assim como pode se apontar o tropeço de Fábio em Nino no primeiro gol do Inter na volta. Ainda no Rio, jogadores como Marcelo e Felipe Melo revelaram que Diniz também prepara o time para estas situações de adversidade numérica. A fala do zagueiro revela uma influência ainda mais longa.
— O Diniz foi um dos grandes responsáveis pelo Fluminense não cair ano passado, e chegar numa terceira posição de Campeonato Brasileiro. Da maneira que estávamos, nós íamos brigar seriamente para não cair. Chegou e mudou todo o ambiente — disse Felipe.
Qual o percentual do trabalho de Diniz nesta campanha feita a muitos pés? Samuel Xavier já foi vilão, mas também reviveu o Fluminense diante dos Argentinos Juniors, nas oitavas. Germán Cano fez mais da metade dos gols do tricolor na Libertadores — 12 de 22. Talentos como Arias, André e Nino são maiores que números.
O certo é que a ousadia característica do treinador, desde que surgiu nacionalmente para o futebol, vem revelando novos heróis. A decisão da Libertadores será a cereja do bolo em caso de título da competição, sempre com as suas convicções, pois dessa forma tem mantido seus comandados unidos.
Volta por cima de John Kennedy
Herói da classificação à final, com um gol e uma assistência, John Kennedy passou por momentos de altos e baixos, até se estabelecer com o brilho que prometia desde a base tricolor. No futebol paulista, após fazer seis gols no Estadual deste ano pela Ferroviária, retornou ao Fluminense em abril, mostrou que a maré havia mudado, contando com o apoio renovado de Diniz, que demonstrou nunca desistido do atacante.
No fim do ano passado, a história do atacante de 22 anos parecia se distanciar das Laranjeiras, quando o clube o emprestou à Ferroviária, de São Paulo. Os motivos eram a série de problemas extracampo que ele acumulou.
— Esse menino é um grande vencedor, está se tornando um homem cada vez mais íntegro. O futebol perde a rodo talentos como esse no Brasil. Merece todos os elogios, todos os aplausos. Não é fácil ter a vida que ele teve. Ele vale ouro — disse o técnico, após a classificação.
Kennedy soma agora 30 jogos pelo Fluminense em 2023, com oito gols e quatro assistências. Fundamental em todas as fases do mata-mata da Libertadores, ele emplaca sua maior sequência pelo time. Não restam dúvidas de que o apoio de Fernando Diniz e do clube não foram em vão.
Fonte: O GLOBO
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