Número de casos no primeiro semestre de 2023 foi o segundo maior dos últimos 10 anos, segundo levantamento da Comissão Pastoral da Terra

O primeiro semestre de 2023 registrou o segundo maior número de conflitos no campo dos últimos 10 anos. Levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT) registrou 973 conflitos, 8% a mais do que nos primeiros seis meses do ano passado. Foi o segundo semestre mais violento em 10 anos. O ano mais violento desde o início da pesquisa, em 1985, segue sendo 2020, quando ocorreram 1.576 conflitos, 1.007 deles no primeiro semestre, com 29 mortes.

Os indígenas seguem sendo as principais vítimas. Das 14 mortes ocorridas de janeiro a junho, seis foram de indígenas. Até o início de outubro 18 pessoas foram mortas no Brasil neste tipo de conflito e 80% dos assassinatos ocorreram na Amazônia, a região mais perigosa e vulnerável para quem mora fora dos centros urbanos.

As terras indígenas seguem sendo também as mais disputadas e foram alvo de 38,2% dos conflitos ocorridos no primeiro semestre. Também nos conflitos por água, que diminuíram de 130 para 80 neste primeiro semestre, os indígenas são os mais afetados (32,5%), seguidos dos quilombolas (23,75%), pescadores (15%), posseiros (6,25%) e ribeirinhos (6,25%).

A CPT observa que, após 53 anos da carta "Uma Igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social", escrita por Dom Pedro Casaldáliga, um dos fundadores do Centro de Documentação Dom Tomás Balduíno (Cedoc), responsável pelo levantamento, a violência na Amazônia e o trabalho escravo seguem em destaque.

Nos primeiros seis meses do governo Lula, 1.408 pessoas foram resgatadas em condições análogas à escravidão, número recorde dos últimos 10 anos. Sozinho, o plantio de cana-de-açúcar teve resgate de 532 trabalhadores, seguidos por outras lavouras (331 pessoas), mineração (104), desmatamento (63), produção de carvão vegetal (51) e pecuária (46). Em 2022, o Ministério do Trabalho resgatou em operações de fiscalização 2.575 pessoas de situações de trabalho escravo contemporâneo.

O trabalho escravo ocupa o segundo lugar na lista de conflitos, que é encabeçada pela disputa por terras, envolvendo quase 527 mil pessoas no semestre. Segundo a CPT, 878 famílias tiveram suas casas destruídas, 1.524 tiveram seus roçados danificados e 2.909 perderam seus pertences. A maioria dos casos envolve crimes de pistolagem, grilagem e invasão de terras. Além dos indígenas, posseiros são alvos de quadrilhas, já que ocupam terras por gerações, mas não têm a regularização feita em cartório.


Fonte: O GLOBO