O dente-de-leão tem propriedades para o fígado, além do poderoso efeito relaxante e diurético

O dente-de-leão é uma das jóias da família das plantas medicinais e comestíveis, que não só tem adeptos cativos de um estilo de vida saudável, pelas suas múltiplas propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e diuréticas, mas também conquistou os chefes de cozinha. De sabor ligeiramente amargo, embora seja nativa da Ásia e da Europa, hoje pode ser encontrada em todos os continentes: cresce selvagem em zonas de prados, estradas, terrenos baldios, jardins e vasos.

Também conhecida como chicória amarga, é uma planta perene que costuma atingir 40 centímetros de altura e cuja flor varia entre dois e sete centímetros de diâmetro.

— O dente-de-leão faz parte de um grupo de plantas chamadas ‘ervas daninhas’, que são aquelas que crescem espontaneamente nos locais — diz Viktoriya Shcherbina, graduada em Nutrição e membro do Departamento de Alimentação e Dietética do Hospital de Clínicas da UBA. E aprofunda o fato de que a origem de seu nome tem uma conotação negativa por ter surgido no campo agrícola "em referência àquelas plantas que interferem na atividade humana nas áreas plantadas ao competir com as culturas pelos nutrientes do solo, água e luz".

Apesar dessas adversidades, ela é lisonjeada e bem recebida entre os defensores da medicina alternativa e entre os fãs da culinária. A este respeito, Karina Di Tullio, técnica de saúde e nutrição e especialista em nutrição Aiurveda (um sistema de medicina alternativa desenvolvido na Índia), descreve esta planta como tendo um sabor amargo e explica que é graças a esta característica que proporciona vantagens a nível digestivo. 

Além disso, Soledad Menéndez, Conselheira de Nutrição Dietética e Natural e Treinadora Certificada em Saúde e Estilo de Vida, comenta que outra das virtudes da planta leão é a versatilidade na hora de consumi-la já que “pode ser adicionada a todos os tipos de alimentos, especialmente saladas e infusões (como os chás)”.

Os benefícios para a saúde

O dente-de-leão é uma erva nobre, composta por 85% de água e repleta de propriedades benéficas à saúde. Porém, Viktoriya destaca que por se tratar de uma planta, que deve ser consumida em pequenas quantidades, “há certos minerais que não são aproveitados de forma eficiente em comparação com aqueles que vêm de origem animal”.

Em qualquer caso, é um poderoso antioxidante graças à presença de flavonóides, polifenóis, mucilagens e carotenóides, que, como explicou Soledad Menéndez, protegem as células do corpo dos radicais livres, que são substâncias tóxicas que se acumulam no corpo e podem causar doenças.

Além disso, esta planta possui propriedades diuréticas e purificantes, “que ajudam a eliminar o excesso de líquidos do corpo e estimulam a função renal”, afirma Karina:

— Por outro lado, sendo fonte de fibra, promove o trânsito intestinal e a digestão, purifica o fígado, reduz a obstipação e contribui para o desenvolvimento da microbiota. Como resultado de todos esses benefícios, o dente-de-leão também tem efeito antiinflamatório — especifica a técnica de saúde e nutrição.

Além disso, Viktoriya especifica que a raiz do dente-de-leão, em particular, contém inulina, “um polissacarídeo que atua como prebiótico e cuja função é estimular o crescimento da flora intestinal”.

Em relação aos micronutrientes, as especialistas consultadas mencionam que esta erva é uma importante fonte de vitaminas. O que mais se destaca é a C, cuja principal função, além de fortalecer o sistema imunológico, é “colaborar na produção de colágeno, fator muito importante nas mulheres com mais de 20 anos, já que a partir desta idade, embora muito pouco a pouco comecem a perdê-lo”, revela Soledad. Ao mesmo tempo, ela destaca que a ingestão desse nutriente também é essencial para quem segue uma dieta vegana e vegetariana porque melhora a absorção de ferro.

Por sua vez, a presença da vitamina A “protege a pele, ajuda a mantê-la saudável e dá brilho”, afirma Karina. O dente-de-leão também é uma fonte de vitamina K, que ajuda o corpo a construir ossos e tecidos saudáveis ​​e a coagular o sangue. Nesta erva também estão presentes vitaminas do complexo B, que colaboram no processo de fabricação de glóbulos vermelhos e enzimas, além de ajudar a manter a saúde dos neurônios cerebrais. Por fim, Karina destaca que "é rico em ácido fólico, essencial para prevenir a anemia e produzir glóbulos vermelhos".

Em relação aos minerais, a especialista em nutrição Aiuverda comenta que também é fonte de magnésio, responsável por regular e equilibrar o correto funcionamento do sistema nervoso e colaborar na formação de proteínas e pelo potássio, que faz parte da contração muscular e é responsável por manter a frequência cardíaca constante, melhorando a transmissão nervosa e a função renal. Além disso, conforme listam as especialistas, o dente-de-leão é fonte de cálcio, que fortalece e mantém ossos e dentes vitais e, o ferro, nutriente que transporta e armazena oxigênio no corpo e participa da constituição da hemoglobina, que são os glóbulos vermelhos.

Formas de consumo

Todas as partes da planta são comestíveis: desde as folhas e flores até a raiz. Estas últimas “podem ser cortadas finamente e adicionadas às saladas”, menciona Viktoriya e acrescenta que outra opção de uso é secar, torrar, moer e adicionar às infusões. Já as folhas podem ser consumidas fervidas ou cozidas no vapor e misturadas em ensopados, sopas ou purês. Se optar por comê-los frescos, a alternativa é “se forem frescos, combine-os em saladas e se estiverem maduros recomenda-se picá-los finamente, pois podem ter um sabor mais amargo”, especifica a nutricionista. E os botões florais, que também são comestíveis, se imaturos são consumidos crus, cozidos no vapor, cozidos, fritos ou em forma de picles.

Porém, para evitar que a planta perca os nutrientes durante o cozimento, é preciso levar em conta o seguinte segredo:

— Deve ser adicionado à água assim que começar a ferver para que o tempo de cozimento seja curto — revela Viktoriya. E ressalta ainda que os principais nutrientes afetados por essa destruição são as vitaminas lábeis, sensíveis ao calor, como C e A.

A este respeito, a Conselheira de Nutrição comenta que outra opção é consumir o dente-de-leão como “tintura mãe”, que é o extrato hidroalcoólico de uma planta depois de macerada e que “se toma em gotas”. Como explicou Soledad, a virtude de tomá-lo desta forma é que suas propriedades estão em maior concentração, por isso “é muito eficaz para tratar, por exemplo, problemas de fígado”.

Questionada sobre a quantidade de consumo estipulada, Soledad detalha que por se tratar de uma erva não se deve consumir em excesso, caso contrário, “se forem ingeridas diariamente grandes quantidades, a longo prazo pode ocorrer algum tipo de rejeição ou desconforto gástrico”. 

Por sua vez, a nutricionista Viktoriya explica que apesar de suas propriedades, seu uso pode ser contraindicado em pessoas com patologias renais, biliares e digestivas, “por isso é extremamente importante consultar um profissional antes de ingeri-lo”. Ao mesmo tempo, as especialistas concordam que não recomendam o consumo de dente-de-leão para crianças menores de dois anos e mulheres grávidas, uma vez que “não existem estudos suficientes para apoiar o seu consumo nestes grupos populacionais”.

Porém, deixando de lado esses casos excepcionais, esta erva é indicada para adultos saudáveis, principalmente aqueles que desejam melhorar o metabolismo. A técnica de saúde e nutrição orienta:

— Uma boa opção na hora de adicioná-la em diferentes infusões é combinar com outras espécies como a camomila, não só para realçar os sabores, mas também para agregar ainda mais nutrientes — explicou Karina. Já para para Soledad, outra alternativa para quem não tolera totalmente o sabor amargo é misturá-lo com algumas gotas de limão, um cítrico que acalma aquele sabor intenso.

Por fim, embora os dentes-de-leão possam ser encontrados em lojas de produtos dietéticos, há quem opte por coletá-los diretamente da natureza. Nestes casos, Viktoriya finaliza com um conselho:

— Para a coleta de ervas daninhas é preciso ter cuidado e saber identificar áreas contaminadas seja por animais, lixões, plantações fumigadas com agrotóxicos ou com grande fluxo de tráfego. Portanto, quando as plantas silvestres são colhidas para consumo, é necessário verificar se elas vêm de áreas seguras e livres de contaminantes.


Fonte: O GLOBO