A má esterilização do material e a falta de cuidados após a aplicação do metal podem causar inflamação, lesões dermatológicas e transmissão de doenças

O piercing é uma forma de modificação do corpo humano através de furos na pele com a aplicação posterior de metais e joias. No Brasil, a prática é muito comum, no entanto, ela pode apresentar riscos para a saúde quando não realizada da maneira correta.

Quais são os riscos?

O piercing pode deixar a região onde for colocado mais suscetível a infecções bacterianas, lesões dermatológicas e até mesmo consequências mais graves, como a transmissão de vírus do HIV ou da hepatite B, em caso de materiais contaminados com sangue que não tenham sido esterilizados.

No caso das infecções, quando avançadas podem levar bactérias a se espalharem pela corrente sanguínea e provocar danos em outros órgãos do corpo. Outras complicações incluem alergias, sangramentos excessivos e formação de queloides (cicatrizações que formam protuberâncias na pele).

Em entrevista ao GLOBO, a dermatologista Ana Carolina Sumam, membro especialista da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), detalhou como acontecem as reações alérgicas.

— Ela pode acontecer devido ao próprio metal da joia. Qualquer corpo estranho no nosso organismo pode levar ao desenvolvimento de um granuloma, que é uma inflamação em forma de nódulo. Existe também o granuloma piogênico, que é acompanhado de um sangramento intenso e demanda um tratamento cirúrgico — elucida.

A gravidade dos riscos varia ainda de acordo com o local colocado, sendo os genitais e os orais os mais propensos a casos de infecção, como informa a dermatologista Natasha Crepaldi, professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

— Cerca de 20% dos casos de piercing tem algum tipo de complicação, e os maiores riscos são na boca e na região genital devido à umidade e ao grande numero de bactérias nos locais. No caso de problemas, o ideal é procurar ajuda médica para tratamento imediato — afirma a especialista.

As consequências variam de acordo com a região do corpo. De acordo com um artigo publicado por pesquisadores da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, na revista científica American Journal of Clinical Dermatology, os modelos orais podem levar a dificuldades para comer e falar, salivação excessiva e problemas dentários.

Além disso, assim como os nasais, podem ser aspirados, ainda que seja raro, o que demanda uma remoção cirúrgica. Já os colocados nas orelhas, nos mamilos ou no umbigo são mais suscetíveis a rasgarem a pele do local. Em casos mais graves, os genitais podem levar à infertilidade como consequência de uma infecção grave na região e à obstrução da uretra devido a uma má formação da cicatriz.

Como evitar?

Para evitar os riscos de alguma consequência à saúde, os médicos alertam para que o procedimento seja realizado apenas em locais especializados, que utilizem equipamento descartáveis, como agulhas não reutilizáveis e luvas cirúrgicas, e que realizem a devida higienização durante todo os processos.

— Fazer o procedimento em locais com alvará da vigilância sanitária válido é bem importante, pois garante os cuidados com a higiene e a prevenção das complicações — orienta Natasha.

“Quando se trata de complicações de piercings, a prevenção é a chave. Os body piercers (nome dado aos profissionais da área) devem ter um histórico médico e social completo para identificar condições que possam predispor um indivíduo a complicações, e os candidatos devem escolher um profissional qualificado para realizar seu piercing”, orientam os pesquisadores americanos.

Outro ponto reforçado pelos especialistas são os cuidados para evitar as infecções posteriores ao momento do furo, como não encostar na área com as mãos sujas, não consumir alimentos gordurosos que aumentam as chances de inflamação e manter a região limpa.

— Os problemas podem acontecer tanto no momento em que a pessoa coloca o piercing como a médio e longo prazo. Nós sabemos que nossa pele é colonizada por diversos microrganismos. Eventualmente, estamos com imunidade mais baixa e esses agentes podem se proliferar mais intensamente e provocar uma infecção no local — explica Ana.

Além disso, é importante dormir sobre a área que foi perfurada seja evitado e que, em caso de sinais de uma possível infecção – como dores e inchaço por um período prolongado e presença de pus – o atendimento médico seja procurado imediatamente.

Especialistas recomendam ainda que, antes de realizar o furo, a pessoa tenha a vacinação de tétano e hepatite B atualizada, pois são doenças que, assim como o HIV, podem ser transmitidas em caso de materiais contaminados. Orienta-se também que não se coloque o item em momentos de baixa imunidade pois essa resposta imune mais baixa dificultará o combate do corpo a possíveis microrganismos em contato como o local da perfuração.


Fonte: O GLOBO