Troca ocorre em ano de resultados fracos. Entre os desafios para o novo presidente estão a taxa de inadimplência em alta e as negociações com a Americanas. Ações sobem mais de 5%
O Bradesco informou nesta quinta-feira que mudou a presidência do banco. Marcelo de Araújo Noronha assume o cargo em substituição a Octavio de Lazari Junior, que estava há cinco anos à frente da empresa. Ele vai integrar o Conselho de Administração da companhia. O mercado reagiu bem à troca: as ações do Bradesco abriram em alta de mais de 5%.
O nome de Noronha não foi visto como uma surpresa, mas o "timing" da troca chamou a atenção de especialistas. A saída de Lazari, aos 60 anos, acontece antes da idade limite para permanência na presidência do banco: 65 anos.
Lazari começou a trabalhar no banco com 15 anos como contínuo de uma agência na rua 12 de Outubro, rua de comércio popular em São Paulo. Abandonou o sonho de ser jogador de futebol — na época, ele jogava no Palmeiras — para trabalhar naquela unidade do banco, a qual seu pai era cliente e havia usado o relacionamento com o gerente para pleitear a vaga ao filho.
Um analista de mercado que pediu para não ser identificado disse que um dos fatores para a troca no comando antes do esperado podem ser os números mais fracos do banco este ano.
Na nota divulgada pelo banco, o presidente do conselho do banco, Luiz Carlos Trabuco, afirmou que “cada geração de executivos tem seu momento de maturação, ritos de passagem e patrimônios acumulados como legado. O momento representa um cenário propício para dar visão renovada aos movimentos necessários em direção aos objetivos colocados pelo Conselho de Administração do Bradesco. O momento representa um cenário propício para dar visão renovada aos movimentos necessários em direção aos objetivos colocados pelo Conselho de Administração do Bradesco”, afirmou na nota.
Agência do Bradesco — Foto: Gabriel Monteiro/foto de arquivo
Inadimplência elevada
Além do impacto da inadimplência elevada, os números do banco de Osasco também foram prejudicados com a crise da Americanas, já que o Bradesco estava entre seus principais credores.
Em janeiro passado, quando a varejista anunciou inconsistências contábeis de R$ 20 bilhões - o que a empresa classificou depois como fraude, com valor total de R$ 25 bilhões - o Bradesco anunciou uma provisão extraordinária de R$ 4,9 bilhões para cobrir sua exposição total à Americanas, o que levou o banco a registrar uma queda de 76% do lucro no quarto trimestre de 2022, caindo para R$ 1,5 bilhão.
No mesmo período, o Itaú, que também provisionou 100% de suas exposição à Americanas, lucrou R$ 7,6 bilhões, 71% a mais na comparação anual.
No terceiro trimestre, o lucro veio acima da expectativa de analistas, alcançando R$ 4,6 bilhões. Mas o índice de inadimplência permaneceu elevado. Ficou em 6,1%, ante 5,9% no segundo trimestre e 3,9% no terceiro trimestre do ano passado.
No mesmo período, o Itaú teve lucro recorrente de R$ 9 bilhões, uma alta de 11,9% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Injeção na Americanas
Além de lidar com a inadimplência, Noronha terá de tocar as negociações com a Americanas. Um acordo com os quatro principais bancos credores está para sair. Os termos, segundo fontes, contemplam uma injeção de R$ 24 bilhões, dos quais metade viria dos três acionistas de referência e metade dos bancos (Bradesco, Santander, BTG e Itaú).
“O contexto de mercado é absolutamente desafiador, do ponto de vista da eficiência operacional, aumento da competitividade e ambiente regulatório”, complementou Trabuco.
Noronha, por sua vez, disse que “o mercado é muito competitivo e exige múltiplas capacidades". "Com os pés no chão, tenho consciência da minha missão. E não será diferente dessa vez. Tenho visão plena das decisões relevantes que me aguardam, e o tamanho da carga das expectativas dos clientes, colaboradores e acionistas do Bradesco", disse em comunicado.
Quem é o novo presidente do Bradesco?
Noronha tem 38 anos de atuação no mercado financeiro, 20 dos quais no grupo Bradesco. Com 58 anos, o novo diretor-presidente iniciou sua carreira bancária, em 1985, no Recife.
Transferiu-se para São Paulo em 1994 e, antes de ingressar no Bradesco, trabalhou na diretoria do Banco Bilbao Vizcaya Argentaria Brasil até 2003. Foi, também, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (ABECS) entre 2013 e 2017.
De acordo com nota do Bradesco, Noronha "ascendeu a todos os cargos da diretoria do Bradesco e vinha exercendo, nos últimos oito anos, o cargo de diretor vice-presidente, cumulativo com outros que ocupa e continuará ocupando em empresas da organização".
Ele é formado em Administração pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com especialização em finanças, pelo IBMEC, e Banking, pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Integrou o programa de Advanced Management pelo Instituto de Estudios Empresariales da Universidade de Navarra, em Barcelona (IESE).
Sua última área de responsabilidade no Bradesco foram os segmentos Varejo e Prime.
O executivo também esteve à frente, como vice-presidente das áreas de Corporate, Bradesco Empresas, Bradesco BBI, Internacional e Câmbio, das subsidiárias internacionais (Buenos Aires, Cayman, New York, Londres, Luxemburgo e Hong Kong) e das Corretoras Bradesco e Ágora.
Antes disso, atuou ainda como vice-presidente responsável pelo Bradesco Cartões e a pelas empresas coligadas de meios de pagamentos.
Também foi membro dos Conselhos de Administração da Cielo, Alelo, Livelo e Elopar, e atuou como presidente da ABECS por dois mandatos pelo período de quatro anos. É conselheiro da Confederação Nacional das Instituições Financeiras.
Fonte: O GLOBO
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