Para os solteiros que estão cansados de namorar, ter um animal de estimação ajuda a preencher o vazio do relacionamento
Alexandra Clayton está solteira há dois anos, o que lhe dá tempo suficiente para chegar a uma conclusão sobre o namoro: não é realmente o que ela gosta, pelo menos por enquanto.
— Simplesmente não tenho energia para fazer isso constantemente — diz Clayton, 36 anos, cineasta freelancer de Los Angeles.
Mas ela tem tempo para 100 beijos por dia em Roo, seu “super vira-lata” de 8 anos e 11 quilos. Sua agenda diária também consiste em caminhadas tranquilas e longas sessões de abraços no sofá com seu cachorro.
Recentemente, Clayton passou pouco tempo em aplicativos de namoro e, em vez disso, efetivamente se estabeleceu com Roo. A angústia do namoro que a consumiu durante anos está bem no retrovisor, disse ela, e a vida nunca pareceu mais completa. Com Roo ao seu lado, em vez de um parceiro humano, “cresci e me tornei um lugar onde estou realmente segura e feliz”, disse ela.
Nem todo mundo entende sua escolha atual de parar de procurar um parceiro – os familiares apontaram sua idade e seu desejo de ter filhos. Mas Clayton não está sozinha. Numa pesquisa de outubro patrocinada pela Rover, uma empresa de cuidados com animais de estimação, quase 250 entre mil proprietários de cães e gatos nos Estados Unidos disseram que adiaram intencionalmente o namoro ou o casamento por causa de seus laços profundos com seus animais de estimação.
Quando se trata de escolher um parceiro para a vida, “temos três sistemas cerebrais muito básicos”, disse Helen Fisher, antropóloga que é investigadora sénior no Instituto Kinsey.
— Eles são desejo sexual, sentimentos de profundo amor romântico e sentimentos de profundo apego — explica Fisher.
Quando os animais de estimação demonstram carinho e você os acaricia, ela disse, isso aumenta “seus níveis de oxitocina e você sente uma sensação de apego”.
Elizabeth Robinson, 54, nunca foi casada e não namora há mais de 10 anos. E para ela tudo bem, porque ela divide um apartamento com seu cão de resgate, Watson, e Legs, um gato que ela herdou quando seu vizinho morreu.
— Eu sei que é realmente clichê dizer que os cães são melhores que as pessoas —, mas às vezes é verdade, disse Robinson, treinadora profissional de cães e consultora de comportamento canino em Clinton Hill, Brooklyn.
Ela namorou quando tinha entre 30 e 40 anos de idade, envolvendo-se em relacionamentos românticos com homens que ela ainda considera “adoráveis”. Mas ela não quer mais mergulhar no grupo cada vez menor de homens disponíveis, mesmo para dar uma olhada superficial, disse ela.
— Não sinto necessidade de continuar tentando relacionamento após relacionamento —, afirma Robinson, na esperança de encontrar um parceiro humano que possa ter mais a oferecer do que Watson e Legs.
Segundo ela, os laços com outras pessoas são importantes, mas os cães facilitam sua formação. Robinson desenvolveu dezenas de amizades íntimas por meio de caminhadas regulares pelo Fort Greene Park com Watson e seu antecessor, Ed, que morreu no ano passado. Clayton encontrou uma rede semelhante em Los Angeles.
Por enquanto, tanto Robinson quanto Clayton consideram que a falta de intimidade romântica vale a troca.
— Eu adoraria encontrar o amor de novo. Mas sinto que passei muito tempo me contorcendo e contorcendo minha vida pelos meus relacionamentos — afirma.
Com Roo, seu animal de estimação nos últimos seis anos, não há como recuar.
— Ele é um tipo feliz e otimist. E nunca há briga — avalia.
Robinson sabe que mesmo desacoplada está em boa companhia.
— Muitas pessoas no meu círculo não são um casal e não são pais — conta, acrescentando que perder a criação dos filhos não fez com que sua vida parecesse menos dimensional ou insatisfeita.
— Todos nós amamos crianças, mas não as temos.
Coppy Holzman, 68 anos, proprietário do Boris & Horton, um café que aceita cães em Williamsburg, no Brooklyn, e no East Village, em Manhattan, também adora crianças. Ele tem três netos e três filhos – e é dono de seu negócio com sua filha, Logan Mikhly. (Os cafés têm o nome de seus cachorros.)
Holzman, que é divorciado, experimentou as recompensas de se casar e constituir família. Mesmo assim, ele entende por que alguns donos de animais optam por permanecer solteiros.
— Tendo sido casado e envolvido em muitos relacionamentos, posso dizer que Boris é ótimo —, diz Holzman, que mora no West Village com seu pit bull de 36 quilos.
— Eu o amo demais e me sinto emocionalmente apoiado por ele.
O companheirismo de Boris levou Holzman a se tornar mais seletivo no que diz respeito às relações humanas.
— Não quero dizer que não namoro, mas não estou procurando nada. Não estou namorando tão ativamente como estaria sem ele – o que temos parece funcionar — avalia Holzman.
Ele reconhece as limitações óbvias de ter um relacionamento primário com um animal de estimação.
— Temos conversas amorosas, mas são transacionais, como "Você está com fome?" ou "Quer dar um passeio?". Estou autoconsciente o suficiente para não discutir as notícias com ele nem nada — conta Holzman.
Ele também não pode pedir ajuda a Boris para resolver questões financeiras, de saúde ou domésticas – o que representa um desafio para as pessoas que dependem de seus animais de estimação para apoio emocional.
— Se houver uma grande decisão a ser tomada, não tenho ninguém com quem consultar — avalia Robinson.
Por outro lado, “se há uma grande decisão a ser tomada, não preciso consultar ninguém”.
Loving Roo foi uma revelação para Clayton.
— Você não precisa seguir esse caminho tradicional de vida que foi enfiado em nossas gargantas, especialmente como mulheres. É tão bom não estar em um lugar carente — , reflete.
As pessoas que priorizam seus animais de estimação em vez de parceiros românticos podem voltar a desejar a companhia humana – até porque cães e gatos vivem vidas mais curtas do que as pessoas. Com animais de estimação, “você obtém algo que o acalma e faz com que você se sinta amado e apreciado”, disse Fisher, a antropóloga.
Mas ao abrir mão do romance e da intimidade, “você está estimulando apenas um desses três sistemas cerebrais básicos”, disse ela.
— Os outros evoluíram para nos manter vivendo vidas longas e felizes. Na minha opinião, é mais saudável ativar também os outros sistemas cerebrais.
Tom Blake, colunista de conselhos sobre relacionamentos em Dana Point, Califórnia, disse que “a maioria das pessoas que conheço que estão satisfeitas com seus companheiros de estimação ainda admitem secretamente que gostariam de um parceiro humano”. Ele incentiva as pessoas a satisfazerem esse desejo secreto:
— Sair e conhecer pessoas. Abrace seu animal de estimação quando chegar em casa.
Fonte: O GLOBO
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