Governador tenta agenda sobre recuperação fiscal, mas chefe do Executivo privilegia presidente do Senado e ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira

Em Brasília para tentar destravar a proposta de renegociação da dívida pública de Minas Gerais, que está em R$ 161 bilhões, o governador do estado, Romeu Zema (Novo), não conseguiu se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos últimos dias. 

O petista, no entanto, tem aberto as portas para conversar com outras lideranças mineiras a respeito do assunto, e ontem recebeu o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), o presidente da Assembleia de Minas, Tadeu Martins Leite (MDB), e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. O trio defende um plano diferente de Zema.

O chefe do Executivo estadual voltou ao Brasil depois de ter passado 18 dias em missão oficial na Ásia e tem priorizado as articulações para sanar o rombo nas contas. Na segunda-feira, ele acompanhou o evento “Brasil Pela Igualdade”, que ocorreu no Palácio do Planalto. Ao fim, sem hora marcada, Zema tentou se reunir com Lula, mas não foi recebido. Ele conseguiu, no entanto, uma conversa com o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa.

Reunião com Haddad

Hoje, Zema terá uma agenda com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o próprio Rodrigo Pacheco. Cotado para disputar o governo do estado, o presidente do Senado já criticou publicamente o Regime de Recuperação Fiscal de Zema, que está tramitando na Assembleia. A proposta enfrenta forte resistência popular por congelar, no período de nove anos, os reajustes salariais de servidores públicos e privatizar as estatais.

Na reunião com Lula, Pacheco entregou uma carta ao petista, em que critica o regime de Zema, e apresentou uma proposta alternativa, com algumas frentes, entre elas: aferir o montante da dívida para tentar diminuí-la, destinar à União os créditos estaduais, como o do acordo pelo desastre de Mariana, além de federalizar as companhias do estado. Assim como Pacheco, Tadeu Martins Leite e Alexandre Silveira também não aprovam os termos defendidos pelo governador mineiro.

De acordo com o senador, a medida é “paliativa” e não solucionará o endividamento do estado. “A estruturação do RRF, nos moldes propostos pelo governo mineiro, prejudica os municípios, penaliza servidores públicos sem que isso construa uma solução definitiva, pois no futuro será uma dívida impagável”, disse em ofício a Lula nesta terça-feira.

Após a reunião, o presidente do Senado deu uma entrevista coletiva em que afirmou ter encaminhado uma alternativa que não sacrifica os servidores do estado. De acordo com ele, Lula recebeu o texto “muito bem”.

— A proposta que nós fizemos, diferentemente do Regime de Recuperação Fiscal, busca utilizar os ativos que o estado dispõe para quitação da dívida, de modo que, ao final de nove anos, teremos um saldo de dívida muito menor e com a capacidade de retomada de crescimento dos investimentos — disse Pacheco.

Alguns dos mais importantes aliados de Zema têm evitado criar fissuras com os demais personagens que atuam em busca de uma solução para aliviar os cofres do estado, sobretudo porque o sucesso da empreitada tende a passar por Brasília. Ao GLOBO, o vice-governador de Minas, Mateus Simões (Novo) afirmou que a gestão está “animada" com o empenho de outros políticos na negociação da dívida. Contudo, alega que a proposta de Pacheco não substitui o regime:

— Nossa leitura hoje é que as medidas propostas por Pacheco se somam ao RRF, que se nós não aprovarmos, finalizaremos o primeiro semestre do ano que vem atrasando salários.

Sobre o plano frustrado de se reunir com Lula, o vice-governador acredita que este encontro só ocorrerá quando houver consenso em torno do melhor modelo para sanar as contas de Minas Gerais.

— O presidente não vai querer sentar para fazer ‘brainstorm’ — resumiu Simões.

Após não ter descartado a possibilidade de concorrer ao governo de Minas em 2026, Rodrigo Pacheco pode herdar a paternidade da negociação da dívida pública de Minas. Mateus Simões, no entanto, afirma que isto não incomoda a gestão de Zema.

— Acho que sou a pessoa que talvez pudesse ficar mais incomodada, porque serei candidato. Eu não me incomodo porque há muito tempo aprendi que é melhor resolver as coisas, e ainda estamos longe de 2026. Talvez ficasse ofendido se fossemos adversários, mas Pacheco não é. E se a proposta dele der certo, ele tem mesmo que se orgulhar — minimizou o vice-governador.


Fonte: O GLOBO