Quase 20% dos brasileiros são obesos, condição que pode favorecer o surgimento de doenças como hipertensão, diabetes e câncer

A obesidade é o acúmulo de gordura no corpo geralmente causado por um consumo de energia na alimentação, superior àquela usada pelo organismo para sua manutenção e realização das atividades do cotidiano. Uma pessoa pode ser considerada obesa quando o IMC — Índice de Massa Corporal — está acima de 30kg por metro quadrado.

O excesso de peso se tornou uma preocupação de saúde pública ao longo dos anos e, embora não seja necessariamente sinônimo de doença, a atenção gira em torno dos riscos que esse excesso de quilos pode trazer quando aumenta as chances de problemas de saúde diversos.

O que é a obesidade?

De acordo com a OMS, a obesidade é um agravo multifatorial decorrente de balanço energético positivo que favorece o acúmulo de gordura. Para a médica endocrinologista Bruna Galvão, é necessário romper com o preconceito existente sobre o excesso de peso, mas, por outro lado, também é essencial que haja o alerta para as complicações que a condição pode trazer ao organismo sem limitar o debate ao fato de ser ou não ser uma doença.

— A vantagem de definir obesidade como doença é a gente criar mecanismos de combate aos problemas que ela traz. Controlar o avanço da obesidade, promover melhora do estilo de vida, uma alimentação mais saudável, estimular a prática de atividade física. A parte ruim de definir a obesidade como doença é porque a gente pode estar reforçando o estigma que ela traz. A gordofobia está em voga hoje, porque realmente tem acontecido, e isso também precisa ser combatido — explica a médica.

Quais são as causas da obesidade?

As causas para a obesidade são diversas e, segundo o Ministério da Saúde, pode estar relacionada a fatores biológicos, ecológicos, econômicos, sociais, culturais e políticos. Por outro lado, também pode estar diretamente ligada à má alimentação e ao sistema alimentar do país. Além disso, há relação com a ausência do estímulo de hábitos saudáveis e atividades físicas, por exemplo.

Quais são os graus de obesidade?

A obesidade é dividida em graus definidos de acordo com o IMC. São eles:
  • Grau 1 (moderado excesso de peso) quando o IMC se situa entre 30 e 34,9;
  • Grau 2 (obesidade leve ou moderada) com IMC entre 35 e 39,9;
  • Grau 3 (obesidade mórbida) na qual IMC ultrapassa 40.
De acordo com a endocrinologista, quanto maior o índice, maiores as chances de desenvolvimento de doenças associadas.

Como é identificado o quadro de obesidade?

A obesidade pode ser identificada por meio de exame clínico e cálculo do IMC. No entanto, a especialista alerta para o fato de que o índice pode não enquadrar obesidade, mas, ainda assim, existir acúmulo da gordura visceral — localizada na região abdominal, próximo aos órgãos — e, portanto, ter alto risco de problemas cardiovasculares.

— Mesmo em pessoas que têm peso normal ou um discreto ganho de peso, é importante avaliar se aquela gordura está distribuída de forma mais central ou se é uma forma mais periférica — orienta a endocrinologista.

Nos casos em que há gordura abdominal ou "central", é necessário ter maior observação e atuação na melhora na alimentação e nos hábitos de vida.

Quais são os riscos da obesidade?

De acordo com a médica, o principal impacto da obesidade no organismo é metabólico. Dessa maneira, há maior chance de doenças como a hipertensão ou a diabetes, mas também pode existir predisposição a outras complicações, como a esteatose hepática — também conhecida como "gordura no fígado" —, apneia do sono, problemas ortopédicos, refluxo gastroesofágico e até mesmo alguns tipos de câncer, como o câncer de próstata, de endométrio, de mama e de cólon.

— O excesso de peso está relacionado a muitas doenças do ponto de vista da sobrecarga. Então, por exemplo, há sobrecarga sobre as articulações, por isso maior risco de artrose. Há sobrecarga no sentido de espremer mais a quantidade de comida no estômago, então aumenta o refluxo — explica Bruna Galvão.

Como é o tratamento para a obesidade?

O acompanhamento realizado com um indivíduo obeso deve ser multidisciplinar. Segundo a médica, o endocrinologista é o profissional apto a acompanhar a presença de alguma das doenças mais comuns às pessoas com obesidade e controlar o excesso de peso.

Por outro lado, também é essencial a atuação de um psicólogo para tratar de questões emocionais e relacionadas à saúde mental, aceitação daquele corpo na sociedade e auto-aceitação. 

O trabalho de um fisioterapeuta ou educador físico também é aliado no tratamento da obesidade com as atividades físicas, assim como a presença de um nutricionista para regular e fazer ajustes no cardápio e incentivar a reeducação alimentar. Em alguns casos, quando há presença de transtorno alimentar ou depressão, também é necessária a atuação de um médico psiquiatra.

Segundo a endocrinologista Bruna Galvão, é importante que a atenção ao corpo e à saúde seja mantida mesmo em casos nos quais o paciente sai do quadro de obesidade.

— O paciente que foi obeso um dia deve ter acompanhamento médico para o resto da vida. Mesmo que ele consiga emagrecer e se encaixar dentro de um IMC normal, ele não deve relaxar nos seus cuidados. A obesidade pode voltar. Se a pessoa relaxa na atividade física ou nos medicamentos, se for o caso, a tendência é que o peso volte a ser recuperado. Então, é necessário que a pessoa se cuide pro resto da vida — explica a endocrinologista.

Fontes: Ministério da Saúde e Bruna Galvão, médica endocrinologista.


Fonte: O GLOBO