Sultan al-Jaber se manifestou após vídeo em que ele questiona evidências científicas ter sido resgatado por jornal britânico

Após ter dito que “não há ciência” que indique a necessidade de eliminar combustíveis fósseis para limitar o aquecimento global a 1,5ºC, o presidente da COP28, Sultan al-Jaber, afirmou que respeita as recomendações científicas sobre as mudanças climáticas. No anúncio, feito nesta segunda-feira em Dubai, ele também pediu uma redução de 43% nas emissões de gases de efeito estufa até 2030.

— Acreditamos e respeitamos a ciência — afirmou al-Jaber em uma coletiva de imprensa. O pronunciamento ocorre um dia depois de o jornal britânico The Guardian ter recuperado o questionamento dele sobre a necessidade de eliminar os combustíveis fósseis para alcançar a neutralidade zero em emissões. — Tudo em que esta presidência tem trabalhado e continua trabalhando está focado e centrado na ciência.

O presidente da COP28 reconheceu que as emissões globais de gases de efeito estufa precisam ser reduzidas em 43% até 2030, como parte dos esforços para atingir a meta de neutralidade zero e limitar o aquecimento a 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais. A questão tem se mostrado central na cúpula climática da ONU em Dubai, com alguns defendendo uma “descontinuação” e outros a “desaceleração” gradual.

Relatórios científicos, no entanto, destacam a urgência de reduzir rapidamente os combustíveis fósseis para alcançar a meta do Acordo de Paris e evitar dificuldades de adaptação para humanos e ecossistemas acima dessa marca.

‘Um debate alarmista’

Neste domingo, o The Guardian publicou um vídeo que mostra al-Jaber engajado em uma discussão com a ex-primeira-ministra da Irlanda, Mary Robinson, durante o evento She Changes Climate, realizado em 21 de novembro. Na conferência, ele afirmou que “de forma alguma” estava “aderindo a um debate alarmista”. Em seguida, disse que a eliminação dos combustíveis fósseis não é uma estratégia “respaldada pela ciência”.

— Sou objetivo e respeito a ciência, e não há nenhuma ciência, nem cenário algum, que diga que a eliminação gradual dos combustíveis fósseis é o que vai alcançar os 1,5ºC.

Três dias antes do início da conferência das Nações Unidas em Dubai, jornalistas independentes do Centre for Climate Reporting revelaram que os Emirados Árabes Unidos planejaram usar seu papel de anfitrião na COP28 para discutir acordos de petróleo e gás com ao menos 15 governos estrangeiros. A notícia, que foi veiculada em parceria com a rede BBC de Londres, foi obtida por meio de um “denunciante” que permanece anônimo por medo de represálias.

Na véspera do início do evento, no entanto, al-Jaber negou querer usar a sua posição de presidente da conferência para promoção do próprio país no exterior. Criticado por ONGs e parlamentares ocidentais por seu duplo papel como chefe da COP28 e da companhia petrolífera Adnoc, al-Jaber defende uma linha que descreve como “realista”.

Poucos países têm planos reais para o clima

A maioria dos países que almejam a neutralidade de carbono ainda não anunciou planos para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis, alertou nesta segunda-feira um grupo de especialistas sobre o clima. No relatório Net Zero Tracker, publicado por ocasião da COP28, uma das questões cruciais é se as nações aceitarão reduzir ou eliminar gradualmente os combustíveis fósseis, principal fonte de emissões dos gases de efeito estufa.

De acordo com o grupo, cerca de 150 países se comprometeram a alcançar a neutralidade das emissões, cobrindo 88% de todos os gases de efeito estufa no mundo. No entanto, apenas 13% destes países assumiram pelo menos um compromisso de eliminar gradualmente o uso, a produção ou a exploração de carvão, petróleo e gás, afirmou o grupo, que é administrado por vários centros de pesquisa americanos e europeus.

— Um plano ‘zero líquido’ que não diz de forma clara como eliminar gradualmente os combustíveis fósseis é como uma dieta da moda que permite comer tanta gordura quanto quiser — disse Thomas Hale, da Universidade de Oxford, co-autor do relatório.

O Net Zero Tracker analisou mais de 1,5 mil países, regiões, cidades e grandes empresas que se comprometeram com a neutralidade de carbono. Cerca de 95% dos países produtores de petróleo e gás não se comprometeram a eliminar gradualmente a exploração.

Já no caso das empresas, a análise é mais positiva: 56% das empresas ativas na produção de carvão estão empenhadas, pelo menos parcialmente, em eliminar progressivamente este combustível com altas emissões. Nesse cenário, companhias africanas e europeias ocupam um lugar de destaque nos planos de eliminação progressiva, muito à frente das empresas dos Estados Unidos.

O relatório também elogia a Espanha, que incluiu planos legislativos para eliminar estes combustíveis, e a capital sueca, Estocolmo, que estabeleceu metas de redução de emissões, assim como o gigante energético dinamarquês Orsted, que se desvinculou dos combustíveis fósseis.

(Com AFP)


Fonte: O GLOBO