As transformações no clima do planeta provocam mudanças radicais no mundo do trabalho, obrigando à formação continuada e ao surgimento de novas áreas de atuação profissional
Tenho acordado ao nascer do Sol com as vozes que ecoam dos minaretes e conclamam os muçulmanos de Dubai às orações diárias. É algo que me traz paz. Faz com que eu me lembre dos anos que morei no interior de Minas Gerais e os sinos das igrejas soavam no silêncio da alvorada. As vozes que vêm dos minaretes também me lembram que a profissão de sacerdote, muito provavelmente, não está ameaçada de extinção. O acolhimento espiritual seguirá sendo importante para a humanidade nestes tempos assombrosos. Mas não posso dizer o mesmo sobre a maioria das profissões que hoje conhecemos hoje.
O mundo do trabalho vive um processo de mudanças radicais, sob pressão das inovações tecnológicas e da emergência climática. Pensando como um professor que veio a COP 28, compreender a relação entre as mudanças climáticas e a formação para o trabalho é crucial, se eu quiser continuar contribuindo para que os mais jovens estejam prontos para as demandas do futuro próximo.
As mudanças climáticas estão remodelando o panorama do mercado de trabalho global, trazendo desafios únicos e criando novas oportunidades. Em regiões atingidas por eventos climáticos extremos, trabalhadores enfrentam consequências graves, como deslocamento, perda de empregos e riscos à saúde.
Setores diretamente ligados ao meio ambiente, como energia renovável e conservação, por outro lado, experimentam um crescimento em oportunidades de emprego, embora demandem habilidades e capacitações específicas que ainda precisamos prover. Praticamente tudo o que fazemos hoje precisa ter seus processos revisados numa perspectiva da emergência climática. Por exemplo, as engenharias já deveriam ter revisado parte de seus currículos.
Não faz o menor sentido reconstruir com as mesmas técnicas e materiais uma casa que desmoronou com um tufão, numa região que entrou numa rota de impacto das mudanças climáticas. Mas como ela deve ser reconstruída agora? É sobre este tipo de reflexão que estamos falando, Desta necessidade de repensar trajetórias educativas.
Esta transformação não é apenas uma crise, mas também uma oportunidade para a criação de empregos sustentáveis. A implementação do Acordo de Paris, voltada para a redução das emissões de gases de efeito estufa, tem potencial para gerar até 18 milhões de empregos até 2030. As economias estão se movendo em direção a práticas mais sustentáveis, e isso requer uma força de trabalho qualificada e preparada para as novas demandas.
Esta transformação não é apenas uma crise, mas também uma oportunidade para a criação de empregos sustentáveis. A implementação do Acordo de Paris, voltada para a redução das emissões de gases de efeito estufa, tem potencial para gerar até 18 milhões de empregos até 2030. As economias estão se movendo em direção a práticas mais sustentáveis, e isso requer uma força de trabalho qualificada e preparada para as novas demandas.
O governo brasileiro acaba de preparar um plano de transformação ecológica que traz consigo muitas oportunidades de novas trajetórias profissionais no campo da chamada economia verde e dos empregos verdes. Quais são eles? Infelizmente, uma boa parte do que será necessário ainda teremos de inventar. Mais uma razão para que todos se engajem na discussão e na ação.
Feira de empregos na Carolina do Norte, nos EUA — Foto: Allison Joyce/Bloomberg
A educação desempenha um papel central nesta transição. A integração da educação climática nos currículos é essencial para preparar as futuras gerações. A formação profissional está se adaptando, focando em habilidades relacionadas à redução de emissões de carbono e adaptação às novas realidades de cada território. Além disso, a formação continuada dos trabalhadores atuais se torna muito relevante, permitindo que se adaptem e explorem as novas oportunidades surgidas com a economia verde.
A inovação tecnológica é um elemento chave neste cenário. Soluções tecnológicas podem oferecer proteção aos trabalhadores em condições ambientais adversas e garantir um ambiente de trabalho seguro e sustentável. Na América Latina, por exemplo, a Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS) está avançando, com programas educacionais e ações da sociedade civil aumentando a conscientização sobre as questões ambientais. Estas iniciativas são vitais para preparar a sociedade para enfrentar e resolver desafios ambientais.
As mudanças climáticas representam um momento decisivo para o mercado de trabalho. Elas exigem uma reavaliação das habilidades profissionais e uma nova abordagem à educação e à formação profissional. Enquanto enfrentamos esses desafios, também surgem oportunidades para criar um futuro de trabalho mais sustentável e resiliente, alinhado com as necessidades do nosso planeta.
Fonte: O GLOBO
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