A partida entre os campeões da Libertadores e da Champions League precisa acontecer por muitos motivos

Fluminense vs Manchester City: este jogo precisa acontecer. Se tudo der certo, o melhor time da Europa vai enfrentar o melhor time da América do Sul na decisão do Mundial de Clubes, na próxima sexta-feira, na Arábia Saudita. Claro, antes disso cada um precisa vencer sua própria semifinal no torneio, o Fluminense contra Al Ahly ou Al-Ittihad, o Manchester City diante do León ou Urawa Reds. 

A expectativa (e, no meu caso, a torcida mesmo) é para que nenhum desses times crie problemas e impeça o duelo entre Fernando Diniz e Pep Guardiola. A partida entre os campeões da Libertadores e da Champions League precisa acontecer por muitos motivos. E o encontro — para não usar nenhum termo bélico — entre duas maneiras tão parecidas, mas com algumas diferenças importantes, de sentir o futebol expressadas pelos dois técnicos é o maior dos atrativos.

Por algum motivo, provavelmente porque pequenos sinais e sinais de linguagem foram exageradamente interpretados, Diniz e Guardiola foram colocados em cantos opostos no grande ringue em que se discute tática no futebol. 

De um lado, o detentor do cinturão, o catalão apóstolo do jogo posicional — em que cada jogador ocupa um espaço determinado no campo, em que o controle e o sistema são soberanos. Do outro, o desafiante vindo do Brasil, o criador da supervalorizada expressão “jogo aposicional”, o defensor da liberdade dos jogadores, do acúmulo de jogadores de um mesmo lado do campo, da bola — e não da ocupação de espaços — como o elemento central da construção de jogadas.

Quando Fernando Diniz ganhou algum reconhecimento internacional, graças ao título da Libertadores e a menções elogiosas no jornal The New York Times (sim, mais de uma), defensores extremistas do jogo posicional usaram a plataforma X (o lugar certo para extremistas, afinal) para resmungar contra o técnico do Fluminense e desdenhar de uma suposta “falta de base teórica” da maneira de jogar defendida por Fernando Diniz. 

Como se uma carreira de quase 15 anos, o reconhecimento massivo de atletas que experimentaram tal maneira de jogar e um título da Copa Libertadores — com cinco campeões deixados pelo caminho até o troféu — pudessem ser desprezados assim.

É curioso que as diferenças entre os dois treinadores sejam ressaltadas quando há muito mais pontos em comum. Como notou Carlos Eduardo Mansur no “Redação Sportv” nesta semana, se todos os técnicos do mundo fossem colocados lado a lado, numa ordem do mais ofensivo até o mais retranqueiro, é evidente que Diniz e Guardiola estariam muito próximos — e no extremo do ataque. 

O mesmo ocorreria se a classificação se desse pela importância que os técnicos dão para ter a posse da bola, ou por presença de seus times no campo ofensivo, ou por vários outros critérios. Há mais a uni-los do que a separá-los.

Até o fator que em tese torna o encontro mais previsível tende a deixá-lo mais interessante. A colossal diferença de orçamento entre Fluminense e Manchester City torna o clube inglês naturalmente favorito a vencer esse eventual jogo. Tema para a próxima coluna quando, se tudo der certo, esta final do Mundial de Clubes estará devidamente confirmada.


Fonte: O GLOBO