Devido ao afundamento da área, a água da lagoa Mundaú começou a "engolir" o entorno da mina

Imagens aéreas de drone mostram a atual situação da mina 18, no bairro Mutange, em Maceió, que corre o risco de colapsar a qualquer momento. Na gravação é possível ver rachaduras por toda a estrutura do solo causada pela extração de sal-gema pela Braskem. Devido ao afundamento da área, a água da lagoa Mundaú começou a "engolir" o entorno da mina.

As imagens foram feitas neste domingo (3) e divulgadas pelo portal THN1. Na última atualização da Defesa Civil de Maceió, a velocidade de afundamento da mina tem reduzido gradativamente. Boletim divulgado pelo órgão afirma que a região do bairro de Mutange passou a cair 0,3 centímetros por hora, menos da metade do registrado no último balanço, de 0,7 centímetros/hora. A região afundou 7,4 centímetros nas últimas 24 horas.

Apesar da desaceleração, a localidade e as imediações da mina de número 18 ainda estão em alerta máximo em função do risco iminente de colapso. De quinta-feira, quando começou o monitoramento devido ao risco de colapso, até ontem o afundamento soma 1,70m. Na tarde de domingo, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, minimizou possibilidade de deslocamentos de terra e afirmou que o cenário local é de estabilização.

Desde a quinta-feira, o órgão informa que a região está em estado crítico e em alerta máximo diante de um iminente colapso da mina de sal-gema. A situação fez com que cerca de 5 mil pessoas tivessem que deixar suas casas na última semana. Desde 2019, mais de 60 mil moradores se mudaram da região devido à gravidade da situação.

Relatório feito pela pasta federal afirmou que foi registrada uma redução no ritmo de afundamento na região, que registrava queda de 50cm diários no dia 30 de novembro, número que caiu para 15cm neste sábado.

Segundo o documento, a expectativa dos especialistas é de que, se houver desmoronamento, ele ocorrerá de forma localizada e não generalizada.

"Há, no momento, sensores instalados ao redor da área, que permitem monitoramento em tempo real pela Defesa Civil em Maceió. O SGB/CPRM destacou equipe especializada para acompanhar a evolução da situação", afirmou o relatório.

Inércia de governos

O coordenador-geral de Defesa Civil de Maceió, Abelardo Nobre, fala que tragédia na cidade pelo afundamento de mina da Braskem é "resposta" da natureza às agressões enfrentadas nas últimas décadas, e responsabiliza a inércia de governos estaduais pelo que poderia ser feito para conter os danos. Ao GLOBO, ele afirmou que há mais de 110 agentes municipais de prontidão para agir na região.

— Quem dita as regras aqui é a natureza, que foi agredida e agora está dando a resposta — afirma Nobre, à frente do órgão desde 2021. — O que poderia ter sido feito lá atrás era a fiscalização pelos governos federal e estadual, o respeito às normas ambientais e a fiscalização correta da exploração.

De acordo com ele, a estrutura de monitoramento da situação foi criada em 2019, logo após o primeiro alerta de afundamento da região em função da exploração de sal-gema pela mineradora. A exploração sequer deveria ter sido autorizada, na avaliação de Pedro Côrtes, professor do Instituto de Energia e Ambiente da USP, por se tratar de um espaço urbanizado.

Nobre explica que a prefeitura de Maceió definiu uma estrutura de acompanhamento e de prontidão 24 horas por dia para dar a devida assistência. Segundo ele, todo o contingente da Defesa Civil da capital alagoana, de 117 agentes, está direcionada para o plano.

Além disso, ele informa que chegaram na cidade nos últimos dias técnicos de órgãos federais para dar suporte às atividades de monitoramento. Na quarta-feira, outros dois integrantes da Defesa Civil nacional pousaram em Maceió para acompanhar o andamento do caso, sem precedentes no país. Há ainda a atuação de equipes do Serviço Geológico do Brasil (antiga Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais).

Cenário sem precedentes

O coordenador-geral da Defesa Civil de Maceió voltou a afirmar que a situação na cidade se trata de algo "único na história do país", nunca antes visto por nenhum antecessor no cargo ou em defesas civis de outros estados.

— Já vivenciamos desastres como enchentes, desabamentos, vitimados por chuvas, mas um desastre dessa magnitude e dessa natureza é único no Brasil — afirma.

No sábado, a prefeitura de Maceió afirmou que o eventual colapso da mina de sal-gema é um "evento inédito no mundo" e que, por isso, "até o momento não é possível mensurar todas as consequências do fato".


Fonte: O GLOBO