Sejamos otimistas e usemos a bola de cristal para dizer o óbvio: para a camisa amarela... nem se tentar muito 2024 conseguirá ser pior que 2023

Se o futebol brasileiro tivesse um Instagram... esta semana começaria com um story de MC Galvão Bueno parado na frente do Ex-Edifício José Maria Marin, na Barra da Tijuca. Ali, ele olharia para a câmera e começaria a cantar um trecho de sua eterna narração do 7 a 1 em ritmo de trap:

— Ninguém sabe o que faz, ninguém sabe pra onde vai, ninguém sabe pra onde pula, ninguém sabe pra onde olha!

(Para quem não sabe, o nome da sede da CBF era José Maria Marin. É um caso raro de edifício que perdeu o nome assim que o homenageado foi em cana. O letreiro sumiu mais rápido do que os amigos que Marin imaginava ter. Outros dois ex-presidentes da entidade flertaram com semelhante destino e acharam prudente fixar residência na Terra da Santa Cruz — longe da mão pesada do FBI).

Voltando ao nosso Insta: MC Galvão é apenas o primeiro story. No clique seguinte embarcamos no Neyvio — o cruzeiro de Neymar, onde um coro de MCs tatuados, camisas da NBA e subcelebridades ecoa uma letra quase incompreensível:

— Bole, bole, bole, bole...

Novo toque na tela. Agora assume MC Luís Roberto com uma cena da SeleDiniz levando gol da Argentina:

— Sabe de quem...

Até outro dia o presidente da CBF era Ednaldo Rodrigues — cujo breve mandato teve como destaque a contratação de um técnico-tampão e agora, pelo visto, de um técnico-que-não-foi-sem-nunca-ter-sido. Ontem, o Real Madrid anunciou a renovação com Carlo Ancelotti até 2026 — e deixou Ednaldo com o pincel na mão.

Ednaldo, claro, tem problemas mais graves. A CBF está sob intervenção judicial até que um novo presidente seja eleito. Mas a Fifa e a Conmebol dizem que não reconhecem o interventor — e avisam que vão desembarcar no Brasil em janeiro pra botar ordem na casa.

É, sem dúvida, uma casa que precisa de ordem. Desde que Ricardo Teixeira renunciou, nos idos de 2012, a tão desejada cadeira da presidência da entidade parece vir com formigueiro embutido. Ninguém esquenta o assento. Já tivemos Marin (preso), Marco Polo Del Nero (banido), Caboclo (removido), Coronel Nunes (renunciado) e agora Ednaldo (destituído). Teixeira, que também foi banido do futebol pela Fifa, segue ativo nos bastidores. Del Nero idem. Ambos participam do processo de sucessão da entidade.

O primeiro, recentemente, divulgou um áudio em que bateu firme em Ednaldo. O segundo ilustra o último clipe de nosso Instagram — e aqui usamos um story real publicado na conta de sua namorada, @clarabraziloficial. No post, que circulou de novo recentemente no WhatsApp, o descontraído cartola dança num passeio de lancha ao som de “Everything” de Michael Bublé. E canta:

— La la la la la...

O post traz a legenda: “Ele não é muito de sorrir, mas nos últimos dois dias, com os últimos acontecimentos, acha que a vitória é concreta”.

Esse é o futebol brasileiro que termina 2023. A CBF não tem presidente. O treinador da seleção é o interino Fernando Diniz em meia jornada. Nosso principal craque já parece treinar para a carreira futura de influencer. E o passado prepara o futuro sorrindo. Mas... estamos no Brasil, sejamos otimistas e usemos a bola de cristal para dizer o óbvio: para a camisa amarela... nem se tentar muito 2024 conseguirá ser pior que 2023.


Fonte: O GLOBO