A Boeing pode estar passando de crise em crise, mas os analistas de Wall Street ainda veem esperança no horizonte, mesmo com os investidores fugindo das ações. O motivo do otimismo? Uma sólida carteira de pedidos que deve manter o fluxo de caixa estável, mesmo depois que um grande pedaço da fuselagem caiu de um de seus aviões.
"A reputação da Boeing está manchada neste momento, mas também está protegida porque seus clientes têm poucas opções", disse Nicolas Owens, da Morningstar.
Os problemas mais recentes da empresa começaram em 5 de janeiro, quando um painel explodiu em um de seus jatos 737 Max 9 operados pela Alaska Air no meio de um voo, deixando um buraco aberto na fuselagem. Os aviões Max da Boeing já haviam sido notícia depois que acidentes ocorridos em 2018 e 2019 mataram 346 pessoas.
Esse quase desastre levou a uma investigação regulatória e ao aterramento da aeronave, o que fez com que as ações da empresa caíssem 15% desde o incidente. Em comparação, o S&P 500 subiu 3,6% no mesmo período.
Mas, apesar de tudo isso, os analistas da Boeing quase não se mexeram em suas metas de preço médio de 12 meses para as ações, empurrando-as para baixo em apenas 3%, para US$ 265,25, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. As ações fecharam ontem em US$ 211,50.
É fácil ver de onde vem a esperança. Os especialistas em viagens esperam um boom na demanda global por voos, e a Airbus, principal concorrente da Boeing, já está com as vendas esgotadas até o final da década.
Como a única outra concorrência vem da China, onde os fabricantes têm seus próprios problemas de segurança, os céus parecem estar livres para a Boeing - desde que ela consiga evitar que seus aviões se quebrem.
Após o incidente da Alaska Air, a Administração Federal de Aviação abriu uma investigação. Os viajantes ficaram aterrorizados quando as companhias aéreas cancelaram voos em massa. O CEO da Boeing, Dave Calhoun, está se reunindo com senadores em Washington esta semana em uma possível missão de controle de danos, disseram à Bloomberg pessoas familiarizadas com o assunto.
Ainda assim, isso não impediu a Akaska Air, uma das mais novas companhias aéreas da Índia, de encomendar 150 jatos Max na semana passada. Embora a compra não inclua a variante Max 9, a Boeing prevê que o grupo emergente de passageiros de primeira viagem da Índia praticamente garante que o país continuará sendo o líder do sul da Ásia no crescimento do tráfego aéreo.
O impulso mais recente veio na quarta-feira, quando os dados de um site de rastreamento de aeronaves mostraram que a Boeing estava pronta para entregar um jato 737 Max à China pela primeira vez desde que o best-seller foi desativado no início de 2019.
O resultado para a Boeing: um fluxo constante de pedidos e um fluxo de caixa robusto, uma métrica fundamental que os analistas usam para avaliar as perspectivas de uma empresa. Embora a estimativa média de Wall Street para o fluxo de caixa livre da Boeing em 2024 tenha caído 2% em relação a um mês atrás, para 2025 e anos seguintes ela está praticamente estável no mesmo período.
De fato, estima-se que o fluxo de caixa livre da Boeing ainda aumente mais de 60% em relação ao ano anterior, tanto em 2024 quanto em 2025, antes de desacelerar para um ritmo mais normal. Para os investidores, isso deve ser considerado uma vitória depois de vários anos perturbadores, que incluíram os acidentes fatais em 2018 e 2019 e a subsequente paralisação dos aviões, bem como as paralisações da pandemia de Covid que interromperam as viagens aéreas.
Dito isso, os riscos permanecem. Na terça-feira, a United Airlines disse que retirou o Max 10, o maior modelo 737 Max, de seus planos internos, enquanto a Alaska Air disse que encontrou parafusos soltos em "muitas" de suas aeronaves Max 9.
Os investidores e analistas também terão uma visão mais completa da crise quando a Boeing divulgar seus resultados do quarto trimestre em 31 de janeiro, uma vez que a empresa foi restringida no que pode compartilhar publicamente por um período de silêncio antes dos lucros.
"O que mais nos preocupa no momento é a metástase desse problema", disse Richard Safran, analista da Seaport Research Partners, em entrevista.
Na quarta-feira, o Seattle Times informou que os mecânicos da Boeing haviam removido o painel da fuselagem do avião da Alaska Air e o haviam reinstalado de forma inadequada.
Pelo menos dois analistas rebaixaram as ações da Boeing nas últimas duas semanas, observando que as medidas necessárias para mitigar os riscos de segurança, garantir mais controle de qualidade e cumprir as novas exigências regulatórias podem impedir a entrega de aeronaves, prejudicando as perspectivas de fluxo de caixa.
Além disso, a venda de ações eliminou mais de US$ 22 bilhões da avaliação de mercado da Boeing desde 5 de janeiro.
Alguns, no entanto, dizem que o mercado pode estar exagerando. Por exemplo, Sheila Kahyaoglu, analista da Jefferies, disse que a Boeing está programada para produzir cerca de 75 aviões Max 9 até o final desta década, o que se traduz em cerca de US$ 750 milhões em fluxo de caixa livre. Comparando esse valor com a avaliação atingida, disse ela, parece que "o mercado está precificando um caso bastante negativo".
Fonte: O GLOBO
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