Estratégia visa a atrair mais gente na hora do almoço, quando o movimento é menor. Para o cliente, é uma forma de degustar a alta gastronomia com preço mais acessível

Almoçar em um restaurante estrelado ficou mais acessível. Com a alta das refeições fora de casa no ano passado, a diferença entre comer no bar da esquina e num restaurante top ficou menor, tornando os menus executivos elaborados por chefs renomados mais atraentes. É possível optar por um combo com entrada, prato principal e sobremesa por valores a partir de R$ 52.

De acordo com uma pesquisa encomendada pela Associação Brasileira das Empresas de Benefício ao Trabalhador (ABBT), o preço médio de uma refeição feita na rua era de R$ 46,60 em novembro de 2023, últimos dados disponíveis.

Para especialistas, a estratégia de baixar os preços na hora do almoço nos restaurantes cinco estrelas busca atrair mais gente em períodos de menor movimento nesses estabelecimentos, ampliando o público e o faturamento. Para os clientes, é uma forma de degustar a alta gastronomia sem pesar demais no bolso.

Dependendo da fama de quem está à frente da cozinha, o preço dos pratos executivos nos restaurantes cinco estrelas pode passar de R$ 100, mas ainda assim bem abaixo do estampado nos menus à la carte.

O chef Érick Jacquin, jurado do programa MasterChef Brasil, em São Paulo, comanda quatro restaurantes. No Lvtetia (por R$ 109) e no Président (por R$ 139), o menu executivo é alterado quinzenalmente e inclui entrada, prato principal e sobremesa.

Petit Gâteau, prato presente em todos os restaurantes do chef Érick Jacquin — Foto: Divulgação

Já no Steak Bife, cuja especialidade são cortes de carne, o executivo inclui salada, o corte de carne do dia, molhos à escolha e rodízio de guarnições por R$ 95.

No Ça-Va Café, por R$ 61, o cliente tem direito a uma salada e ao prato do dia. Em todos os restaurantes, a promoção é válida de segunda à sexta (exceto feriados) das 12h às 16h. Por tempo limitado, o menu executivo se estende aos sábados e domingos no Lvtetia.

Fila de espera no almoço

— O menu executivo é uma maneira de permitir que as pessoas tenham uma experiência com os meus restaurantes. Temos fila de espera quase todos os dias para o almoço e boa parte desse movimento é para o menu executivo — conta Jacquin.

No ano passado, comer fora de casa ficou 5,3% mais caro. No mesmo período, os preços dos alimentos no supermercado caíram, em média, 0,52%, segundo dados do IBGE.

Dados divulgados pelo instituto nesta sexta-feira mostram que o custo da alimentação fora do domicílio cresceu menos que no mês anterior. O IPCA-15, espécie de prévia da inflação aponta para avanço de 0,24% em janeiro ante alta de 0,53% em dezembro.

A perda de fôlego pode indicar que outros custos envolvidos no preparo das refeições estejam caindo.

— A refeição em bares e restaurantes é um serviço. Engloba um conjunto de custos que vão muito além dos alimentos, como os salários dos funcionários, a energia elétrica que é usada no local, impostos, conta de água, além de uma série de despesas que podem influenciar o preço dos pratos sem que os alimentos estejam subindo — explica o economista André Braz, coordenador dos Índices de Preços do FGV Ibre.

Prato do Itacoa, que conta com uma unidade em Paris e duas no Rio de Janeiro — Foto: Divulgação

Segundo Jacquin, os clientes que buscam o prato executivo são diferentes dos que buscam o menu à la carte:

— No executivo, é muito comum recebermos quem está no intervalo do trabalho, famílias em férias, casais mais jovens que procuram experiências mais acessíveis ou turistas que vão conhecer pela primeira vez as marcas do grupo. Já no menu à la carte costumam ser os clientes fiéis, que conhecem o conceito dos nossos restaurantes e são meus clientes há muitos anos, que procuram uma experiência mais conceitual e ter "aquele restaurante preferido" para voltar toda semana.

Alimentos mais caros em 2024

No CT Boucherie, no Leblon, do chef Thomas Troisgros, também responsável pelo cardápio de restaurantes como o Toto e o TT Burger, o almoço executivo fica disponível de segunda à sexta (exceto feriados) das 12h às 17h e conta com duas opções de prato por R$ 68 (picadinho com arroz, farofa, purê e ovo frito ou frango à parmegiana com arroz maluco) e um corte de carne por R$ 82.

Braz, da FGV, avalia que comer em restaurantes fique mais caro em 2024, com a expectativa de aumento no preço dos alimentos.

— Se os alimentos e os outros custos inerentes a esse negócio subirem mais ou menos na mesma magnitude do ano passado, a inflação de serviços dos serviços de restaurantes deve ultrapassar até a inflação média, que a gente espera que vá fechar em 3,7% no final desse ano, com base nos dados que temos agora — afirma o economista.

Mas a estratégia das promoções nos restaurantes estrelados não dá sinais de que vá retroceder. A ideia é atrair um público que não frequentava esses estabelecimentos.

O Sal Gastronomia, do chef Henrique Fogaça, também jurado do MasterChef Brasil, no Shopping Cidade Jardim, conta com almoço executivo de segunda à quinta (exceto feriados) das 12h às 15h. As opções variam entre R$ 91 e R$ 104 e o cardápio inclui entrada, prato principal e sobremesa.

— O menu executivo traz mais acessibilidade para as pessoas que às vezes não tem condições de pedir um prato do cardápio e querem conhecer o restaurante e atende aos clientes que querem opções mais completas com mais agilidade no almoço — diz Fogaça.

No Itacoa, que abriu sua primeira unidade em Paris e conta com duas unidades no Rio de Janeiro atualmente, uma no Rio Design Leblon e outra no VillageMall, o almoço executivo varia de R$ 52 a R$ 72 e conta com prato principal, entrada e sobremesa.

O menu fica disponível de segunda à sexta (exceto feriados) das 12h às 16h. O chef responsável pelo cardápio é Rafa Gomes, vencedor do Iron Chef Brasil e do Masterchef Profissionais 2018.

Prato do Itacoa, que tem menu executivo a partir de R$ 52 — Foto: Divulgação

Estratégia de negócios

O professor de Varejo na FGV, Ulysses Reis, frisa que o menu executivo é uma estratégia comercial dos restaurantes de atrair mais clientes no horário de almoço, quando o movimento costuma ser mais baixo, com preços atraentes:

— Os restaurantes mais requintados normalmente aumentam o preço do jantar, quando podem servir pratos mais elaborados e o cliente não está com pressa, e durante o almoço trabalham com preços menores.

Ele continua:

— Muitos restaurantes aqui no Brasil começaram a fazer cálculos financeiros, de mão de obra, espaço e perceberam que tinham que abaixar os preços.

Segundo ele, o objetivo é competir com o restaurante a quilo, que ficou mais caro nos últimos meses.

— O preço não vai ser igual, mas no restaurante requintado você pode ter uma experiência melhor, uma comida de maior qualidade, por apenas 15% a mais, em média.

Prato do Heaven Cucica, que tem uma unidade na Tijuca e outra no Vogue Square — Foto: Divulgação

No Arturito, restaurante da ex-jurada do MasterChef Brasil Paola Carosella, em Pinheiros, o menu executivo está disponível das terças às sextas na hora do almoço por R$ 99 ou R$ 128 (com uma taça do vinho do dia) e inclui uma salada, prato principal e sobremesa.

Em São Paulo, o menu executivo do tradicional Figueira Rubaiyat, no Jardins, oferece entrada, prato principal, acompanhamento e sobremesa por R$ 139 de segunda à sexta (exceto feriados) das 12h às 16h.

Novos clientes

Já no Heaven Cucina, comandado pela chef Heaven Delhaye, que participou do MasterChef Profissionais, com unidades no Shopping Vogue Square e na Tijuca, o menu executivo conta com prato principal, entrada e sobremesa por R$ 89 e fica disponível de segunda à sexta (exceto feriados) das 12h às 17h. As opções do almoço incluem massas, carnes e sobremesas como cannoli, creme brûlée e cheesecake com brownie.

Outra opção é o Gruta dO Fado, de culinária portuguesa, no VillageMall. O menu executivo inclui entrada, prato principal e sobremesa por R$ 89 de segunda à sexta (exceto feriados) das 12h às 16h, com pastel de nata e uma série de pratos com bacalhau elaborados pelo chef Alexandre Henriques, que também comanda o Henriqueta, no Leblon, e a Gruta de Santo Antônio, com sua mãe, em Niterói.

Pastel de Nata do restaurante Gruta dO Fado — Foto: Divulgação

Pedro Pacheco, CEO do Grupo BFW, que administra os restaurantes Itacoa, Heaven Cucina e Gruta dO Fado, vê que o menu executivo dá mais acessibilidade para novos clientes conhecerem os estabelecimentos:

— O menu executivo dá a oportunidade para experimentar um pouco do que temos pra oferecer e consequentemente resulta em um fluxo maior de clientes — ele diz. — A demanda é alta. O executivo, dentro da proposta do restaurante, agrega valor à marca e dá mais acessibilidade para o cliente conhecer a casa e viver uma experiência gastronômica no padrão BFW.


Fonte: O GLOBO