Michelle Rocha teve a moradia impactada pela tragédia e, cinco anos depois, ainda aguarda pela indenização coletiva

As memórias do dia 25 de janeiro de 2019 permanecem no imaginário da dona de casa Michelle Rocha. Moradora de Betim, município próximo a Brumadinho, ela perdeu uma prima que trabalhava no almoxarifado da Vale S.A no dia do desastre, que completa cinco anos nesta quinta-feira. 

O rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão resultou na maior tragédia humanitária do Brasil, com 270 mortos, inclusive duas grávidas, e a contaminação de mais de 300 quilômetros do Rio Paraopeba, atingindo a população de 26 cidades.

— Foi um cenário de horror. Perdi a minha prima Sueli, de 35 anos, neste dia. Minha família foi indenizada pela morte dela, mas não sei qual foi o valor pelo fato de o acordo ser sigiloso. Entendo que o que ocorreu não foi apenas uma barragem que se rompeu e matou 272 joias. Foi um crime que trouxe consequências para toda a bacia do Rio Paraopeba — diz.

A tragédia de Brumadinho gerou milhares de processos judiciais. A dona de casa é uma das pessoas que teve a moradia impactada pelos crimes ambientais e, cinco anos após o desastre, ainda aguarda pela indenização coletiva.

Para Michelle, os estragos oriundos do desastre permanecem na região, o que imprime uma sensação de continuidade da tragédia.

— A sensação é que a Justiça não tem agilidade. Não cumpre o que está previsto na lei. Sentimos que este é um crime continuado. Os impactos dele não se limitaram a janeiro de 2019. Os moradores das regiões próximas estão há cinco anos numa luta sem fim — afirma.

A moradora de Betim alega também que o solo próximo à sua casa, localizada a cerca de 100 metros do Paraopeba, está contaminado, o que compromete a saúde dos seus três filhos.

— Não podemos comer o que é plantado aqui e as condições ambientais favorecem o aparecimento de doenças. Me preocupo com o futuro dos meus filhos por conta disso — conta.

Segundo a investigação oficial sobre o caso, o risco que os funcionários desconheciam era algo sabido pelo alto escalão

A Vale S.A, responsável pela mina, e a Tuv Sud, subsidiária alemã que certificou a segurança da barragem, além de 16 então diretores, foram denunciados pelo Ministério Público, em processo criminal que corre no Brasil e na Alemanha. Depois de cinco anos, incluindo três em que a justiça brasileira passou debatendo se o caso era de competência estadual ou federal, não houve qualquer condenação.


Fonte: O GLOBO