Clubes pequenos também contam com jovens e veteranos em busca de um trampolim ou de um último brilho

O hiato do futebol do Rio de Janeiro acaba nesta quarta, com a abertura do Campeonato Carioca, um entre vários Estaduais que dão a largada ao redor do Brasil. Os anos recentes têm sido marcados pela disputa quente entre Flamengo e Fluminense, finalistas das últimas quatro edições. Neste início, porém, o torneio serve como uma chance valiosa de reconquistar espaço, aumentar o moral com a torcida ou se projetar de vez sob os holofotes do futebol nacional.

São os casos de Botafogo e Flamengo, que entram em campo contra Madureira e Audax, respectivamente, e tentam recuperar jogadores antes em alta: do lado alvinegro, o meia Segovinha, que virou xodó e ganhou música exaltando sua habilidade, mas viu o ano terminar amargo coletiva e individualmente; no rubro-negro, Gabigol, que voltou mais cedo das férias e tenta resgatar espaço com Tite — ele fechou 2023 como reserva.

O atual campeão Fluminense tenta o tri consecutivo, mas ainda espera o retorno de seus titulares, de férias estendidas após a disputa do Mundial de Clubes. Estreia nesta quinta, diante do Volta Redonda, numa campanha ideal para novas contratações como Antônio Carlos (ainda não regularizado) e Renato Augusto mostrarem o que podem agregar ao grupo campeão da América.

Com o elenco no Uruguai, o Vasco começa o Carioca com um time alternativo, mas vê no zagueiro Capasso e no volante De Lucca exemplos de atletas que precisam de minutos após lesões e têm o Campeonato Estadual como plataforma para rodagem. Também nesta quinta, o clube enfrenta o Boavista.

Fluminense: Antônio Carlos

Antonio Carlos deixou a base do Fluminense em meados de 2010 para dar uma volta pelo mundo. Aos 30 anos, o zagueiro estava no Orlando City, dos EUA, e retorna com uma oportunidade de ouro para se provar no clube. Primeiro reforço anunciado nesta janela, seria uma opção para disputar vaga no setor, mas a venda de Nino ao Zenit, da Rússia, abriu um espaço maior.

Antonio Carlos já está trabalhando no Fluminense — Foto: Lucas Merçon/Fluminense

Manoel só poderá voltar a atuar, depois de ter caído no exame antidoping, no mês que vem. Portanto, Antonio Carlos terá o Carioca para mostrar serviço e se firmar como substituto. Em sua apresentação, disse estar preparado para entrar em uma equipe que foca na construção de jogadas a partir da defesa. Ele começou os trabalhos antes dos colegas e chega ao Estadual em forma. O clube ainda cogita contratar mais um nome para a posição, mas Antonio Carlos larga na frente.

Flamengo: Gabigol

Apesar de ídolo incontestável do Flamengo, Gabigol terá o Carioca para convencer o técnico Tite de que merece espaço no time titular. Após uma temporada de baixo rendimento, com apenas 20 gols em 58 partidas disputadas, o atacante de 27 anos briga por vaga diretamente com Pedro, o preferido do técnico. Bruno Henrique, Luiz Araújo e Everton Cebolinha são outros concorrentes, mas atuam pelas pontas.

Em 2023, o atacante conviveu com lesões e não conseguiu ser decisivo sob o comando de nenhum dos três técnicos da temporada.

Gabigol tem contrato com o Flamengo apenas até o fim de 2024 — Foto: Flamengo/Divulgação

Um bom Estadual também pode pôr fim à novela da renovação do contrato de Gabriel. Com 11 títulos na bagagem, o atacante deseja longo vínculo e aumento salarial. O rubro-negro está reticente quanto aos valores pedidos, mas não quer deixar o jogador livre para negociar a partir do segundo semestre.

Botafogo: Segovinha

"Segovinha joga bola...". A música que tomou conta da torcida do Botafogo no primeiro turno do Brasileirão e ganhou paródia dos rivais com a queda de desempenho do time e do jogador no returno não está mais entre os hits tocados nas arquibancadas do Nilton Santos.

Matias Segova, o Segovinha do Botafogo — Foto: Vitor Silva

O meia paraguaio de apenas 21 anos caiu primeiro nas graças da torcida. Virou xodó. Depois, acabou como alvo da ira de parte dos alvinegros com a perda do título brasileiro. Em um Botafogo que dividirá atenções entre o Estadual e a pré-Libertadores, usando times mistos em muitas rodadas, o jogador pode aproveitar para reconquistar os fãs, o moral e o bom futebol.

É a chance para o camisa 10, jogador insinuante, de velocidade, bons dribles e passes, finalmente marcar seu primeiro gol e fazer, quem sabe, a arquibancada voltar a cantar sua polêmica e divertida canção.

Vasco: Capasso

O zagueiro argentino Manuel Capasso, de 27 anos, foi uma das contratações mais badaladas do Vasco na temporada passada. Com destaque no futebol de seu país, custou pouco mais de R$ 7 milhões e ganhou espaço na reta final do Carioca, mas não conseguiu manter uma sequência até o Brasileiro.

Para piorar a situação, em momento não divulgado pelo clube, sofreu uma grave lesão na coluna, com fraturas na vértebra — problema comparado ao de Neymar na Copa do Mundo de 2014 pelo departamento médico. Ele só voltou a atuar na 36ª rodada da Série A.

Neste ano, Capasso ganhou mais concorrentes na posição — chegaram João Victor e Rojas — e permaneceu no Rio em vez de embarcar para a pré-temporada no Uruguai. O objetivo é ganhar os minutos que faltaram e mostrar as qualidades que chamaram a atenção do Vasco.

Manuel Capasso comemora gol pelo Vasco — Foto: Daniel Ramalho/Vasco

Clubes pequenos


Audax: O volante Jackson Caucaia, de 36 anos, é um dos pilares do time do Audax que foi vice-campeão da Taça Rio no ano passado e conseguiu vaga na Copa do Brasil deste. Experiente, o cearense tem passagens por equipes de peso, como Atlético-MG, Fortaleza e Vasco (atuou em três partidas). Esta será a sua segunda temporada no Audax.

Bangu: Com um elenco de jogadores pouco badalados, a tendência é que o Bangu use bastante a base. A grande aposta é o meio-campista Mateus Bernardo, de 19 anos, que participou de todos os gols da equipe na Copinha. É um camisa 10 clássico – apesar de jogar com a 33 – e que infiltra muito bem na área para finalizar. Ele fez a base no Fluminense.

Boavista: Revelado em 2017 pelo Fluminense, o atacante Matheus Alessandro, de 27 anos, passou a atuar com frequência no futebol carioca nas últimas temporadas, com passagens por Volta Redonda e pelo próprio Boavista, clube que defenderá pela terceira vez na carreira. O Estadual segue como sua desejada vitrine para o futebol nacional.

Madureira: Tido como promissor nas categorias de base do Vasco, o meia-atacante Laranjeira não conseguiu espaço no profissional do cruz-maltino e agora tem a chance de voltar a chamar a atenção pelo tricolor suburbano. Depois de alguns testes no time de cima, chegou a ser emprestado pelo Vasco ao Remo, clube pelo qual fez apenas duas partidas.

Nova Iguaçu: O atacante Carlinhos, de 26 anos, prometia uma carreira brilhante há sete anos, quando defendia a base do Corinthians e foi o artilheiro da Copinha de 2017, com 11 gols. Porém, nunca decolou. Ano passado, teve sua melhor temporada, ao marcar nove gols em 15 jogos — oito pelo Camboriú-SC, na Série D, e um pelo Audax, no Carioca.

Portuguesa: A Portuguesa anunciou uma série de reforços para o Estadual e a Série D, mas um dos principais movimentos foi uma manutenção. O meia Anderson Rosa, de 30 anos, é peça cerebral, habilidosa e importantíssima no meio-campo lusitano. Mesmo atuando mais recuado, marcou duas vezes e deu uma assistência na última edição do Carioca.

Sampaio Corrêa: Pela primeira vez na Série A do Carioca, o Sampaio Corrêa se apoia na experiência de alguns dos seus atletas. Aos 36 anos, Elias, ex-Botafogo, é o principal veterano do elenco. Já rodou o futebol do Brasil e até a China, mas tem dedicado seus últimos anos de carreira ao clube com o qual tem forte identificação. Foi o artilheiro da campanha do acesso.

Volta Redonda: Uma das apostas do time da Cidade do Aço é o atacante Riquelmo (21 anos), que surgiu como destaque no Cruzeiro, em 2020, quando virou profissional. Há dois anos, foi contratado pelo Fortaleza para o Brasileiro Sub-20 e a Copinha, mas não teve espaço no time principal. Rodou por Confiança-SE e Sampaio Correa-MA nas séries C e B.


Fonte: O GLOBO