Hospitais utilizam base de dados digitalizada para transmitir informações às autoridades responsáveis; Nações Unidas afirmam que números são confiáveis

O Ministério da Saúde de Gaza anunciou, nesta quinta-feira, que mais de 30 mil pessoas morreram no enclave palestino desde o início da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas. Mas como a Pasta faz essa contagem? O exército israelense bombardeia Gaza sem trégua desde outubro, em resposta a um ataque sem precedentes ao seu território, que deixou cerca de 1,2 mil mortos, a maioria civis.

Segundo dados do Ministério da Saúde palestino, cujos números são confiáveis pelas Nações Unidas, 79 pessoas morreram em ataques durante a madrugada, elevando o número de mortos para 30.035 e 70.457 feridos desde 7 de outubro. Cerca de 70% dos mortos são mulheres e crianças, de acordo com a mesma fonte.

O conflito foi desencadeado em 7 de outubro, quando comandos islâmicos invadiram o sul de Israel, mataram cerca de 1.160 pessoas, a maioria civis, e sequestraram cerca de 250, de acordo com uma avaliação baseada em dados oficiais israelenses. Em retaliação, Israel lançou uma grande ofensiva aérea e terrestre contra o território palestino.

Em Gaza, os cemitérios estão lotados e não há mais sacos suficientes para embrulhar os corpos. Os moradores enterram seus mortos da melhor forma que podem. Um fazendeiro enterrou seus três irmãos e cinco filhos em seu pomar de frutas cítricas; em outro lugar, as pessoas cavaram uma vala comum em um campo de futebol.

Procedimento digital

Em 26 de outubro, o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, publicou uma lista com os nomes dos 7 mil palestinos assassinados até aquele momento na guerra. O objetivo era demonstrar a confiabilidade desta cifra, depois que o presidente americano, Joe Biden, a questionou. Segundo o Hamas, a lista, que além do nome inclui o sexo e o número de identidade dos mortos, visa a "revelar ao mundo inteiro os detalhes e os nomes para que conheçam a verdade".

— Sabemos que as vítimas civis em Gaza (...) são contadas aos milhares — comentou na ocasião o porta-voz do Pentágono, Pet Ryder.

Um porta-voz do Departamento de Estado americano afirmou, por sua vez, que os números publicados pelo Hamas são usados internamente porque não há outras organizações que façam essa contagem. O funcionário insistiu, no entanto, que estas cifras continuam sendo questionadas.

Em um documento adicionado à lista, o Ministério explicou que nos hospitais do governo, as equipes incluem as informações de cada morto em uma base de dados digitalizada. Estes dados são transmitidos depois ao "registro central dos mártires" do Ministério da Saúde diariamente. Se os mortos estiverem em hospitais particulares, suas informações pessoais são registradas em um formulário especial, enviado "em um prazo de 24 horas" às autoridades.

A Pasta acrescenta, então, os detalhes à sua base de dados e "o centro de informação" se encarrega de verificar os arquivos transmitidos pelos hospitais para "garantir que não contenham informações duplicadas ou erros".

No fim de outubro, a AFP pôde acompanhar o procedimento adotado para fazer a contagem dos mortos no necrotério do hospital Nasser, em Khan Yunis, no sul de Gaza. Um médico legista examinava cada corpo, tirava fotos e anotava o nome e o local onde a pessoa havia morrido.

A partir desta informação fornecida pelos legistas, o escritório de gestão de pacientes preenchia, depois, um formulário com os dados de cada "mártir" antes de introduzi-los em uma base de dados digital. O diretor do hospital, Nahed Abu Taaema, mostrou duas abas de um programa em seu computador. A primeira tinha a lista dos "mártires", os mortos no conflito com Israel. A segunda, a de outros falecidos.

Em 27 de outubro, o diretor da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, afirmou que os números de mortos divulgados pelo Ministério da Saúde nunca foram questionados em conflitos anteriores.

As informações publicadas pelo Ministério também são usadas pela Organização Mundial da Saúde em seus relatórios sobre os Territórios Palestinos.


Fonte: O GLOBO